No artigo O cavalo Caramelo, publicado pelo portal A Terra é Redonda, o articulista Leonardo Boff, ideólogo da chamada teologia da libertação, se mostra extremamente comovido com a imagem de um cavalo em cima do telhado de uma casa em meio às enchentes no Rio Grande do Sul. O tal cavalo foi, na verdade, vítima de uma grande operação de propaganda organizada pelo Rede Globo, por empresários como Felipe Neto e pela primeira-dama, Rosângela “Janja” Lula da Silva.
Assim Boff descreveu toda a operação:
“Cena impactante e comovedora: ao redor só águas turvas das enchentes, casas encobertas até o telhado, e eis que sobre um telhado desponta um cavalo: dois pés de um lado e outros dois no outro da cumieira da casa. Quedou-se aí, impassível, por 2-3 dias, noite e dia, sem poder mover-se. Qualquer movimento poderia fazê-lo escorregar e se precipitar no mar de águas barrentas. Teria morrido afogado.
O cavalo representa uma metáfora da resiliência, da esperança esperante de salvamento por uma alma compassiva; metáfora também da natureza que posta sob risco de desaparecer, teima em ficar se sustentando com suas próprias forças. Outra metáfora, e esta, sinistra, da incúria humana que permitiu as águas se rebelarem e destruírem tudo o que encontrava pela frente: pessoas, casas, animais, igrejas, escolas, universidades, museus. A fúria das águas parece não se importar com tudo o que os seres humanos com suor e luta tenham construído”.
A ideia de apresentar a imagem de um cavalo ilhado como algo digno de uma grande comoção é muito negativa. Se o cavalo fosse o único ser ilhado no mundo, Boff tinha o direito de se comover com isso. Demonstraria, assim, uma sensibilidade condizente com o cristianismo que ele prega. Afinal, São Francisco de Assis, considerado um dos mais devotos e um dos mais humanistas entre os seguidores de Jesus Cristo, defendia a proteção dos animais.
No entanto, a preocupação com o cavalo Caramelo, como ficou chamado o animal, em meio à morte de centenas de pessoas é um verdadeiro escândalo. É fazer parte de uma operação política que visa justamente ocultar toda a destruição e todo o sofrimento que as enchentes causaram.
O próprio São Francisco de Assis, hoje considerado o padroeiro dos animais, nunca deixou de lado o sofrimento humano. Mais que fazer demagogia com um cavalo, o devoto se destacou por atuar junto aos leprosos, pessoas que eram excluídas da sociedade e abandonadas à morte. Ao chorar por um cavalo em cima do telhado quando centenas de milhares de pessoas estão sem um teto é o oposto disso: é na verdade, um sinal de uma profunda desumanização.
Essa desumanização, que aparece disfarçada de preocupação com a natureza, é semelhante ao que se vê na Faixa de Gaza. Enquanto 15 mil crianças são, literalmente, assassinadas, os sionistas fazem uma campanha em torno da libertação de uma centena de “reféns”. Isto é, para eles, a vida dos palestinos não tem importância alguma.
A desumanização presente na consideração de Leonardo Boff é um reflexo da própria crise capitalista. Na medida em que o imperialismo parte para conflitos cada vez mais monstruosos, impondo as situações mais degradantes para a raça humana, vêm à tona ideias como essa, que servem tão somente para justificar a selvageria da atual etapa do capitalistmo.