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Enchentes no Rio Grande do Sul

A culpa não é da humanidade, mas da política neoliberal

Esquerda se confunde com a propaganda imperialista e acredita nas teses estapafúrdias sobre as "mudanças climáticas"

O professor Aldo Fornazieri publicou um artigo de opinião na revista Carta Capital chamado A era das catástrofes. No texto, o autor segue a linha majoritária da burguesia sobre a catástrofe no Rio Grande do Sul:

“Vivemos uma era de eventos catastróficos que só tendem a se ampliar e se intensificar. Mesmo assim, os governantes e as sociedades se comportam como ébrios delirantes que caminham alegremente para o abismo.”

Caberia à sociedade não agir como “ébrios delirantes”. Ou seja, a culpa é dos governos, mas é principalmente de toda a sociedade. Na verdade, a culpa é da humanidade:

“Não existem mais dúvidas científicas de que essa era é provocada pela ação depredadora dos seres humanos. Catástrofes ambientais ocorreram no passado, mas, pela primeira vez na história do planeta, as violentas mudanças ambientais são provocadas pelas ações humanas.”

Essa é a tese oficial da burguesia para o que está ocorrendo, por isso Fornazieri repete que “não existem dúvidas científicas”. Existem muitas dúvidas científicas, o problema é que a burguesia controla as opiniões científicas e impede que outras opiniões sejam difundidas.

O que é incrível é que uma pessoa de esquerda acredite em tudo o que fala a burguesia. A própria formulação é estapafúrdia: “catástrofes ambientais sempre ocorreram, mas pela primeira vez a culpa é dos homens“. Quem disse? Por quê? Como? E a culpa antes era de quem? O que mudou?

Fornazieri só repete o que vemos espalhado por aí nos jornais burgueses. 

“O antropocentrismo tem gerado o caminho de uma mudança de era geológica, caracterizada como Antropoceno. Embora o Comitê da União Internacional de Ciências Geológicas, em votação realizada em fevereiro de 2024, tenha recusado reconhecer a presente era como Antropogênica, muitos cientistas e pesquisadores argumentam que as evidências e as marcas das ações humanas no planeta legitimam a adoção da tese.”

Ora, mas se a tese da era Antropogênica foi recusada, significa que há opiniões diferentes. Mas Fornazieri prefere repetir o que diz a Globo.

Por que a Globo gosta da tese de Fornazieri? Justamente porque é muito mais fácil colocar a culpa na “humanidade” do que no governo tucano do Rio Grande do Sul de Eduardo Leite. Se há “humanos” responsáveis pela catástrofe no estado, são os que fazem parte do governo que colocaram em marcha uma política de devastação neoliberal.

Justamente porque já aconteceram outras catástrofes é que essa política desastrosa fica desmascarada. Se o governo gastasse com o povo e não com os bancos, teria evitado ao menos a maior parte do estrago.

“Antropoceno”, “verdades científicas”, “culpa da humanidade”, tudo isso serve apenas para esconder a política criminosa da burguesia neoliberal.

“O modo de produção capitalista, com suas variantes, é a causa principal da destruição ecológica e da degradação socioambiental”. Sim, o capitalismo é a causa principal, mas não esse capitalismo abstrato. O capitalismo é a política neoliberal aplicada pelos governos burgueses. Falar em capitalismo abstrato não explica nada.

Ao final do artigo, Fornazieri afirma: “o próprio governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem patrocinado ações de teor criminoso contra o meio ambiente. Nos últimos anos, promoveu cortes absurdos no orçamento da Defesa Civil e nos projetos de resposta a desastres ambientais“.

Esse é o problema, e não nenhuma questão abstrata sobre o clima. O problema não é essa ou aquela concepção sobre a natureza e o meio ambiente. O problema são as políticas colocadas em prática pelos governos, a mando dos parasitas especuladores.

Como bem disse Fornazieri, as catástrofes sempre existiram, mas, diferentemente, de antes, o mundo teria condições muito melhores de reduzir o impacto sobre as pessoas. O problema é que os capitalistas não permitem que sejam feitos gastos para ajudar o povo. E aí, confundem todo mundo colocando a culpa em entidades abstratas: o “antropoceno”, “as mudanças climáticas”, o “negacionismo” e até o capitalismo cuja crítica abstrata não incomoda nenhum capitalista.

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