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As duas faces do psolismo

Um tímido e alegre golpismo no Conune

A corrente Resistência, de Valério Arcary, não tem a mesma coragem que o PCB e o PSTU de encabeçar o golpismo de esquerda, mas também não consegue não jogar o jogo do imperialismo

O Congresso da UNE foi tópico de discussão nesse Diário nas últimas semanas. O evento foi um verdadeiro show de horrores. De um lado a burocracia do PCdoB/UJS com sua política ultra oportunista e direitista, do outro, um bloco da esquerda golpista que realiza campanha contra Lula. Nada de sério foi deliberado e a direção se manteve a mesma, mais uma mulher negra da UJS. Contudo, um setor parece considerar o evento como um grande sucesso, a Resistência, de Valerio Arcary. O seu sítio Esquerda Online publicou o artigo “Como não gostar do Congresso da UNE?” em defesa do 59º Conune. Algo muito  impressionante dado o fiasco do evento.

O texto começa exaltando o Conune: “O Congresso da UNE foi um evento grandioso, até imponente. Teve festa, alegria, entusiasmo, até momentos de excessos de paixão nas polêmicas e disputas de espaço, mas sobretudo, muito compromisso com a luta. A esquerda não pode cometer o erro de subestimação do papel do movimento estudantil. O ambiente estudantil é grandiloquente e retórico, muito irreverente, às vezes, debochado, quase sempre muito sectário, mas deve ser levado a sério.” O evento em si até pode ter reunido uma grande quantidade de pessoas, pode até ser considerado o maior evento da esquerda desde a pandemia de Covid-19. Mas para além do tamanho não há nada para ser elogiado, muito menos o “compromisso com a luta”. No máximo houve um compromisso com o golpismo vindo da oposição.

A maior organização estudantil da América Latina não foi capaz de traçar nem um plano de lutas. Focou apenas no ato do dia do estudante em agosto. Não tem grandes projetos nacionais como existiu no passado e como o próprio Valério comenta. A UNE no passado liderou o movimento contra a ditadura militar, no momento em que a esquerda governava ela liderou o movimento pela criação da Petrobrás. Hoje ela se transformou em uma grande burocracia. A direção tem como único objetivo se perpetuar no poder e para isso é necessário manter o movimento paralisado. O maior inimigo de qualquer burocracia é justamente a mobilização, principalmente se esta for a burocracia de uma organização popular.

Arcary então comenta sobre a suposta unidade da UNE: “Mas este Congresso da UNE foi, também, importante porque o movimento estudantil está hoje unificado, apesar da feroz luta de ideias e rivalidade entre tendências. Esta unidade foi uma construção política bem sucedida e se explica por variados fatores.” e “A unidade da UNE como entidade nacional de representação estudantil contrasta com a situação que ainda prevalece em outros movimentos sociais. O movimento sindical está enfraquecido e muito dividido, com a existência de mais de meia dúzia de Centrais Sindicais, em graus muito diferentes de representatividade, porém, fraturado.” De fato, existe uma única “central” estudantil é um avanço em relação a CUT, que está rachada com outras centrais em relação aos partidos da esquerda. Mas isso não represente uma unidade de lutas.

Cada organização presente na UNE tem a sua política, mas a organização não atua para canalizar essas políticas em uma luta nas ruas. Pelo contrário, as organizações da juventude segue rachadas e se organizando por fora da UNE. O próprio dia do estudante provavelmente terá duas mobilizações, uma golpista contra o arcabouço fiscal e outra contra a alta taxa de juros. Isso se a UNE se der o trabalho de mobilizar, pois na atual situação de decadência não são chamados mais manifestações reais, apenas “tuitaços” e atos simbólicos. No próprio Congresso da UNE a “unidade” contra o Banco Central bolsonarista foi quebrada pelo bloco golpista que não defendeu essa pauta.

O artigo segue defendendo o ministro do STF, responsável por remover Lula das eleições em 2018: “A fúria da mídia comercial, dominada pela fração burguesa liberal, contra o ministro do STF, porque denunciou o bolsonarismo como uma corrente autoritária que defende a censura, e até a tortura, não devia nos surpreender. Um dos traços da conjuntura é a operação política que pretende normalizar a extrema-direita como um movimento legítimo nos marcos do regime. Estão preocupados que as prováveis condenações de Bolsonaro tenham como desfecho sua prisão”. Aqui o Resistência mostra uma confusão total, sobre o STF. Apoia Barroso ainda mais que a própria Rede Globo, é uma subserviência absurda a essa instituição ditatorial.

Logo após defender o golpista Barroso, Arcary coloca sua posição golpista: “Ao mesmo tempo a UNE não é neutra na grande disputa que permanece em aberto e fratura a sociedade. A UNE reafirmou seu lugar na luta contra o neofascismo no Brasil. Essa localização é distinta daquela que a UNE teve entre 2003 e 2015, quando sucumbiu às pressões governistas, perdeu capacidade de impulsionar mobilizações, e se dividiu. O destino do papel da UNE está, todavia, em disputa, evidentemente. As pressões de adesão governista não poderão ser subestimadas. Mas é animador saber que a UNE permanecerá na luta pela revogação da reforma do ensino médio.” Aqui o ex dirigente do PSTU volta a usar os tradicionais termos do partido, se coloca contra o “governismo”. 

Para a esquerda golpista qualquer defesa do governo Lula é “governismo”. Não importa se ela seja justa. Por exemplo, quando a direita ataca Lula com o ambientalismo e com o identitarismo. Ou quando a esquerda ataca Lula alegando que ele é o culpado pelo Marco Temporal. Qualquer caracterização positiva de uma política de governo é “governismo”. Esse setor golpista estava muito assanhado no Congresso da UNE e se agrupava em torno do PSOL, aonde se encontra a corrente de Valério Arcary. Ele por sua veze se posiciona de forma centrista, de criticar “tanto os que se alinham com o governo, como aqueles que se opõem ao governo, incondicionalmente.” E é aqui que corre o perigo.

O Esquerda Diário não coloca a situação como ela existe, um bloco da esquerda aderiu à política abertamente golpista. Bloco esse que tem muita proximidade com o Resistência. Ao que parece essa corrente tem medo de se colocar como abertamente golpista mas ao mesmo tempo tem uma clara tendência a aderir essa política. Só assumindo essa postura ultra centrista é que alguém poderia considerar o Conune uma grande vitória. Mas o fato de Arcary não ter uma política bem definida, um programa claro, é um claro indício de que ele repetirá o mesmo erro que cometeu em 2016. Quando a imprensa burguesa apertar ele se posicionará claramente ao lado do PCB, da UP, do MRT e do PSTU como a ala esquerda do golpe contra o presidente Lula.

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