Em seu terceiro mandato, Lula resolveu nomear 37 ministérios, 14 a mais que o seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL). A medida, além de servir a determinados critérios técnicos na administração do novo governo, também cumpre um papel político importante para o presidente, que é o de formar uma coalizão que permita contentar os seus aliados de ocasião e os seus aliados de fato, bem como levar adiante a sua política.
Para que se faça uma análise precisa do ministérios, é preciso levar em conta que a política do presidente Lula, desde quando era sindicalista, é a de tentar chegar a um acordo – muitas vezes impossível – para que sua política seja aplicada. Nesse sentido, pode-se considerar até normal, para os parâmetros da política lulista, que alguns ministérios sejam entregues a inimigos políticos. O que precisa ser discutido, contudo, é até onde esses acordos permitirão uma estabilidade e até onde permitirão a infiltração e a sabotagem ao governo.
Fundamentalmente, pode-se dividir o ministério nos seguintes lotes: os ministérios chave da política, que são elementares para que Lula consiga levar adiante seus planos, os ministérios de compromisso com a direita fisiológica, os ministérios cedidos aos identitários e os ministérios problemáticos.
Os ministérios de compromisso com a direita são os ministérios com grande orçamento, mas pouca influência política. É o caso, por exemplo, do Ministério das Comunicações, encabeçado por Juscelino Filho (União Brasil) ou o Ministérios dos Portos, encabeçado por Márcio França (PSB). Mesmo que seja um direitista, Márcio França, por exemplo, não terá poder suficiente para privatizar os portos brasileiros, uma vez que isso ficará sob competência de pastas mais importantes. No entanto, poderá servir de um enorme cabide de emprego.
Logicamente, é um problema que esses indivíduos estejam no governo. Foi esse tipo de acordo, inclusive, que levou a escândalos como o do mensalão, pois o único objetivo da direita em ingressar no governo Lula é usar a máquina estatal para benefício próprio. No entanto, essa não é a área mais periogsa em que Lula poderia alocar seus inimigos.
Os ministérios cedidos aos indenitários são também um compromisso de Lula com um setor da esquerda profundamente ligado ao imperialismo. São parte desses ministérios o da Igualdade Racial, chefiado por Anielle Franco, que é filiado ao PT mas muito ligada ao PSOL, o dos Direitos Humanos, comandado por Silvio de Almeida, que por sua vez é diretor do IREE, uma ONG ligada indiretamente ao Departamento de Estado norte-americano, e o do Meio Ambiente, que terá Marina Silva à frente.
Embora não sejam ministérios chave para a política do governo, merecem a máxima atenção, pois podem servir para a infiltração de uma campanha do imperialismo para desestabilizar o governo. Basta lembrar que as tais ONGs, com as quais todos os identitários têm relação, têm sido um instrumento fundamental para a desestabilização de regimes no Leste Europeu, no Oriente Médio e na América Latina.
O que há de bastante positivo no novo ministério, contudo, é a decisão de Lula de colocar pessoas de sua confiança nos postos chave. Isso, inclusive, é um sinal de que acumulou bastante experiência com o golpe de Estado e que tem maior convicção do que pretende fazer. O Ministério da Economia a Fernando Haddad, a presidência do BNDES a Aloizio Mercadante, por exemplo, são indicações que frustraram por completo os interesses do “mercado” em pôr as mãos na política econômica. Lula promete reindustrializar o País, e isso só será possível com o apoio das massas e com um ministério de confiança na economia.
Os ministérios problemáticos, por fim, são aqueles que cumprem uma função importante no Estado, mas que Lula entregou a setores perigosos. É o caso do Ministério da Justiça, entregue para um político burguês de carreira, Flávio Dino (PSB), e o Ministério da Defesa, entregue ao burocrata direitista José Múcio, com trânsito entre as Forças Armadas e os bolsonaristas. A ideia de Lula, ao que parece, é acalmar a burguesia, evitando uma crise logo no inícoi de seu governo. No entanto, é preciso destacar que esses Ministérios têm importância suficiente para organizar um golpe contra o próprio governo – no caso da Justiça, foi exatamente o que aconteceu no golpe de 2016 contra Dilma Rousseff.