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Eleições equatorianas

Uma morte para favorecer o candidato do imperialismo?

Os brasileiros viram em 2014 um cenário parecido com o que se desenha para o Equador, quando a misteriosa morte de Eduardo Campos concentrou os votos da direita

Há poucos dias das eleições gerais, antecipadas para o próximo dia 20 devido para tentar conter as turbulência que vive o Equador, o país foi sacudido pelo assassinato do direitista presidenciável, Fernando Villavicencio. O crime ocorreu na tarde do último dia 9, enquanto Villavicencio deixava uma escola da capital Quito, onde fazia campanha. O cartél mexicano Los Lobos, com forte presença no país, assumiu a autoria do atentado em vídeo:

“Queremos deixar claro para toda a nação equatoriana que cada vez que políticos corruptos não cumprirem com suas promessas antes estabelecidas, quando receberem nosso dinheiro – que são milhões de dólares -, para financiar suas campanhas, serão executados. Nós, a organização Los Lobos, assumimos a responsabilidade pelos acontecimentos da tarde de hoje. E acontecerá de novo se os corruptos não cumprirem sua palavra. Você também Jan Topic, maldito filho da p*, mantenha suas promessas. Se não cumprí-las, será o próximo”, diz a nota lida por um porta-voz, cercado por outros membros do grupo, todos vestidos de preto, trajando máscaras e exibindo armas de assalto.

O citado Jan Topic é também presidenciável, com candidatura lançada pelo Partido Social Cristão e chegou a ser ministro da Segurança do atual presidente, Guillermo Lasso. Empresário e economista com mestrado na Inglaterra, Topic se orgulha de ter recebido treinamento militar na famigerada Legião Estrangeira Francesa, além de ter lutado ao lado dos ucranianos na guerra em curso no Leste Europeu, razão pela qual recebeu apelido de “Rambo” por parte da imprensa equatoriana (“Jan Topic, el rambo que promete salvar el Ecuador”, Radio La Calle, 12/4 [sem ano]).

Fora as abstratas afirmações feitas pelo porta-voz de Los Lobos, contudo, poucas informações circulam sobre Villavicencio. Defensor da Lava Jato e inimigo contumaz do correísmo, Villavicencio era da coalizão “Movimento Construir”, que defendia a intervenção norte-americana na economia equatoriana, através da imposição do dólar como moeda nacional:

“#Urgente NÃO PODEMOS PERMITIR QUE LEVEM NOSSO DÓLAR!

“Não podemos permitir que venha esse bando de criminosos e querer tirar o DÓLAR da gente, não seja ingênuo, o Correísmo quer sair da dolarização para emitir moeda própria e continuar esbanjando, então nossas gerações vão ter que pagar a conta . Chega de máfias…” publicou em seu perfil oficial no X (antigo Twitter) a parlamentar Anita Galarza, correligionária do presidenciável morto no Construir.

Em 30 de outubro do ano passado, por ocasião da vitória eleitoral do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, Villavicencio também publicou uma mensagem em seu perfil no X com os dizeres “O retorno dos ladrões da #LavaJato”. Antes disso, em 2018, repetiu a enfadonha ladainha da direita dita civilizada e da esquerda pequeno-burguesa brasileira ao comentar uma publicação de um conhecido: “Estimado @ramirogarciaf não podemos curar a raiva com mais mordidas do mesmo cachorro. Bolsonaro é produto da traição do PT, da maior corrupção da história. Por Deus…. E não compartilho nada com Bolsonaro”, a publicação em questão era de um professor na mesma rede social, que defendia a vitória do então candidato petista e atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Há 14 dias das eleições, uma pesquisa de intenção de votos feita pela ClickReport mostrava uma disputa embolada pelo segundo lugar, com Villavicencio despontando com chances de ir para o segundo turno com a candidata do correísmo, Luisa González, isolada na liderança da pesquisa, mas sem despontar com a quantidade de votos necessárias para eleger-se já no próximo dia 20. Nas leis eleitorais equatorianas, a disputa pode ser decidida no primeiro turno se um dos candidatos tiver 40% dos votos e mais de dez pontos percentuais a mais que o segundo colocado, ou se for escolhido por mais da metade dos eleitores, nenhum cenário aplicável a Gonzáles atualmente.

Conforme a pesquisa ClickReport, esta eram as intenções de voto entre 4 e 6 de agosto:

Luisa Gonzáles: 29,2%

Yaku Pérez: 14,4%

Otto Sonnenholzner: 12,3%

Jan Topic: 9,6%

Fernando Villavicencio: 7,5%

Brancos e nulos: 16,9%

Outros: 10,1%

Com a margem de erro de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, nota-se que não há uma definição sobre o segundo colocado. A morte de Villavicencio, contudo, tem o pendor de afunilar o voto da direita, concentrá-lo no candidato do imperialismo. Opções não faltam.

Sonnenholzner, chegou a ocupar o cargo de vice-presidente de Lenín Moreno, de quem se distanciou e recebe uma cobertura muito favorável da imprensa imperialista, como mostra a ultra chapa-branca matéria da agência AFPOtto Sonnenholzner, o ex-vice que aspira à presidência do Equador” (14/7/2023). Nela, o presidenciável faz brincadeiras com seu sobrenome de origem alemão ao mesmo tempo em que recebe destaque por falar das “’graves deficiências democráticas’, como Venezuela e Nicarágua” (idem). Finalmente, além do “cachorro louco” Jan Topic, há também o conhecido índio do imperialismo, Yakku Pérez.

Estaremos, naturalmente, entrando no incerto terreno da hipótese, mas os brasileiros viram em 2014 um cenário parecido com o que se desenha para o Equador. No Brasil, a morte em circunstâncias misteriosas de Eduardo Campos terminou sendo útil para concentrar o voto da direita. Embalada pela comoção causada pela morte amplamente explorada do candidato do PSB, sua vice na chapa, Marina Silva emplacou o terceiro lugar naquelas eleições e apoiou o tucano Aécio Neves no segundo turno, que perdeu por uma estreita margem para a petista Dilma Rousseff.

É muito provável que uma operação semelhante esteja em andamento no Equador, sendo necessário acompanhar a evolução do caso equatoriano. Dele os trabalhadores poderão intuir com mais concretude se o imperialismo pende para o identitarismo de Yaku Pérez ou para a linha-dura representada pelos outros candidatos, cuja propaganda foca mais no combate às gangues e ao tráfico de drogas, uma desculpa para incrementar a repressão no país, o que já tende a acontecer uma vez que em resposta à morte de Villavicencio, o repressivo governo Lasso já instaurou Estado de sítio no país.

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