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Marcelo Marcelino

Membro Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD) nacional, sociólogo, economista e cientista político, pesquisador do Núcleo de Estudos Paranaenses – análise sociológica das famílias históricas da classe dominante do Brasil e membro do Partido da Causa Operária – Curitiba.

Coluna

A importância das famílias históricas da classe dominante

O presente artigo procura elucidar o fenômeno do poder político e econômico a partir da explicação sociológica que envolve as famílias históricas da classe dominante

Uma agenda de estudos e pesquisas no Brasil que procure elucidar o fenômeno do poder político e econômico a partir da explicação sociológica que envolve as famílias históricas da classe dominante passa a ser a provocação, ao menos embrionária desse artigo.

O processo de dominação no sistema capitalista dependente brasileiro está sob o controle de famílias históricas da burguesia nacional a partir da colonização em conluio com o imperialismo. Significa afirmar que a classe dominante controla o poder político desde os três poderes (legislativo, executivo e judiciário) e demais instituições no interior da administração pública e as empresas estratégicas do Estado. O controle político dos aparelhos de Estado é uma condição dos ditames do imperialismo e da burguesia nacional para o controle da economia do país. As empresas privadas dos diversos segmentos estão intimamente imbricadas com o Estado brasileiro, principalmente as grandes empresas nacionais e suas relações de proximidade e dependência dos grandes conglomerados econômicos e financeiros transnacionais, em especial no presente da globalização econômica e financeira neoliberal. As políticas públicas, a máquina tecnocrática estatal e as instituições estratégicas do poder político estão sob a égide macroestrutural do imperialismo, onde as famílias históricas da classe dominante controlam em nível local, provincial e nacional os espaços de poder; muitas vezes em parceria com sócios globais do poder universal. Como esse processo pode ser explicado pelo controle da burguesia  através dessas famílias da classe dominante historicamente; seja pela via do controle dos aparelhos de Estado e/ou se associando com organizações privadas, é o desafio dessa discussão embrionária, levando sempre em consideração aspectos macroestruturantes. A necessidade da compreensão desse fenômeno sociológico aumentou, em parte, devido as últimas revelações de dados estatísticos que demonstram o aumento e a concentração brutal da riqueza no mundo e no Brasil. Compreender a concentração de renda no Brasil passa necessariamente pelas famílias históricas do poder e mais recentemente pelas famílias denominadas de “emergentes” que datam principalmente entre a transição oligárquica fundiária e a metamorfoseada burguesia da década de 1930 e também como marco temporal o pós-Segunda Guerra Mundial com o aumento da imigração com maior intensidade. As instituições jurídicas, políticas, a administração pública e as empresas estratégicas do Estado brasileiro estão repletas de exemplos de que o nepotismo, o compadrio e as relações de permutas políticas entre as diversas frações da classe dominante fazem parte do cotidiano das práticas políticas e econômicas no Brasil. As estratégias de casamento e de diversos vínculos de parentesco entre as famílias históricas do poder e outras recém-chegadas contribuem muito frequentemente, ainda no presente, para a construção dos grupos políticos e econômicos dominantes no país. A gênese do processo de concentração de renda e riquezas no Brasil pode ser encontrada nas pesquisas e nas abordagens teóricas sobre o tema, onde as famílias aparecem como detentoras de Revista Direitos, trabalho e política social, CUIABÁ, V. 8, n. 15, p. 240-263 jul./dez. 2022 244 terras, cargos na administração pública e negócios relacionados à escravidão, mineração e demais formas de exploração da natureza desde o período  colonial. A construção da economia política no Brasil evidentemente não se desenvolveu como na Europa e mais tarde nos EUA, mesmo porque não havia na fase colonial brasileira agrupamentos sociais e as condições materiais capazes de romper com a ordem agrária escravocrata vigente, como nas revoluções industriais a partir de uma burguesia que estava sendo gestada anteriormente.

Portanto, a economia política no Brasil até recentemente se baseou na pilhagem e na devastação colonial até o final da Primeira ou da Velha República. As formas de governo se modificaram assim como os sistemas de engrenagens econômicas, mas as estratégias de controle e dominação do poder político e econômico por parte da classe dominante se adaptaram perante as conjunturas e as estruturas organizacionais do sistema capitalista dependente no Brasil.

A pobreza e a desigualdade econômica e social no Brasil foram produzidas pelas decisões de poder da classe dominante, onde as famílias históricas detêm o controle e o domínio dessas políticas de exclusão social permanente da grande maioria e de manutenção e reprodução da concentração de poder por parte dessa classe social privilegiada.

Desde as primeiras etapas do seu desenvolvimento até hoje o Brasil permanece sendo controlado por elites políticas e por uma burguesia nacional e estrangeira, seja tradicional como recente, mas que tem em comum conexões multifacetadas e dinâmicas entrelaçadas ao longo da história e também no espaço de influências em diversos setores do capitalismo. Estabelecer algumas abordagens históricas e sociológicas explicativas para a discussão a partir de uma teoria densa que remete as origens do marxismo contribui para pavimentar, inclusive, um longo percurso de complexas lutas contra a burguesia nacional e o imperialismo.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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