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José Álvaro Cardoso

Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Economia Rural pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Ciências Humanas pela UFSC. Trabalha no DIEESE.

Coluna

A fundação de ‘Israel’ é uma obra do imperialismo

"Mesmo com toda a organização do movimento sionista, os judeus não conseguiriam instalar Israel sozinhos"

O Irã lançou um ataque aéreo maciço contra Israel na madrugada de domingo, como retaliação ao ataque que Israel fez à embaixada do Irã, em Damasco, Síria, no dia 1º de abril. Segundo as informações das Forças de Defesa Israelita (IDF) foram mais de 200 alvos, incluindo drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos. Segundo ainda a Força Armada de Israel, 99% dos mísseis e drones foram interceptados pelas forças do país, forças americanas e jordanianas. Foi um ataque histórico ao território israelense, que não ocorria desde a Guerra do Yom Kippur, entre 6 a 25 de outubro de 1973, entre Israel e uma coalizão de países árabes. A ação do Irã, uma resposta equilibrada a um fato inédito do ponto de vista diplomático, necessariamente terá desdobramentos, com risco inclusive de uma escalada da guerra no Oriente Médio. Nesse contexto histórico, no qual os últimos acontecimentos tendem a mudar bastante a correlação de forças na Região, vale a pena conhecer um pouco da história de fundação do Estado de Israel.  

Há uma guerra –  a Primeira Guerra Árabe – israelense, entre 1948 e 1949 – como retaliação das nações árabes pela criação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948. Mas é uma guerra, literalmente para inglês ver. Por exemplo, a Jordânia já havia costurado com os sionistas, por debaixo do pano, para eles tomarem conta do que hoje é a Cisjordânia. A Jordânia entrou no conflito, tomou conta da Cisjordânia e pronto, não fez mais nada.  

O Egito entrou também na guerra com pouca determinação e intensidade. O país anexou a Faixa de Gaza. Suas forças armadas tiveram um ou outro enfrentamento militar com os sionistas. Mas fica claro que não houve nenhuma tentativa de confrontar os sionistas em relação à ocupação. Os árabes entraram nas duas regiões onde a população era quase que totalmente palestina e deixaram os sionistas tomarem conta do território.  O que aconteceu, é que a ocupação pelos sionistas de boa parte da Palestina acabava com qualquer possibilidade de constituir uma nação palestina. Uma parte dos palestinos se tornou parte do Egito, uma outra parte se tornou parte da Jordânia e Israel tomou a maior parcela do território. 

Com o forte apoio dos Estados Unidos, Israel derrotou seus adversários, ocupando os territórios da Galileia, o Deserto de Negueve e a Cisjordânia, a oeste do rio Jordão. Jerusalém foi dividida em duas partes: a parte ocidental, pertencente a Israel, e a oriental, a Jordânia. A Faixa de Gaza ficou sob o comando do Egito. Ao final da guerra, em 7 de janeiro de 1949, Israel conseguiu aumentar o seu território em cerca de 1/3. Para os palestinos, o conflito foi um verdadeiro desastre. Perderam grande parte do território atribuído a eles pela ONU. Além disso, essa guerra gerou um episódio que é conhecido pelos palestinos como Nakba (tragédia). O Nakba consiste na expulsão de quase 800 mil palestinos de suas terras.

Calcula-se que, durante os meses da guerra, os israelenses tenham destruído cerca de 530 vilas palestinas. Essa população de palestinos refugiados espalhou-se por diferentes partes do mundo. Atualmente, com os descendentes daquela geração de 1948, estima-se que sete milhões de palestinos estão refugiados de sua terra. Israel até hoje não aceita o retorno dessas pessoas para a Palestina. A expulsão desse número impressionante de palestinos de sua terra, deu origem à chamada “Questão Palestina”, uma luta pela recuperação do território. 

A famosa “guerra” contra poderosos países árabes, ou “um novo holocausto” que os judeus teriam enfrentado a partir da fundação do estado judeu, como tentaram vender em termos históricos, é pura propaganda, sem a menor base na história. Em março de 1949, o número de soldados de Israel é 117 500 (inclui todos os militares, unidades de combate e logística). O Exército de Libertação Árabe tinha entre 3 500–6 000. E o exército sionista era muito melhor preparado, tinha sido treinado pelos ingleses, além de contar com armas sofisticadas da potência militar da época, os EUA. 

