Na última semana, o governo brasileiro, que se encontra extremamente pressionado pela situação política nacional, teve a infelicidade de subscrever uma carta repulsiva elaborada e articulada pelo governo dos Estados Unidos. O documento, endossado por ditaduras fascistas como o governo de Javier Milei, exige que o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) liberte os prisioneiros que se encontram sob o seu cuidado.
Passados alguns dias da publicação da carta, agora fica claro que se trata de mais uma campanha do sionismo. O objetivo é óbvio: diante da fragilidade da entidade sionista, que não conseguiu uma única vitória militar em seis meses, o grande capital tenta elevar a pressão sobre o partido islâmico para que ceda a um acordo desfavorável.
Como parte dessa campanha, o Poder360 publicou um artigo escrito pelos sionistas Marcos Knobel e Elisa Nigri Griner, integrantes da Federação Israelita do Estado de São Paulo. O texto, intitulado Nossas mesas estão vazias neste Pessach, nada mais é que uma grande choradeira em torno dos prisioneiros do Hamas.
“No tradicional jantar (seder) que marca o início deste período de reflexão muitas delas decidiram se sentar à mesa deixando algumas cadeiras desocupadas, um simbolismo poderoso diante da realidade que vivemos atualmente: tristeza e lamento pelos 132 reféns que seguem há mais de 200 dias privados de sua liberdade nas mãos do Hamas. As ervas amargas, que fazem parte da tradição, ganham protagonismo.”
Em primeiro lugar, a ladainha sionista não convence ninguém porque a verdade é que o governo de “Israel” nunca deu a mínima para a sua própria população. Conforme denunciado até mesmo por jornais israelenses, as forças de ocupação aplicaram, no dia 7 de outubro de 2023, o chamado “protocolo Aníbal”, que diz que é melhor assassinar os seus próprios soldados que permitir que eles sejam sequestrados por uma força inimiga. Afinal, caso isso aconteça, “Israel” terá de negociar – coisa que não está disposto a fazer. Melhor ter alguém de sua população morto do que negociar com os movimentos de libertação da Palestina.
Para ser mais preciso, no 7 de outubro, “Israel” aplicou uma extensão do “protocolo Aníbal”. Afinal, ele foi aplicado não apenas a soldados, mas também a civis, que foram executados até mesmo por meio de tiros disparados por soldados em helicópteros.
Esse desprezo pela vida dos israelenses foi visto também em outros momentos. O primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, chegou a considerar inundar os túneis onde supostamente estariam os prisioneiros do Hamas. Para ele, a chance de matar um ou outro combatente do partido palestino valeria a vida dos prisioneiros. O desprezo é tão grande que um familiar de um refém chegou a dizer, a uma emissora israelense, que o líder do braço armado do Hamas fez mais pelos israelenses que o próprio governo.
Em segundo lugar, ainda que “Israel” estivesse genuinamente preocupado com os seus prisioneiros, fazer a campanha de que a privação da liberdade de 132 pessoas seria a coisa mais triste do mundo é um espetáculo de cinismo inacreditável. É algo verdadeiramente repulsivo. Afinal, há mais de 12 mil palestinos encarcerados por “Israel”. E, ao contrário daqueles que são mantidos pelo Hamas, os palestinos nas prisões israelenses são torturados, maltratados e, muitas vezes, executados.
Não é só isso. Além dos prisioneiros, é preciso lembrar de tudo o que “Israel” está fazendo nos últimos meses. Foram mais de 35 mil palestinos assassinados, sendo a esmagadora maioria crianças e mulheres. Fica então a pergunta, o que é mais importante: protestar contra 35 mil assassinatos, um bloqueio econômico brutal, prisões arbitrárias e crimes de guerra; ou chorar por 132 pessoas que estão vivas e apenas estão mantidas em cativeiro aguardando que uma negociação seja feita?
O cinismo revela uma vez mais a ideologia do sionismo. Para os sionistas, os palestinos não são gente. São uma sub-raça, cujo sofrimento não importa para a humanidade. Os brasileiros não devem se enganar: quem no Brasil defende essa posição calhorda, é porque defende que o mesmo seja feito com o povo pobre brasileiro.