Em artigo intitulado “‘Basta um soldado e um cabo’… e o presidente do Senado”, o jornalista Alex Solnik afirma que a “imagem de democrata” do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. ficou “trincada” após a votação da Proposta de Emenda Constitucional 8/2021. Isto é, que o parlamentar seria um “democrata” até o dia em que resolveu votar por restringir alguns dos poderes do Supremo Tribunal Federal (STF).
Por definição, um presidente do Senado no regime político brasileiro nunca será um “democrata”. O Senado é uma instituição profundamente antidemocrática, que foi inventada justamente para exercer um controle sobre a Câmara dos Deputados. E o presidente do Senado, por sua vez, é aquele que consegue, nesta Casa repleta de reacionários, se consolidar como líder do bando.
O grande argumento de Solnik para apresentar Pacheco como um “democrata” é o de que “até o ano passado era o vigilante defensor das instituições democráticas sistematicamente atacadas pelo presidente da República da época”, Isto é, Pacheco seria, no Senado, a antítese do bolsonarismo. Fosse assim, Solnik teria de começar explicando porque Bolsonaro decidiu apoiar Pacheco para a presidência do Senado em 2021…
A verdade é que Pacheco esteve no mais alto posto do Senado Federal durante um dos momentos mais criminosos da história da política nacional – o período da pandemia de coronavírus, quando mais de 700 mil brasileiros perderam a vida. Pacheco tanto ajudou seus colegas senadores a “passar a boiada” de ataques contra os trabalhadores, que tiveram suas condições de trabalho pioradas durante a pandemia, principalmente graças à ausência de qualquer tipo de mobilização por parte da esquerda, como também não se mexeu para que o então presidente Jair Bolsonaro fosse investigado.
Pacheco nada mais foi, no último período, que um dos pilares de sustentação do governo Bolsonaro. O que é curioso, no entanto, é que aquilo pelo que Solnik o critica é justamente o que o presidente do Senado fez de melhor: comprar uma briga, ainda que muito limitada, contra o todo-poderoso Supremo Tribunal Federal.
“É evidente que fragilizar o STF neste momento não interessa à democracia, interessa a Bolsonaro e a seus aliados”, argumentou Solnik ao criticar Rodrigo Pacheco. Acontece que o sentido que Solnik dá à palavra “democracia” é exatamente o mesmo que a imprensa burguesa dá ao termo: isto é, trata-se de um nome-fantasia para o regime político brasileiro. Traduzindo a frase de Solnik, portanto, temos que “fragilizar o STF é fragilizar o regime golpista instaurado em 2016”.
E, se é assim – e, de fato, é assim, uma vez que o STF é o principal pilar do golpe de estado -, fragilizar o STF é o que pode haver de mais democrático em relação à corte.