No final da segunda guerra, o império britânico entra em uma fase de decadência econômica. Os ingleses, meio que fazem um acordo com os americanos, eles passam a bola das funções imperialistas para os norte-americanos. Até hoje os ingleses são muito próximos dos norte-americanos na região. O certo é que, a partir do final da segunda guerra, os EUA assumem a responsabilidade no caso da Palestina. O processo de construção do estado de Israel é formalmente dirigido pela ONU. 

Não houve democracia no processo de construção do Estado de Israel.  A maioria que morava na região deveria ter decidido. O normal seria a ONU chamar todo mundo e a maioria determinar que iria acontecer, afinal quem mora no local é que deveria decidir sobre a construção de um estado sobre um território ocupado por pessoas, há séculos. A ONU ignorou este princípio, tendo tomado a decisão de dividir a Palestina em dois países, uma parte para os judeus, outra para os palestinos. Os Palestinos, que naquela altura tinham 2/3 da população, ficaram com menos da metade do território, que era deles. Ademais, dividiram o mapa da Palestina para favorecer os judeus, o plano obedeceu ao plano estratégico dos sionistas. Os judeus ficaram com o Norte, com o Sul, uma boa parte da costa marítima. Ficaram com quase 60% do território, sendo que a população palestina no território era cerca de 70% do total. 

Os árabes rejeitaram a proposta da partilha da ONU, só que os árabes não tinham comando central. Os israelenses tinham e estavam organizados. Israel também não estava satisfeito com a divisão feita pela ONU através da Resolução 181 de 1947. Mas o importante para os sionistas era o reconhecimento internacional do direito dos judeus terem um estado para si na Palestina. Ben-Gurion, o principal líder dos sionistas, que dirigiu o movimento entre 1920 e 1960, dizia o seguinte: as fronteiras do estado judeu na Palestina serão determinadas pela força, não pela Resolução de Partilha, da ONU. 

Os governos árabes todos eram dependentes dos ingleses. Por exemplo, o grande fornecedor de armas para os países árabes era a Inglaterra. Como vai fazer guerra nessas condições? Um problema da análise política e historiográfica, é que o pessoal se confunde muito com a propaganda dos atores envolvidos. Muitas vezes falta a perspicácia dos pesquisadores, para entender as “entrelinhas” das narrativas históricas. E o imperialismo é especialista em simulações. Estamos vendo isso agora, nos acontecimentos em Gaza. O governo de Israel mente, descaradamente, o tempo todo. Quem acreditar nas mentiras do governo de Israel, que são amplamente disseminadas pela grande imprensa, está literalmente roubado. 

Em grande medida o que havia na guerra de 1948 e 1949, em termos de postura dos países árabes, permanece hoje. Diferentemente do povo desses países, que se comove e tem se manifestado contra o genocídio em Gaza, os governos árabes têm mantido uma posição dúbia e dissimulada. O nível de dependência destes países em relação ao imperialismo é muito grande. O fenômeno em parte está ligado ao fato de que são países muito atrasados economicamente, que vivem basicamente da extração de petróleo. Como se sabe, o nível de independência do país vai depender de sua economia. A Arábia Saudita, por exemplo, é uma monarquia hereditária, do tipo a que existia na idade média. O país mais desenvolvido na Região é o Irã. Tem pesquisas sofisticadas, tem certa indústria. Possui desenvolvimento tecnológico, inclusive na área bélica, como pudemos verificar no ataque a Israel no dia 13 de abril. 

Na Palestina o processo de colonização a partir de 1948, foi muito difícil. Se os ingleses não tivessem esmagado completamente a resistência palestina na guerra de 1936-1939, a operação seria inviável. Houve um esforço muito grande dos países imperialistas, para viabilizar a fundação do estado de Israel, porque foi operação muito artificial, escorada no dinheiro dos banqueiros ingleses. Por que executaram essa missão tão complexa? Porque o imperialismo queria estar lá em função dos seus interesses estratégicos por rotas de comércio e petróleo. 

Mesmo com toda a organização do movimento sionista, os judeus não conseguiriam instalar Israel sozinhos. O grande autor da façanha foi o imperialista britânico e depois os EUA. Foi uma ação mais do imperialismo, e menos dos sionistas. Fizeram isso por causa de petróleo, que o imperialismo já sabia que era uma substância fundamental para o desenvolvimento dos países. O dinheiro que ganharam com petróleo nesse meio tempo, não há economista que possa calcular.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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