O jovem dirigente do Partido da Causa Operária (PCO) João Jorge Pimenta, ministrou no último sábado (25), a primeira parte do curso “O Renegado Kautsky”, baseado na obra de clássica “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky”, escrita pelo principal líder da revolução russa, Vladmir Lênin. Um dos maiores revolucionários que já existiu no mundo, Lênin escreveu sua polêmica em resposta ao dirigente do Partido Social Democrata (SPD, na sigla em alemão) da Alemanha, Karl Johann Kautsky (1854-1938). Logo no começo do curso, Pimenta destaca: “em vários momentos, o marxismo lida com polêmicas. Na maioria dos casos, o alvo da polêmica é um verdadeiro idiota, mas aqui não é o caso: Kautsky foi um dos intelectuais marxistas mais importantes da história”, diz. Não se trata de um exagero.
Ingressando na Universidade de Viena com 20 anos, Kautsky se une ao Partido Social Democrata da Áustria no ano seguinte. Dez anos depois, muda-se para Londres, onde conhece Frederich Engels, com quem passa a trabalhar e em 1891, torna-se um dos coautores do Programa de Erfurt, o programa político do SPD. Não é, portanto, um militante qualquer, mas um homem de participação destacada na história do comunismo.
Poucos meses após a primeira revolução proletária da história, Kautsky se torna um importante crítico da política bolchevique, ainda no calor da efervescência revolucionária em marcha na Rússia, em 1918, quando o dirigente do SPD lança “A Ditadura do Proletariado”, contendo críticas aos bolcheviques. Diz Kautsky em sua obra:
“A atual Revolução Russa, pela primeira vez na história do mundo, fez com que um partido socialista se tornasse o governante de um grande império. Um evento muito mais poderoso do que a tomada de controle da cidade de Paris pelo proletariado em 1871. No entanto, em um aspecto importante, a Comuna de Paris foi superior à República Soviética. A primeira foi obra de todo o proletariado. Todos os setores do movimento socialista participaram dela, nenhum se afastou, nenhum foi excluído.
Por outro lado, o Partido Socialista que governa a Rússia atualmente conquistou o poder lutando contra outros partidos socialistas e exerce sua autoridade enquanto exclui outros partidos socialistas do executivo.
O antagonismo dos dois movimentos socialistas não se baseia em pequenos ciúmes pessoais: é o choque de dois métodos fundamentalmente distintos, o da democracia e o da ditadura. Ambos os movimentos têm o mesmo objetivo em vista: libertar o proletariado e, com ele, a humanidade, por meio do socialismo. Mas a visão adotada por um é considerada pelo outro como errônea e passível de levar à destruição.”
Lênin, por sua vez, polemiza com o dirigente do partido alemão atacando o flanco aberto por Kautsky em sua argumentação, sem poupar no sarcasmo: “chamando socialistas aos não bolcheviques da Rússia, isto é, aos mencheviques e socialistas-revolucionários [partidos da esquerda pequeno-burguesa russos da época], Kautsky guia-se pela sua denominação, isto é, pela palavra e não pelo lugar efetivo que ocupam na luta do proletariado contra a burguesia”, diz e acrescenta, ironizando: “bela maneira de conceber e aplicar o marxismo!”
No curso, Pimenta retoma a história do movimento comunista, explicando a origem das classes sociais existentes no mundo contemporâneo desde a Idade Média até o advento da Revolução Francesa (1789), para explicar o fracasso da Comuna de Paris (1871). Embora derrotada, a tentativa dos trabalhadores franceses de derrubar a ditadura burguesa e estabelecer a ditadura do proletariado marca o apogeu da burguesia como classe dominante, isto é, o ponto máximo, a partir do qual, o capitalismo (sistema econômico desta classe) tende ao declínio.
“Apesar de estarmos no momento de ápice, o capitalismo terá um desenvolvimento mais ou menos tranquilo por um período, de desenvolvimento das forças produtivas, levando Marx e Engels ao entendimento de que é preciso uma nova estratégia. A tarefa do momento é formar partidos socialistas e estabelecer a luta por reformas. Como o capitalismo não atingiu um ponto de crise indicando que está apodrecido o bastante para o proletariado tomar o poder, a tarefa é preparar o proletariado, intervir na democracia burguesa e lutar por reformas, melhorias trabalhistas como salários maiores e jornada de trabalho limitadas, etc.”, destaca Pimenta.
Nessa conjuntura é que se organiza o partido social-democrata alemão, com o chamado programa mínimo e o programa máximo. O primeiro, atento a estratégia estabelecida após a derrota da Comuna de Paris, ou seja, a luta por reformas que impulsionem a força dos trabalhadores, ao passo que o programa máximo seria voltado “para a batalha final”, quando chegar o momento de tomar o poder.
Disto resulta todo o processo histórico que vai desembocar na polêmica travada entre Kautsky e Lênin. No domingo (26), o Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP) sedia a última parte do curso “O Renegado Kautsky”. As aulas serão ministradas a partir das 10h, fazendo uma rápida pausa para o almoço, entre 13h e 14h, para então finalizar o curso no mesmo dia.
Quem está em São Paulo ou na região metropolitana pode se inscrever e assistir o curso presencialmente, na rua Conselheiro Crispiniano, 73, República (a poucos metros da estação Anhangabaú do Metrô). Interessados que não conseguem deslocar-se para o local de realização da aula, podem acompanhar a parte final do curso no sítio da Universidade Marxista, podendo ver e rever as aulas, conforme sua disponibilidade.
