Quando dizemos que o identitarismo é um veneno para a esquerda e toda a sociedade, alguns podem achar exagero. Mas não é. E as discussões envolvendo Cristiano Zanin mostram muito claramente por que a ideologia identitária é uma infiltração muito reacionária na esquerda. Para falar mais claramente, uma ideologia reacionária que o imperialismo promove como sendo progressista.
Primeiro, os identitários, impulsionados em primeiro lugar pela própria imprensa golpista, fizeram uma gritaria histérica porque Lula, ao indicar Zanin, não estaria indicando um negro, ou mulher, ou gay, ou qualquer coisa que o valha à vaga do Tribunal. Lula não foi bobo e ignorou a gritaria. Ele sabe que quem deu o ponto pé inicial do golpe foi um negro retinto, Joaquim Barbosa. Também sabe que as mulheres no STF não são nem piores, nem melhores do que o restante da corja de ministros, todos eles a favor do golpe de Estado e de sua prisão.
Agora, os identitários mostram que estavam na espreita prontos a atacar Lula e Zanin diante da primeira oportunidade. O motivo da gritaria foi o voto do novo ministro sobre a tal da “homotransfobia”. Uma aberração jurídica que prevê igualar o crime de “injúria racial”, que por si só já é uma aberração inconstitucional, a atos de “homofobia” e “transfobia”.
Zanin foi o único ministro que votou contra a aberração. Até mesmo o ministro indicado por Bolsonaro, Nunes Marques, votou a favor da medida. Já André Mendonça, outro indicado por Bolsonaro, se declarou impedido e não votou.
Independentemente dos motivos técnicos que Zanin alegou, inclusive para diminuir um pouco a pressão identitária, seu voto é um ótimo sinal.
A esquerda, que ignora a realidade, nem se pergunta por que todos os direitistas no STF votaram a favor dessa lei absurda. É óbvio que a lei não tem nada a ver com defender gays, lésbicas, travestis, transsexuais e o restante das letras do alfabeto contidas na sigla LGBTetc.
Não é nada mais do que uma lei de censura encoberta com o véu demagógico da defesa dos LGBTs. O mesmo vale para a própria lei da injúria racial.
Quem vai sair perdendo com essas leis repressivas? Em primeiro lugar, os próprios negros, os próprios LGBTs, as mulheres e, acima de tudo, os pobres.
A reação diante do voto de Zanin foi a mais canalha e cínica possível.
Uma colunista do UOL, portal da golpista Folha de S. Paulo (jornal realmente muito preocupado com os direitos dos oprimidos), chamada Carolina Brígido, afirma: “Voto conservador de Zanin reforça apelo para Lula incluir minorias no STF”.
A grande pergunta é: que voto conservador, cara pálida? O voto de Zanin foi o único progressista – se é que podemos chamar assim algo que venha de um tribunal como o STF. O interessante, porém, não é o cinismo, mas a intriga contra Lula: “reforça apelo por minorias”. Por que a Folha de S. Paulo, aquela que fornecia seus carros para o DOPS torturar presos na ditadura militar, aquela que ajudou a derrubar Dilma Rousseff, está tão preocupada em pressionar Lula para nomear uma “minoria” no STF? A resposta é óbvia: querem um novo Joaquim Barbosa.
A Revista Fórum, que se vende como esquerdista, afirmou que Zanin “votou contra temas progressistas”. Primeiro levanta um caso realmente absurdo de dois homens presos por roubarem mercadoria que chegam a R$ 100 e que Zanin teria votado contra a alegação de insignificância do caso, depois levanta a questão da “homotransfobia” como sendo uma “pauta progressista”.
Isso mostra como a esquerda segue totalmente alinhada aos ditames do imperialismo. A burguesia manda, a esquerda obedece. Tudo com o pretexto de que a coisa mais aberrantemente reacionária, como o caso em questão, é algo progressista.
A aprovação de tal lei de censura pelo STF, passando por cima da Constituição, mostra que o STF realmente precisa ser extinto. É um tribunal anti-democrático, que só atua contra o povo. Mas à parte esse problema, devemos dizer que o voto de Zanin, pelo menos nesse tema, mostra que Lula escolheu certo.