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Caso Gonçalves Dias

Uma investida golpista contra o governo

O vazamento da CNN é o mais novo capítulo da sabotagem da direita contra o governo

Nessa quinta-feira (20), o governo Lula foi acometido por um novo escândalo.

A sucursal brasileira da CNN divulgou uma série de imagens até então sigilosas sobre a invasão da Praça dos Três Poderes. Nelas, aparece, de maneira inconfundível, funcionários do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) caminhando tranquilamente pelo Palácio do Planalto em meio aos manifestantes.

Um dos funcionários, o capitão do Exército José Eduardo Pereira, que havia sido nomeado pelo órgão durante o governo Bolsonaro, aparece distribuindo água aos manifestantes, escancarando a conivência de elementos do governo Lula com a invasão. Um caso, no entanto, chamou ainda mais a atenção.

O general da reserva Gonçalves Dias, que o vazamento da CNN era o comandante do GSI, também aparece nas imagens de forma muito suspeita. Em vez de ser hostilizado pelos manifestantes, que, naquele local, eram, no mínimo, centenas de pessoas, o general, mesmo sendo membro do governo ao qual se opunham, é visto abrindo algumas portas – literalmente – e indicando o caminho para os invasores,

Durante entrevista à GloboNews, Dias declarou que atuou para “retirar as pessoas do terceiro e quarto piso para que houvesse a prisão no segundo”. Isto é, o general teria preparado uma emboscada. Por melhor que fossem suas intenções, fica ainda a suspeita: como o general possuía tanta influência sobre os manifestantes, a ponto de guiá-los pelo Palácio? E se o próprio Gonçalves Dias demitiu José Eduardo Pereira após a invasão, pois não aceitou sua versão de que tentou “conter danos”, por que a “contenção de danos” de Gonçalves Dias seria, então aceitável?

O caso, no entanto, fica ainda pior.

As imagens vazadas pela CNN já haviam sido solicitadas pela imprensa anteriormente. No entanto, o GSI, à época, se recusou a divulgá-las. O órgão solicitou sigilo de cinco anos, alegando que as imagens revelavam a identidade de servidores militares que trabalham no Planalto. Seria, assim, uma forma de preservar a segurança da presidência da República.

Tudo o que se tinha de gravação do dia 8 de janeiro era, portanto, uma edição feita pelo próprio GSI – que, convenientemente, excluiu a participação do seu comandante na invasão. Segundo interlocutores, o próprio presidente da República desconhecia a gravação integral e teria ficado profundamente irritado com Gonçalves Dias. Pouco tempo após o vazamento, o general pediu sua demissão do GSI, que foi prontamente atendida por Lula. Essa foi a primeira baixa no alto escalão do governo.

O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, assumiu interinamente o comando do GSI. Cappelli havia sido o homem escolhido por Lula como interventor na segurança do Distrito Federal após a invasão de 8 de janeiro.

Um episódio de traição

O comportamento de Gonçalves Dias se soma a uma sequência de sabotagens que o governo Lula vem sofrendo. Já havia ficado evidente que vários comandantes militares participaram diretamente da invasão das sedes dos três poderes. A esposa do general Villas-Bôas, por exemplo, que é um dos mais influentes militares da cúpula das Forças Armadas, estava presente entre os manifestantes.

E mais do que isso. O ministério da Justiça não agiu, pois confiou nas informações do GSI e de outros que lhe garantiram que não haveria invasão. A Polícia do Distrito Federal, por sua vez, ajudou os manifestantes a conquistarem o seu objetivo.

O caso de Gonçalves Dias só torna ainda mais cristalino que parte da conspiração contra Lula partiu de dentro do próprio governo. Para uma sabotagem, inclusive, o GSI é um órgão fundamental, que pode tanto ceder importantes informações para inimigos políticos, como pode deixar a defesa da presidência completamente desguarnecida.

Apesar da desconfiança de Lula sobre os militares, o presidente vinha demonstrando confiança em Gonçalves Dias, que já era uma figura antiga nos governos petistas. Os acontecimentos, ainda mais a proposital omissão de imagens, o “amigo” Gonçalves Dias estava conspirando debaixo do nariz do presidente. Foi uma verdadeira traição.

Direita levanta a cabeça

O episódio contribui ainda mais para a desmoralização do governo. Afinal, mais de cem dias após o 8 de janeiro, Lula não conseguiu punir um único comandante, fortalecendo aqueles que querem se insurgir contra o governo. Agora, ficou evidente que o governo não conta com o apoio nem mesmo das pessoas que seriam de sua confiança. O objetivo do vazamento, assim como no caso do 8 de janeiro, é claro: mostrar um governo incomptente, incapaz, que não merece confiança.

