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Identitarismo

Um programa antimarxista e anticientífico para os LGBT

Esquerda pequeno-burguesa se afasta cada vez mais do marxismo ao incorporar teorias idealistas e reacionárias sobre a sexualidade

No último dia 12 de dezembro, o portal Esquerda Online, da corrente Resistência, do PSOL, publicou artigo chamado “8 pontos para a elaboração de um programa LGBTI+ sob uma visão de mundo socialista”. A matéria revela como grupos que se dizem marxistas — nesse caso, o Resistência se diz até mesmo “trotskista” — estão abandonando o pouco que mantinham de marxismo e substituindo por teorias opostas a ele. Logicamente que apresentam tudo como uma salada teórica em nome do marxismo.

Logo no primeiro parágrafo, o autor do texto afirma que “o marxismo revolucionário compreende o gênero e a sexualidade humanos como produtos da história, que assumiram as mais diversas formas e conteúdos nas mais diversas sociedades humanas.” Difícil encontrar uma frase tão antimarxista usando o nome do marxismo como esta.

O autor usa o marxismo para fazer uma afirmação que é o exato oposto do que diz o marxismo. Sem citar nenhum marxista revolucionário, o artigo atribui ao “marxismo revolucionário” algo que nunca foi defendido por um marxista. Para fazer uma afirmação categórica como essa, ao menos o autor deveria dizer qual marxista afirmou uma coisa desse tipo. Permita-nos julgar, portanto, que o que ele chama de “marxismo” são teóricos acadêmicos e burgueses que criaram teses totalmente idealistas e anti-científicas sobre o problema do sexo. E são esses teóricos — antropólogos, sociólogos, filósofos — que compreendem “o gênero e a sexualidade humanos como produtos da história”.

O que há aqui é uma distorção do problema. É correto afirmar que determinados comportamentos atribuídos aos homens e mulheres são produtos da história e da sociedade. Entretanto, isso é muito diferente de dizer que o sexo não é determinado pela biologia, mas “pela história”, como está dito no artigo. A ideia é anticientífica porque ignora que a própria condição biológica é parte da constituição da sociedade. O ser humano é uma espécie essencialmente social, mas seria um disparate desconsiderar o papel da biologia como parte da constituição da espécie. O mesmo vale para o sexo.

Pela mesma razão, a ideia formulada no texto é anti-materialista e idealista, pois não considera que as condições materiais, e nisso incluída as questões naturais, ou seja, da biologia, determinam as características sociais. Quem afirma tudo isso não somos nós, mas centenas de escritos dos marxistas, não quaisquer teóricos, mas os pais da matéria: Marx e Engels.

Conforme escreveu Engels, em seu pequeno, porém importante texto “O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem”: “mais os homens sentirão e compreenderão sua unidade com a natureza, e mais inconcebível será essa ideia absurda e antinatural da antítese entre o espírito e a matéria, o homem e a natureza, a alma e o corpo, ideia que começa a difundir-se pela Europa sobre a base da decadência da antiguidade clássica e que adquire seu máximo desenvolvimento no cristianismo.”

Segundo Engels, não há antítese entre “alma e corpo”, ou seja, entre o ser subjetivo, quer dizer, o pensamento, as ideias, a cultura, e o ser biológico. Isso significa que, para Engels, a constituição biológica é parte da espécie humana. Nem poderia ser diferente. Mais do que isso: essa constituição biológica modifica o ser.

Apesar disso, o artigo do Resistência acredita no oposto: “o materialismo histórico dialético reconhece o caráter social não apenas do gênero, mas também do sexo”, afirma o texto. Reconhecer o caráter social de algumas características humanas, está correto, mas isso não significa ignorar a importância da biologia na constituição do ser-humano. O sexo biológico, portanto, tem papel fundamental no problema.

A afirmação de que o “gênero e a sexualidade” são produtos da história” é não apenas falsa como antimarxista. Para provar sua tese estapafúrdia, o texto continua, fazendo uma manobra argumentativa: “mesmo enquanto expressão da biologia, a noção da existência de dois sexos é frágil, os corpos humanos são extremamente diversos.” Para provar essa afirmação, o autor do texto nos apresenta a estatística de que “cerca de 2% dos seres humanos são intersexo”. Ou seja, como uma minoria da população pode apresentar algum tipo de modificação em sua estrutura biológica sexual, não seria possível definir um padrão biológico para o sexo. É como alegar ser impossível estabelecer características gerais para definir uma determinada espécie animal porque alguns indivíduos nascem albinos. A existência de onças-pintadas albinas não impede que os padrões de manchas na pele seja um critério para definir a espécie.

Mesmo se aceitarmos os 2% apresentados no texto, eles não servem como argumento para dizer que o sexo biológico não pode ser enquadrado como uma característica definidora do ser-humano. O próprio argumento, metodologicamente falando, é anticientífico. Segundo afirmamos em artigo anterior, quando polemizávamos com o PCB, que defendia algo parecido com o que defende o texto do Resistência: “é possível sim estabelecer um padrão e isso não tem nada a ver com discriminar as pessoas que saem desse padrão. Um padrão não é definido arbitrariamente da cabeça de alguém, mas é perfeitamente identificável, inclusive estatisticamente. Não dá para ignorar isso apenas para fazer com que o mundo se encaixe numa teoria. Entender que há um padrão e que a biologia é predominante não significa ser contra a luta por direitos dos transsexuais.”

Vemos que a esquerda pequeno-burguesa abandonou o pouco de marxismo que dizia defender. Uma decadência intelectual misturada com uma completa adaptação a terias reacionárias e anticientíficas, difundidas pelo imperialismo.

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