O programa “Tição – programa de preto”, uma iniciativa do Coletivo João Cândido, do Partido Causa Operária (PCO)e veiculado no canal CausaOperariaTV (COTV), sendo um espaço voltado para debater questões do povo negro. No programa nº207, que foi ao ar no último 14, o tema era: “Um prelúdio de campanha golpista contra Lula?”, apresentado pelo Caio Túlio e Tiago Pires.
No programa do dia foram comentados:
Acontecimentos da semana: 190 anos da imprensa negra
Em 14 de setembro, comemora o 190 anos da imprensa negra, o primeiro jornal editado por negros e que tratou da questão do povo negro, da luta democrática dos interesses dos negros. Chamado “O homem de cor”, rebatizado posteriormente para “O mulato”, sua fundação foi em 14/9/1833, ainda no período da escravidão, por Francisco de Paula Brito (1809-1861), negro, jornalista, poeta, dramaturgo, e dono de tipografia. O jornal se dedicava a tratar principalmente de questões ligadas aos negros livres, da impossibilidade de ascensão, de acesso de homens negros livres daquela época para cargos públicos, etc. Brito, por sinal, foi o primeiro editor de Machado de Assis.
Nasceu pobre, mas aprendeu o ofício de tipógrafo. Fundou a “Sociedade Petalógica” que reuniu vários intelectuais, entre eles Gonçalves Dias, Joaquim Manuel Macedo, além da elite política, intelectual da época, incluindo o jovem Machado de Assis. O jornal tem vida curta, mas a iniciativa criou raízes na imprensa brasileira, o que estimulou a fundação de outros jornais dedicados à organização do povo negro.
Os jornais da imprensa negra brasileira tiveram vida breve, como “Menelick” e “O Clarim da Alvorada”, mas também teve mais longevo, como “A voz da raça”, editada pela Frente Negra Brasileira, que chegou a ter milhares de tiragens. Fora os citados, inúmeros outros jornais também foram lançados, porém, a maioria de vida curta. Atualmente em declínio, mas o espírito da imprensa negra foi herdado na imprensa do Coletivo João Cândido, a Revista João Cândido, mantendo a tradição da imprensa democrática do povo negro.
14/09/1867: publicação do 1º volume do O CAPITAL
Em 1867, Marx publica em Inglaterra a crítica da economia política. Em 14 de setembro fez 156 anos da publicação da obra imprescindível para a entender o mundo em que vivemos e sobretudo, como transformá-lo.
Campanha pela ministra negra no STF
Durante a reunião da cúpula do G20, na Índia, um outdoor na rua da capital Nova Déli, mostrava uma campanha pela ministra de STF negra. O PCO que faz campanha pelas ruas sabe como é difícil mobilizar o povo por falta de recursos financeiros. De repente, noutro continente, surge do nada um outdoor defendendo uma ministra negra. Isso é uma clara demonstração de que a eminência parda tem recurso de sobra.
Depois teve uma propaganda, em forma de vídeo, lançado pelo IDPN (Instituto de Defesa da População Negra) e a Coalização Negra por Direitos, com elenco de negros, super produzido, tem belíssima trilha de Dona Ivone Lara. O vídeo cita as personalidades negras de excelência como a cantora Iza, Daiane dos Santos e Conceição Evaristo, que uma menina negra poderia se espelhar.
Eis que a mãe diz para a filha que se ela quisesse, poderia ser ministra do STF. O vídeo tem a narração da atriz Taís Araújo, explicando que num país majoritariamente negro, nunca teve uma mulher negra no STF. O trabalho do elenco, profissional, transmite a esperança pelo futuro melhor, sendo compreensível o seu engajamento, de querer uma representante negra no STF.
Seria bom, se não fosse demagógico. Seria ótimo, se essa campanha não fosse mais uma armadilha para colocar no cargo alguém que o imperialismo deseja, para mais uma vez dar o golpe no Brasil e resultar novamente na crise financeira. Já foi denunciado pelo PCO que IDPN é a fachada de ONGs imperialistas, patrocinado por bancos.
