No dia 18 de maio, a atual presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, anunciou seu veto ao projeto de lei contra a “influência estrangeira”, que visava criar mecanismos de fiscalização sobre a atividade das Organizações Não Governamentais (ONGs). O projeto havia sido aprovado pelo parlamento no dia 13 de maio, e recebeu o apoio do partido governista Sonho Georgiano.
“Hoje, eu veto […] a lei, que é essencialmente russa e que contradiz nossa Constituição e todas as normas europeias. Portanto, representa um obstáculo ao nosso caminho europeu”, declarou, em pronunciamento, a presidente do país.
Localizado na região do Cáucaso, onde também estão a Armênia e o Azerbaijão, a Geórgia é um dos muitos países que fazem fronteira com a Rússia. Neste sentido, é constantemente aliciado pelo imperialismo com o objetivo de provocar o maior país em extensão territorial do planeta. Apontada como uma figura cada vez mais “pró-União Europeia”, Zurabishvili vem entrando em choque com os setores do próprio regime georgiano que não veem com bons olhos uma política de hostilidade a Moscou.
O projeto em questão, longe de ser uma lei “essencialmente russa”, é, na verdade, uma lei de proteção à soberania nacional. Aprovado com 84 votos favoráveis no parlamento, ele exige que as ONGs e os veículos de imprensa que recebem mais de 20% de seu financiamento do exterior se registrem como órgãos que servem aos “interesses de uma potência estrangeira”. Também os obriga a apresentar demonstrações financeiras anuais sobre suas atividades, e concede ao Ministério da Justiça poderes para monitorar a aplicação da lei.
De fato, a Rússia chegou a tomar iniciativas semelhantes – e, inclusive, mais agressivas. Mas não por acaso. É mundialmente conhecida a atuação de ONGs financiadas pelo imperialismo para a desestabilização de regimes considerados inimigos. A chamada “revolução laranja”, na Ucrânia, que consistiu, na verdade, em um golpe de Estado fascista, teve nas ONGs um papel central. Essas mesmas ONGs também desempenharam um papel importante na tentativa recente de derrubada do governo do Cazaquistão, que possui boas relações com a Rússia.
A disputa em torno da fiscalização da atividade das ONGs extrapola a crise entre o parlamento e a presidência. Há mais de um mês, protestos vêm contestando, nas ruas, o projeto aprovado pelo parlamento. Os protestos são a prova prática do perigo que as ONGs representam: eles próprios são organizados pelas ONGs, resultando em uma interferência direta de países estrangeiros no funcionamento do regime georgiano.
Considerando o histórico recente, tais protestos poderão levar a uma “revolução colorida”. Isto é, a um golpe de Estado travestido de revolta popular.
Para o Comandante Robinson Farinazzo, em declaração durante o programa Análise Internacional, do Diário Causa Operária, estaria em marcha um “Maidan 2.0”. Isto é, a “revolução laranja” ucraniana. “E a Geórgia pode acabar muito mal. Nós precisamos lembrar que, em 2008, a Geórgia foi à guerra com a Rússia, com resultados catastróficos para a Geórgia: perdeu a Abecásia, perdeu a Ossétia do Norte“, lembrou o analista militar. “Mas esse caso da presidente da Geórgia é um caso típico de como o imperialismo opera aí com seus agentes. Uma mulher que foi embaixadora da França chegar à presidência de um país, quer dizer, a Geórgia é um não-país praticamente, né?“, finalizou.
No mesmo programa, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, afirmou que a crise na Geórgia deve ser vista no marco do clima crescente de antagonismo militar entre Rússia, Irã e China e o imperialismo. “Todo mundo está preparando o jogo, na minha opinião, para a eventualidade de um enfrentamento militar. Então, a gente vê a tentativa de assassinato do primeiro-ministro da Eslováquia, vemos a mudança de governo em vários países, o golpe no Congo. Tudo isso, na minha opinião, é que os dois lados em conflito estão armando o jogo para um eventual enfrentamento militar“.