O Partido dos Trabalhadores (PT) retornou ao governo federal nas eleições de 2022 após ter sido derrubado em 2016, por meio de um golpe, deste mesmo posto, quando Dilma Rousseff respondeu por um processo ilegal e, daí para frente, a polarização no país só aumentou, resultando na eleição fraudulenta de Jair Bolsonaro em 2018. Com Lula preso, o apoio da burguesia e sua imprensa, ficou fácil para o atual representante da direita brasileira ser eleito em 2018.
Ocorre que a polarização política, que teve seus sintomas representados pelas eleições de 2022, super apertadas, não foi resolvida somente com a vitória de Lula. Nem mesmo os achaques autoritários do Supremo Tribunal Federal (STF) contra os bolsonaristas podem resolver essa questão eminentemente política. Prisão dos manifestantes de 8 de janeiro de 2022, processos de censura e outras medidas penais surtiram efeito reverso.
O problema do PT é que, após a tomada de posse do governo federal, Lula foi coagido pela direita espalhada no resto do Brasil e dentro do próprio partido, como os identitários, a fazer ou deixar de fazer uma série de coisas, no que resultou, por exemplo, na declaração do Itamaraty sobre as eleições na Venezuela. Tal declaração foi denunciada, corretamente, por Nicolás Maduro como sendo um documento redigido pelo imperialismo norte-americano.
O mesmo se deu quando a ação do Hamas e outras organizações de luta palestinas, no 7 de outubro de 2023, contra o sionismo, quando Lula condenou publicamente as ações do grupo, acusando-as, tal como o restante do mundo capitalista, como sendo terroristas.
No terreno nacional toda uma gama de ações repressivas foram desatadas pelo governo federal, indo do recrudescimento da repressão contra os detentos, em razão do caso dos fugitivos de Mossoró (RN), ao decreto que abre a possibilidade de privatização dos presídios brasileiros.
Somente sobre o caso Mossoró, o ministro da justiça Ricardo Lewandowski anunciou que iria suspender, nos presídios federais, os banhos de sol, as visitas sociais e de atividades de assistência educacional, laboral e religiosa, no que acabou se tornando um projeto de lei, já aprovado pelo Congresso Nacional, que visa acabar com tudo isso e muito mais. Projeto que foi para sanção presidencial.
No que toca à privatização dos presídios o problema é relativamente simples. Para cada preso, mais dinheiro para quem é dono de presídio. O resultado, que deveria ser óbvio para qualquer pessoa minimamente instruída, é que haverá uma onda jamais vista de prisões realizadas pela força repressiva, agora nas mãos dos empresários.
As medidas direitistas do governo PT são resultado de uma capitulação diante da pressão que está sendo feita contra Lula. O que é natural, posto que, como dito acima, a eleição não resolveu, e nem poderia resolver a polarização política brasileira.
Ocorre que a tentativa de se mostrar mais direitista só tem esse resultado: cair no colo da direita. Tal como está o país, é impossível servir gregos e troianos, se manter ao centro, tentar agradar a toda opinião adversa. O PSDB já comprovou isso e agora assiste o esvaziamento do partido que pode, em breve, levar ao seu fim.
Essa tentativa, de você se mostrar mais direitista para os golpistas, tem o objetivo de mostrar para eles que não precisam se organizar para derrubar novamente o governo, como fizeram em 2016. De que não precisa de resistência, de que estamos “todos juntos no mesmo barco”, e que, se eu ajudo aqui você me ajuda ali. Mas o problema é que essa política é justamente o que fortalece a direita de conjunto e não tem como dar certo, como não tem dado. Nenhum interesse popular será consagrado com essa política. O pior é que é uma política que revela uma fraqueza gigantesca e uma incapacidade total de colocar em prática os mínimos direitos populares.
O que entrega essa política, na verdade, é a questão palestina. Em vários países as manifestações em defesa dos palestinos são gigantescas. O mundo inteiro está contra “Israel” e os sionistas. O Brasil está também, pelo menos o povo brasileiro. Mas a esquerda, especialmente o PT, não consegue e nem quer chamar manifestações que denunciem este problema, que denunciem o maior genocídio do século XXI. E isso em razão do mesmo fato acima, para não desagradar determinados interesses da direita, especialmente em ano eleitoral.
Além de fraqueza, isso também revela uma covardia enorme e vergonhosa, pois o PT tem a plena capacidade de organizar manifestações enormes em defesa dos palestinos, bastando, para isso, mobilizar sua base. São milhares de sindicatos nas mãos do partido, e cada sindicato desses tem milhares de pessoas na base, fora as prefeituras do partido, vereadores, associações, enfim. É escandalosa a paralisia do PT neste caso.
Para evitar novos golpes, para tentar aprovar alguma coisa de interesse do partido e do povo, o PT vai dando passos à direita com o intuito de acalmar este setor, e o resultado disso será só uma completa falência ideológica do partido, o que é relativamente fácil comprovar. Basta ver o fracasso total dos atos do dia 23 de março e os atos em defesa da Palestina, que não saem da casa da centena de manifestantes em São Paulo.
