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"Marx era homem branco"

Um revisionismo de rede social

Influenciado pelo identitarismo, "marxistas" de internet tentam refutar Marx

O revisionismo é um fenômeno antigo no marxismo. Sempre que algum intelectual burguês, ou pequeno-burguês, coloca na cabeça que alguma descoberta científica de Marx e Engels está ultrapassada, aparecem teorias para tentar revisar essa teoria usando o nome do marxismo.

Um revisionista como Bernstein, pai do revisionismo, se apresentava como marxista e era do Partido Social-Democrata. Apresentava sua nova teoria com a autoridade de um militante e intelectual marxista.

Depois de Bernstein, muitos revisionistas apareceram. Alguns usando a autoridade do marxismo e até da Revolução Russa, como o stalinismo, outros usando sua posição de intelectual da pequena-burguesia acadêmica.

A modernidade dos nossos dias deu lugar a um tipo bem peculiar de revisionismo: o das redes sociais. Com a democratização dos meios de divulgação, não precisa ser um “intelectual”, como Bernstein, ou um burocrata autoritário, como Stalin, para distribuir as opiniões mais absurdas sobre o marxismo. Falando o português mais popular: qualquer Zé Mané se acha no direito de dar pitaco sobre o marxismo.

Recentemente, respondemos neste Diário a um artigo publicado pelo PCB afirmando que Marx era “eurocêntrico”, ou, para sermos mais justos, o artigo tentava defender Marx dessa acusação, mas aceitando-a em alguns casos.

Com o domínio do identitarismo nos meios acadêmicos e da esquerda pequeno-burguesa, está surgindo um viés novo de revisionismo: acusar Marx, Engels e o marxismo de modo geral de serem teóricos “brancos, europeus, homens” e, por que não, “cis” “heteronormativos” etc.

A youtuber Sabrina Fernandes, por exemplo, em um vídeo de quatro anos atrás intitulado “A verdade sobre Karl Marx”, falou que “Marx era brilhante intelectualmente, mas estúpido politicamente” e que “no quesito racial, Marx era um homem branco do tempo dele”.

Que a colocação é anti-marxista, é óbvio. Mas não é só isso. Ao falar que Marx era um estúpido politicamente, ela está simplesmente anulando aquilo que é um dos pilares do marxismo que é o problema da política. Quando Marx afirma que “os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo”, ele refere-se justamente à ação política. Assim, segundo Sabrina Fernandes, Marx seria apenas um intelectual burguês. Essa tese serve, inclusive, como uma desculpa para pretensos marxistas como Sabrina Fernandes se gabarem de seu “marxismo”, afinal não precisariam ser militantes que intervêm politicamente, porque o próprio Marx era um “estúpido” nesse quesito.

A afirmação de que Marx era branco está abaixo da crítica. O que significa isso? Nada. O que Sabrina quer dizer, no entanto, é que o fato de que Marx era europeu e homem desqualifica-o para alguma coisa que não sabemos exatamente qual é. Provavelmente, qualquer coisa que Marx tenha falado e que desagrada Sabrina Fernandes.

Para se livrar da crítica, no mesmo vídeo Sabrina fala que “Marx não escreveu uma bíblia”, ou seja, que Marx pode ser criticado e quem não entende isso é “ortodoxo”.

O problema não é saber se o marxismo é uma religião, coisa que obviamente é um absurdo de se dizer. O problema não é saber se Marx pode ou não ser criticado. O problema é dizer concretamente qual a crítica, o que deveria ser mudado. O marxismo é uma ciência e como tal está sujeito às comprovações práticas e a novas descobertas, isso é óbvio.

Na verdade, quem trata o marxismo como religião é Sabrina Fernandes. Não são considerações científicas, mas uma concepção moral do marxismo, pois o próprio criador do marxismo teria sido uma pessoa moralmente condenável por ser um “homem branco”.

Outro youtuber que deu para afirmar que Marx estava errado é Jones Manoel. Segundo o mais novo gênio do marxismo, o conceito de “lumpemproletariado” não tem “aplicação” em países “dependentes” como o Brasil. Mas não é só isso, Jones Manoel afirma que até mesmo a formulação de Marx e Engels tem “problemas sérios”.

Jones Manoel publicou essa aula de marxismo num tuíte de seis linhas.

Se Jones Manuel não entendeu o problema do lumpemproletariado ele não deveria culpar Marx e Engels. Não precisa simplesmente parar de usar um conceito porque não tem a compreensão dele, basta pesquisar e ler mais.

O youtuber não explica qual é o problema do conceito. Apenas afirma que é assim e o pobre seguidor dele no Twitter deve aceitar e pronto.

Marx definiu o lumpeproletariado, n’O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, como sendo composto por “libertinos arruinados, com duvidosos meios de vida e de duvidosa procedência” e “descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, licenciados de tropa, ex-presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos”.

Em resumo, o lumpemproletário seria o indivíduo à margem da sociedade, que não é um trabalhador assalariado, um camponês, um pequeno-burguês, um burguês nacional nem um grande capitalista monopolista nem membro de nenhuma outra classe social. Mesmo 150 anos depois, em um país de outro continente, fica claro que o conceito é perfeitamente aplicável não só ao Brasil mas a todo o mundo. Ou será que “o mundo mudou” e a época de Marx e Engels já foi ultrapassada, portanto suas ideias também já estariam superadas?

As palavras de Sabrina Fernandes e de Jones Manoel são expressão da típica desculpa dos revisionistas para, passando-se por marxistas, prostituírem o marxismo e transformarem-no em mero liberalismo burguês, na esteira do identitarismo. Lênin já atacava as Sabrinas e Jones de sua época, que advogavam a “liberdade de crítica” com o propósito escuso de subverterem a teoria revolucionária do proletariado.

Aqueles que não fecham deliberadamente os olhos não podem deixar de ver que a nova tendência «crítica» surgida no seio do socialismo não é mais do que uma nova variedade do oportunismo. Se não julgarmos as pessoas pelo brilhante uniforme com que elas próprias se vestiram, nem pelo título pomposo que a si próprias se deram, mas segundo a sua maneira de agir e as ideias que de facto propagam, tornar-se-á claro que a «liberdade de crítica» é a liberdade da tendência oportunista no seio da social-democracia, a liberdade de transformar esta última num partido democrático de reformas, a liberdade de introduzir no socialismo ideias burguesas e elementos burgueses. (Que fazer?)

Depois de todos os revisionistas que passaram pelo mundo, temos o tipo mais superficial: o revisionismo de rede social.

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