Vale destacar que o vazamento foi feito pela CNN, um canal que, ao mesmo tempo, possui fortes relações com o imperialismo norte-americano e com os bolsonaristas. A participação da CNN no caso, inclusive, deve ser vista com muito alarme, uma vez que isso demonstra o apoio de um importante setor da burguesia à operação. Já não se pode dizer que a tentativa de sabotar o governo Lula vem de uma camada restrita de generais bolsonaristas – trata-se de uma iniciativa mais ampla.

Merece também destaque que, apesar do escândalo causado, o vazamento levou inevitavelmente à demissão de Gonçalves Dias. Isto é, levou a direita a “queimar um cartucho”, a abrir mão de um importante infiltrado no governo. Essa disposição só mostra que há planos muito mais ousados a serem concretizados futuramente.

Não bastasse a desmoralização, o vazamento ensejou outro ataque duro contra o governo. Figuras de destaque da direita bolsonarista, como o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), estão alegando que a participação de Gonçalves Dias comprovaria não uma traição ao governo, mas uma participação do próprio governo – leia-se, do próprio Lula – no 8 de janeiro. Acusam, portanto, Lula de ser o grande mentor da manifestação bolsonarista!

A imprensa capitalista, embora não possa neste momento defender abertamente essa tese, vem ajudando a extrema-direita em sua campanha. Na Rede Globo, chovem comentários de que Gonçalves Dias seria “amigo” de Lula e que teria ocupado o cargo no GSI por determinação pessoal do presidente.

Nos próximos dias, essa campanha da direita deverá ganhar força, com a instalação da CPMI das manifestações de 8 de janeiro, proposta pelos bolsonaristas justamente com o fim de culpar o governo pela invasão.

A declaração é, obviamente, cínica e caluniosa. Não haveria motivo algum para Lula endossar a invasão do dia 8 – o governo foi quem saiu mais enfraquecido de tudo isso. E mais: todos aqueles que tiveram participação na invasão são inimigos do governo – sobretudo, a cúpula militar. No entanto, por mais absurda que seja a tese da direita, é preciso entender que a campanha poderá dar lugar a uma ofensiva muito grande contra o governo, capaz de evoluir para um golpe de Estado. Afinal, conforme destacado no caso da participação da CNN, há muita gente poderosa envolvida na tentativa de incriminar o governo Lula.

Últimos acontecimentos

O vazamento da CNN, articulado com a campanha da CPMI por parte da direita bolsonarista, vem em um momento muito conveniente para os opositores do governo. Nas últimas semanas, o enfrentamento de Lula com o imperialismo tem adquirido contornos cada vez mais nítidos.

Após alguns meses tratando com cautela e até mesmo com elogios demagógicos, os Estados Unidos passaram a criticar cada vez mais abertamente o presidente Lula. O petista, afinal, foi à China, onde fez uma série de acordos importantes, recebeu o chanceler russo Serguei Lavrov, tem adotado uma posição cada vez mais anti-imperialista em relação à Guerra da Ucrânia, se recusa a condenar o regime de Daniel Ortega na Nicarágua e tem defendido o fim do dólar como moeda para a negociação entre países emergentes, entre tantas outras medidas de desagrado ao imperialismo.

Na política interna, Lula se mostra mais contido, visivelmente pressionado pelo Congresso, pelo STF, pelo Banco Central e por todas as instituições envolvidas no golpe de 2016. No entanto, tem tido muita iniciativa, preocupando a direita. Lula, por exemplo, se recusou a condenar as ocupações do MST – muito pelo contrário, tem se mostrado mais aberto ao movimento que no início do governo. A recente entrega do projeto de lei do arcabouço fiscal, por fim, aumentou ainda mais a indisposição com os setores mais pró-imperialistas, uma vez que, na prática, liquida o teto de gastos.

Já é dado como certo que o vazamento atrasará a votação do projeto.

Reestruturar os serviços de inteligência

O caso apenas comprova que não é possível ter qualquer grau de confiança nos militares. A cúpula das Forças Armadas é a mesma que comandou a ditadura militar de 1964 – um grupinho de lacaios do imperialismo que estabelecem uma verdadeira tirania nos quartéis contra os soldados para colocar o Exército à disposição dos Estados Unidos. É preciso, portanto, acabar de vez com a tutela militar.

Para isso, não bastam medidas puramente administrativas. É preciso mobilizar os trabalhadores contra a direita e, com isso, criar as condições para uma reestruturação completa das forças armadas e dos serviços de inteligência. É preciso tirar a Abin e o GSI das mãos dos militares e passar a limpo toda a estrutura de espionagem montada sobre o povo brasileiro, restringindo a inteligência apenas à atuação externa.

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