Esse vídeo foi exibido no outdoor de Times Square, famosa praça da cidade de Nova Iorque, a mais famosa, por onde passam cerca de 40 milhões de pessoas por ano. Um local ideal para mostrar o poderio econômico de quem patrocina a propaganda, por ser o local com maior divulgação global em questão de meio de comunicação visual. E lembrando que o STF, tão bem falado no vídeo como algo a ser almejado, é o mesmo STF que deveria julgar os responsáveis pelos piores crimes ocorridos no Brasil.
Gravíssimo caso de Brumadinho, Mariana, que vitimou centenas de pessoas, até agora ninguém foi responsabilizado. E o STF também é responsável pela superlotação de presídios, majoritariamente composto por pessoas negras. Mais de 820 mil pessoas estão encarceradas no Brasil atualmente. Pelo tamanho do recurso investido, percebe-se que é uma pressão da burguesia imperialista para pressionar o presidente Lula para colocar uma negra no STF.
Lula indicou a advogada Edilene Lôbo que defendeu a ex-presidente Dilma, para TSE, sem que isso fosse motivo de comemoração entre a esquerda pequeno-burguesa. Tampouco a imprensa de direita, que acusou Lula de estar indicando a advogada da Dilma. Isso quer dizer que eles almejam uma determinada mulher negra, das ONGs imperialistas.
Essa política demagógica precisa ser denunciada. Fez campanha milionária, até usou o comediante Gregório Duvivier e outros meios de comunicação ditos de esquerda, que replicam esse conteúdo, da imagem de que uma mulher negra no STF, como se fosse uma coisa boa. Outro problema nessa campanha é a ausência de crítica ao STF e desmoralização do Lula, pois caso Lula rejeite, vão atacar de misoginia e racista. Lembrando que para o Bolsonaro, ninguém fez nada.
Julgamento do ato de 8 de janeiro
O primeiro condenado e ir para cadeia é sempre o negro. Morador da cidade de Diadema – SP, Grande ABC, foi condenado a 17 anos de cadeia, além de multa solidária de R$30 milhões, que serão divididas. No dia, usou uma camiseta com a frase “Intervenção militar já”, de 51 anos, era funcionário da Sabesp (foi demitido). Na votação, Zanin votou no mesmo sentido de Moraes, sendo que uma das acusações era “crimes de multidão”.
Ou seja, um absurdo, pois não tem provas de que ele estava armado, que ele quebrou, só existe a prova de que ele estava no local na data de 08/01/2023, que invadiu o Congresso Nacional e foi preso no local. Segundo Zanin, Moraes e outros ministros (Zanin, Moraes, Rosa Weber, Fux, Fachin, Carmen Lúcia, Dias Toffoli, Gilmar Mendes), que votaram favorável pelo relator. Barroso, André Mendonça e Nunes Marques manifestaram divergência.
Crime de multidão é como se as pessoas atuassem como uma masse de manobra, influenciando entre si, e todos sendo condenados por tudo. Como não é possível individualizar o crime, todos serão responsáveis pelo ato. Isso fere o princípio de individualidade da pena. Ex.: caso no local onde tem multidão ocorra um crime, qualquer pessoa que esteja no local mesmo não se envolvendo com o crime, será solidário pelo crime.
Ou seja, em qualquer manifestação de esquerda, caso aconteça algum ato considerado criminoso, pelo simples fato de estar no local, pode ser responsabilizado e ser preso. Lembrando que está em andamento a reforma administrativa do Lira. Em 2017 teve grande marcha de 100 mil pessoas na Brasília, será que agora pode conseguem repetir isso, fazer um ato contra a reforma administrativa do Lira na frente do Congresso Nacional?
Pois pela lógica do julgamento de “terroristas” de 08 de janeiro, qualquer ato pode ser considerado golpe de estado e pode dar 17 anos de cadeia para qualquer um. Individualização da pena é intransferível, cada um deve ser responsável por aquilo que fez, e não por atos feitos por outras pessoas. E essa tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, embora ninguém esteja armado, quem seriam os organizadores e mandantes do ato de 8 de janeiro? Quem deveriam ser condenados eram os mandantes, mas o julgamento está condenado bodes expiatórios, ferindo conjunto de direitos dos indivíduos.
A análise sobre o julgamento de 8 de janeiro continua. Programa em íntegra está disponível no link abaixo:
