Em artigo intitulado Entre o chilique de Musk e a hipocrisia da suposta defesa da soberania do governo: qual a saída para as big techs?, publicado pelo portal Opinião Socialista e assinado por Diego Cruz e Julio Anselmo, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), ao comentar a recente crise entre o dono do X, Elon Musk, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirma:
“Por fim, a saída para o problema das Big Techs não está no STF ou no PL das fake news. Nessa briga entre Alexandre de Moraes e Elon Musk, se não podemos escolher ‘o lado’ do bilionário, como certa seita exótica fez, tampouco podemos confiar na Justiça ou no Congresso Nacional.”
A “seita exótica” a que o PSTU se refere seria o Partido da Causa Operária (PCO), que se destacou em toda a imprensa nacional por sua posição em relação à crise supracitada. Para o PSTU, o PCO seria “exótico” porque não repete, como um papagaio, o que a Rede Globo, a Folha de S.Paulo e Joe Biden dizem. Como os autores do artigo vivem em um ambiente onde todos acham chique pensar como a grande imprensa pensa, o PCO seria “exótico”.
Para o PSTU, por exemplo, o PCO seria “exótico” porque não está lado a lado com a CIA, a OTAN e os batalhões nazistas ucranianos na guerra contra a Rússia. Para o PSTU, o PCO seria “exótico” porque não se juntou à campanha de calúnias que visam à desestabilização do governo venezuelano. Ora, se William Bonner diz a Diego Cruz e Julio Anselmo todos os dias que a Nicarágua é uma ditadura, então é por que há de sê-lo!
Para o PSTU, fazer política é repetir o que diz a grande imprensa. Mas, se isso é fazer política, para que, então, formar um partido de esquerda? Não já bastam o PSDB, o União Brasil, o MDB e todos os partidos de direita para fazerem propaganda das ideias reacionárias da burguesia? É por essa incompreensão que o PSTU, além de chamar o PCO de “exótico”, chama de “seita”. Para Diego Cruz e Julio Anselmo, não caberia a um partido revolucionário desmascarar as mentiras da classe dominante. Pelo contrário: quem o faz são “seitas”, são “lunáticos”, são “fãs da teoria da conspiração”. Não por coincidência, é a mesma coisa que a direita diz toda vez que se vê diante de uma denúncia.
Voltando agora ao trecho citado, chama bastante a atenção a acusação que o PSTU faz de o PCO ter escolhido “o lado” de Elon Musk. Isso apenas mostra que, para o PSTU, a política seria um mero joguinho de “escolher lados”.
Do ponto de vista da política burguesa, pode até ser que seja assim. Quem fica do lado de “fulano”, caso “fulano” vença uma eleição, é contemplado com um cargo. Quem ficou do lado de “ciclano”, por outro lado, acaba ficando de mãos vazias. A não ser que “mude de lado” e, assim, acabe sendo recompensado.
Acontece que a luta política vai muito além de “escolher um lado”, assim como os interesses da classe operária nada têm a ver com almejar um cargo. A luta da classe operária é por seu programa, de modo que “o lado” do qual ela sempre deve estar é “o lado” de seu programa. Toda conquista de um aspecto de seu programa é uma conquista para a revolução. E toda conquista para a revolução é uma conquista para a classe operária. É assim que as coisas funcionam.
Se a classe operária vive em um regime onde não há direito de greve e conquista esse direito, é uma conquista para o seu programa. A luta avançou. A organização poderá avançar. Não importa que “lados” estivessem, circunstancialmente, envolvidos naquela disputa.
Nesse sentido, o PCO não escolheu “o lado” de Elon Musk, porque escolheu, na verdade, “o lado” de seu programa. O Partido sempre defendeu as liberdades democráticas da população e sempre criticou a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF). Desde antes, mas, principalmente a partir de 2021, quando Alexandre de Moraes começou a sua perseguição aos bolsonaristas, inaugurada na prisão de Daniel Silveira, o PCO tem criticado o ministro.
Não se trata “do lado” de Musk. Esse é o lado do PCO. É a defesa do que sempre defendeu, é a defesa de seu programa. Se outra força política, ainda que inimiga, o defenda, não haveria porque o abandonar – tal coisa seria absurda.
O PSTU é incapaz de entender isso, no entanto, porque, como dissemos, é um partido que não tem programa. Ou melhor, tem: a Rede Globo. O que os representantes dos grandes capitalistas disserem, é lei. O PSTU dirá “sim, senhor”.
