A Guerra Civil libanesa deve ser entendida como uma enorme operação do imperialismo para exterminar os palestinos e sua resistência. É uma história de massacres, a maioria deles pouco ou nada conhecidos.
O massacre mais conhecido é o dos campos de Sabra e Chatila, quando o Exército de “Israel”, que estava no controle dos campos logo após a retirada da Resistência Palestina do Líbano e, portanto, no desarmamento dos palestinos, fez um acordo com a milícia fascista cristã maronita, Falange Libanesa, para que essa realizasse um brutal massacre que resultou em cerca de 3.500 mortos.
No entanto, durante os anos de Guerra Civil, provocada pelo imperialismo para expulsar a Resistência Palestina, houve muitos massacres. Antes mesmo de Sabra e Chatila, houve o sangrento massacre de Tal Zaatar.
O massacre ocorreu sob a cumplicidade não apenas de “Israel”, mas das Forças Sírias que haviam invadido o Líbano.
Em 1976, após quase um ano de guerra, o governo sírio interveio diretamente no conflito. O presidente sírio, Hafez el Assad, decidiu invadir o Líbano sob pretexto de evitar que a situação no país evoluísse de forma a obrigar a Síria a enfrentar “Israel” sozinha. O Departamento de Estado norte-americano, discretamente, autorizou a invasão. A ação síria, portanto, obedecia aos interesses do imperialismo e do sionismo e não era, como se poderia pensar, benéfica aos palestinos. As relações do presidente sírio com os cristãos eram relativamente amistosas.
A esquerda libanesa denunciou em mensagem à ONU que “as forças sírias, ao invés de restabelecer a ordem, se preparam para cometer um espantoso massacre contra os povos libanês e palestino” (A tragédia do Líbano, retrato de uma guerra civil, Domingo del Pino). A denúncia era correta: a primeira atuação síria, em junho de 1976, foi justamente bombardear vários campos de refugiados palestinos. A atuação síria foi tão nefasta que foi elogiada pelo então presidente norte-americano, Gerald Ford, do Partido Republicano.
A tropas sírias avançaram sobre os campos de refugiados palestinos, respaldadas pelas milícias cristãs. Enquanto isso, a Marinha síria bombardeava os de Sidon e Tiro, ao sul, e Trípoli, ao norte.
A primeira etapa da intervenção síria terminou com a destruição e o massacre do campo de refugiados palestino de Tal Zaatar. As milícias cristãs – com apoio do exército sírio e de assessores militares israelenses – sitiaram o campo de refugiados de Tal Zaatar por 50 dias.
O jornalista e escritor espanhol Domingo Del Pino, em seu livro A tragédia do Líbano, retrato de uma guerra civil, testemunha ocular da guerra, descreve assim o episódio:
Segundo os cristãos, o cerco ao campo de refugiados de Tal Zaatar em 22 de junho tinha como objetivo “varrer da zona cristã todos os enclaves palestinos constituídos pelos campos de Dbaye, Jisr el Bacha e Tal Zaatar. Dbaye havia caído em 1975 e Jisr el Bacha foi ocupado em 30 de junho de 1976.”
“Três mil pessoas, segundo estimativas da Cruz Vermelha Internacional, foram massacradas quando os cristãos conseguiram finalmente romper a resistência dos palestinos que defendiam o local e entraram no campo. Um espetáculo realmente dantesco se oferecia aos jornalistas, quando visitamos Tal Zaatar, ou o que sobrava dele, no início de agosto. A tragédia havia sido muito maior porque os cristãos impediram a passagem de ambulâncias e do pessoal médico para atender os numerosos feridos.
“Dezenas de cadáveres jaziam entre as ruínas, e um terrível cheiro de morte invadia toda a zona, estendendo-se até o bairro cristão de Dekuane. Como em Sabra e Chatila em setembro de 1982, os milicianos falangistas que entraram em Tal Zaatar utilizaram o estratagema de chamar com megafones os habitantes que se haviam escondido nos abrigos, e à medida que saíam, os metralhavam, sem distinguir entre homens, mulheres e crianças.
“Os milicianos falangistas entraram uma primeira vez em Tal Zaatar no dia 27 de julho, mas foram rechaçados e expulsos. No entanto, no tempo em que permaneceram no campo, dinamitaram um edifício que sepultou cerca de cem pessoas que estavam nos abrigos do porão. (…)
“Em 13 de agosto, um dia depois do massacre final, e rapidamente, para impedir que se levassem a cabo investigações, os milicianos falangistas enviaram vários tratores a Tal Zaatar, abriram valas e nelas atiraram os cadáveres, cobrindo-os a seguir com escombros” (A tragédia do Líbano, retrato de uma guerra civil, Domingo del Pino).
Episódios com esse deixam muito claro que a política do imperialismo e do sionismo para os palestinos é a da limpeza étnica e do genocídio.