É impossível pensarmos na história da humanidade sem pensarmos em Karl Heinrich Marx. Um dos maiores pensadores da história, Marx revolucionou o pensamento e a atividade humana. Criou a corrente política mais influente e mais importante dos séculos XX e XXI. Suas ideias são, até hoje, essenciais para entender a política, a economia, a filosofia e a sociedade humana.
Uma breve biografia
Nascido em 5 de maio de 1818 em Trier (Prússia Renana), Marx era filho de um pai advogado. Na universidade, estudou direito e, sobretudo, história e filosofia. Durante a juventude fez parte do grupo chamado “jovens hegelianos” (corrente idealista alemã do século XIX que tentava obter conclusões radicais da filosofia de Hegel). Após a publicação de “Princípios da Filosofia do Futuro” (Feuerbach), converte-se ao materialismo e se torna redator-chefe do jornal Gazeta Renana. Devido ao caráter democrático revolucionário do jornal o governo da Prússia submete-o a diversas censuras até que o jornal acabou por ser proibido. Ao fim de sua jornada na Gazeta Renana, Marx percebe que a insuficiência dos seus conhecimentos acerca da economia política e se lança ferozmente a estudar o assunto.
Em 1843, casa-se com sua amiga de infância: Jenny von Westphalen. Com sua parceira, Marx teve 7 filhos – sendo que 4 morreram ainda crianças (algo comum no século XIX) e 3 chegaram a idade adulta: Jenny, Laura e Eleanor.
Em Paris no ano de 1844, Marx conhece a pessoa que viria a ser seu amigo mais próximo: Friedrich Engels – homem que, junto a Marx, foi responsável pela elaboração de todo o pensamento marxista e do socialismo científico. Ambos se tornam membros ativos do cenário político parisiense, criticando severamente ideologias políticas que permeavam o movimento operário da época, com destaque ao anarquismo de Proudhon e ao socialismo utópico de grupos pequeno-burgueses. Através destas críticas, elabora a teoria e a tática do socialismo proletário revolucionário ou, como veio a ser conhecido, o comunismo.
Em 1845, Marx é expulso de Paris a pedido do governo prussiano. Fixa residência em Bruxelas, onde, em 1847, juntamente a Engels, filia-se a “Liga dos Comunistas” e é incumbido de escrever uma de suas principais obras: O Manifesto do Partido Comunista.
Após ser expulso da Bélgica, Marx regressa a Paris em 1848, mas deixa a cidade mais uma vez, para retornar à Alemanha. Após seu retorno, cria a Nova Gazeta Renana e assume o cargo de redator-chefe. Com a contrarrevolução alemã, Marx é expulso novamente da Alemanha, retornando a Paris, de onde é mais uma vez expulso. Parte, assim, para Londres, cidade em que reside até a sua morte.
Na Inglaterra, redigiu uma série de trabalhos e, em 1864, funda a I Internacional – a “Associação Internacional dos Trabalhadores”. “Unindo o movimento operário dos diversos países, procurando orientar numa via de atividade comum as diferentes formas do socialismo não proletário, (…) combatendo as teorias de todas estas seitas e escolas, Marx foi forjando uma tática única para a luta proletária da classe operária nos diversos países” (Lênin, em Karl Marx). Contudo, a Internacional tem seu fim após a queda da Comuna de Paris (1871) e a cisão com os bakunistas. Transferida a Nova Iorque, é dissolvida em 1876, para evitar sua tomada pelos anarquistas.
Após a morte de Jenny (1881), Marx vive por mais 2 anos, quando adormece pela última vez em 14 de março de 1883. No seu funeral, Engels destaca seu caráter revolucionário:
“Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar”.
Suas principais teorias
Karl Marx se destaca como um pensador influente em diversas áreas do conhecimento. É impossível pensar em estudar a história do pensamento, da filosofia, da sociologia, da política, da economia, etc. sem passar por ele.
Uma das suas principais contribuições é o desenvolvimento do Materialismo Dialético. Influenciado por Hegel (dialética) e por Feuerbach (materialismo), Marx avança o pensamento humano chegando até o fim da filosofia. A contraposição de Marx perante Hegel e os demais idealistas alemães pode ser resumida na seguinte frase do O Capital: “Para mim [Marx], pelo contrário, o ideal não é senão o material transposto e traduzido no cérebro humano”. Para Marx, as ideias não são mais que reflexos mais ou menos abstratos dos objetos e fenômenos reais. Destacando a essência humana como um “conjunto de todas as relações sociais (concretamente determinadas pela história)”.
No âmbito da dialética, Marx aprofunda Hegel ao romper com o idealismo e passar para o materialismo. Para ele, a dialética é “a ciência das leis gerais do movimento tanto do mundo exterior como do pensamento humano”; ou seja, é a forma como não apenas o mundo, mas o pensamento humano funciona. Com o materialismo dialético, o pensamento humano avança ao ponto de não necessitar de nenhuma filosofia que paire acima das demais ciências. A única filosofia que resta é a do materialismo dialético.
Aplicando essa teoria na história, Marx desenvolve o caminho para o estudo do nascimento, desenvolvimento e declínio das civilizações e das formações econômicas. O pai do socialismo orienta este trajeto através da luta de classes. Ao entender a existência e as contradições intrínsecas entre as diversas classes ao longo da história, Marx chega à conclusão de que a luta de classes é o motor da história.
Ademais, Marx – através de várias obras, mas com destaque para os três tomos de O Capital – desenvolve a principal teoria econômica sobre o capitalismo. Destrincha toda formação econômica do capitalismo e demonstra a sua inevitável falência e destruição. Segundo o próprio autor, esta foi sua maior descoberta: “No que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna nem a sua luta entre si. (…) O que de novo eu fiz, foi: demonstrar que a existência das classes está apenas ligada a determinadas fases de desenvolvimento histórico da produção; que a luta das classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; que esta mesma ditadura só constitui a transição para a superação de todas as classes e para uma sociedade sem classes”.