O ministro do Desenvolvimento Social Wellington Dias (PT) anunciou o programa Busca Ativa, que pretende investigar a situação de cerca de 10 milhões de pessoas inscritas no Bolsa Família, que, segundo o ministro, encontram-se em situação irregular. O anúncio vem após os atos bolsonaristas do dia 8 de janeiro, indicando uma péssima tendência no interior do governo. Trata-se de um setor que defende que, para Lula se manter na Presidência, será necessário ir para a direita com a finalidade de buscar um acordo com a burguesia.
O programa direitista anunciado pelo governo terá por objetivo excluir famílias pobres que, seja por questões burocráticas, seja por terem melhorado um pouco sua condição financeira, já não estariam mais aptas a receber o benefício. Para o ministro, tal medida é necessária para conter os gastos públicos: ou seja, para investir no Bolsa Família, seria necessário tirar recursos da população pobre e não dos banqueiros e da dívida pública, por exemplo.
Retirar 10 milhões de pessoas do programa de assistência social, sobre o pretexto que for, é uma medida totalmente reacionária. Independentemente de erros burocráticos, são pessoas pobres, às quais um governo de esquerda não pode virar as costas.
Além do caráter reacionário da medida em si, ela indica uma concepção ainda pior por parte de uma ala do PT. É possível que haja uma pressão deles para que, após os atos dos bolsonaristas, o governo se desloque para a direita, com o objetivo de entrar em um acordo com a burguesia e de se consolidar.
Se o governo Lula ceder a esta política, solapará sua base popular, que é o único poder real capaz de dar sustentação ao petista. Ao invés de buscar um acordo com os patrões, Lula deve rachar a base bolsonarista, que é composta por elementos de classe média e por setores do povo pobre, que passaram para o lado de Bolsonaro por conta da intensa compra de votos durante as eleições de 2022.
É preciso ter toda uma política para esse setor bolsonarista de base – que vai muito além dos programas do chamado “assistencialismo”, como é o caso do Bolsa Família, mas que passa transitoriamente por eles. Ter uma política de pleno emprego, baseada em obras públicas, é um dos caminhos; a luta pela nacionalização do petróleo e pela redução dos preços da gasolina também faz parte deste processo. Mas, enquanto tiver de travar esta luta, o governo Lula também terá de prestar assistência imediata às camadas mais pobres da população – até porque, mesmo que não sejam o ponto de apoio fundamental do PT, são um importante setor da classe trabalhadora – e só assim poderá se garantir no governo.
Tendo isso em vista, a política levada adiante por Wellington Dias é extremamente nociva ao próprio governo Lula, já que ataca a sua própria base de apoio. A busca cega pela aliança com os patrões é o caminho pavimentado para a derrota do movimento e para a vitória do golpe de Estado.