No dia 23 de maio de 2000, há 24 anos, 144 prisioneiros eram libertos do campo de prisioneiros de Quiam, no Líbano. Tal libertação foi resultado da heroica ação da resistência libanesa que, liderada pelo Hesbolá, pôs fim à ocupação criminosa israelense no sul do país apenas dois dias depois da vitória em Quiam.
A história de Quiam remonta à década de 1930. Naquela época, a França ainda ocupava o que era conhecido como Líbano Francês, e seus soldados utilizavam Quiam como um complexo de quartéis.
Então, com a conquista da independência do Líbano em 1946, a prisão foi utilizada pelos militares libaneses, até que, em 1975, começou a Guerra Civil Libanesa. 10 anos depois, em 1985, o Exército do Sul do Líbano tomou controle de Quiam, transformando a prisão em um local para torturar militantes da resistência e, de maneira geral, qualquer um que se opusesse a “Israel”.
Conforme já foi discutido neste Diário, o Exército do Sul do Líbano era uma das inúmeras milícias fascistas de cristãos maronitas, todas apoiadas e impulsionadas por “Israel” durante o curso da Guerra Civil, organizadas para derrotar a resistência palestina que estava exilada no país.
Segundo informações da resistência libanesa, em outubro de 1991, sabia-se que 210 pessoas estavam sendo mantidas em Quiam, dos quais 20 não eram libaneses. Desses 20, 13 eram palestinos, quatro sírios, dois curdos e um argelino. Além disso, entre os prisioneiros, havia 16 mulheres (15 libanesas e uma palestina). Relatos ainda dão conta de que os prisioneiros variavam de menores de idade a idosos com mais de 60 anos.
Um dos presos mais jovens, Rabah Shahrur, tinha cerca de 12 anos quando foi sequestrado. Ele foi mantido em Quiam por oito meses para pressionar seu irmão mais velho, que também foi sequestrado, a confessar. Ahmad Nimr Munther, outro jovem, de Markaba, tinha 14 anos quando foi sequestrado em 1989.
Como o caso de Shahrur exemplifica, era comum que os fascistas a serviço do sionismo torturassem a família dos prisioneiros para forçá-los a “confessar” que estavam resistindo à ocupação. Em outras palavras, para forjar uma confissão e justificar as ações fascistas do Exército do Sul do Líbano.
Nos anos em que esteve funcionando após 1985, mais de 5.000 pessoas, incluindo 500 mulheres, foram aprisionadas e torturadas em Quiam. É o caso de Suha Bechara, membro do Partido Comunista do Líbano que ficou presa por 10 anos em Quiam.
Os métodos de tortura, por sua vez, iam desde eletrocussão e espancamentos, até afogamento simulado e outras técnicas ainda mais brutais. Segundo relatos, 11 pessoas foram assassinadas em Quiam devido à tortura, negligência médica ou sufocamento por gás.
Robert Fisk, um jornalista britânico que trabalhou 25 anos enquanto correspondente no Líbano, detalhou como era feita a tortura em Quiam:
“Os sádicos de Quiam costumavam eletrocutar os pênis de seus prisioneiros e jogar água sobre seus corpos antes de mergulhar eletrodos em seus peitos e mantê-los em confinamento solitário e escuro durante meses. Durante muitos anos, os israelenses até proibiram a Cruz Vermelha de visitar a sua prisão asquerosa. Todos os torturadores fugiram através da fronteira para Israel quando o exército israelense recuou sob o fogo do Líbano.”
“Havia a vara de chicotear e as grades das janelas onde os prisioneiros eram amarrados nus durante dias, e água gelada era jogada sobre eles à noite. Depois, havia os cabos elétricos para o pequeno dínamo – a máquina misericordiosamente levada para Israel pelos interrogadores – que fazia os reclusos gritarem de dor quando os eletrodos tocavam nos seus dedos ou pênis. E havia as algemas que um ex-presidiário me entregou ontem à tarde. Eles foram usados durante anos para amarrar os braços dos prisioneiros antes do interrogatório. E usaram-nos, dia e noite, enquanto eram pontapeados – pontapés tão fortes no caso de Suleiman Ramadan que mais tarde tiveram de amputar-lhe o braço. Outro prisioneiro foi tão espancado que perdeu o uso de uma perna. Ontem encontrei sua muleta na prisão de Khiam, junto com pilhas de cartas da Cruz Vermelha de prisioneiros – cartas que os guardas da agora extinta milícia israelense ‘Exército do Sul do Líbano’ nunca se preocuparam em encaminhar.”
Após o dia 23 de maio de 2000, o governo libanês transformou Quiam em um museu. Em 2006, entretanto, “Israel”, em uma tentativa de apagar o registro de seus crimes de guerra, bombardeou Quiam – que, naquele momento, já havia sido liberta havia seis anos. A prisão foi destruída, restando apenas o poste elétrico utilizado para torturar os prisioneiros (onde dois foram assassinados), bem como uma cela utilizada para tortura.
Felizmente, muitos prisioneiros sobreviveram e estão vivos até hoje, podendo contar ao mundo sobre as atrocidades cometidas pela ocupação sionista no Líbano. Além disso, gravações do momento em que Quiam estava sendo liberta também sobreviveram. Duas delas podem ser vistas abaixo, junto a fotos do dia em que o sionismo amargurou uma profunda derrota.