Quando fechávamos esta edição, no dia de ontem, o Congresso peruano buscava chegar a um acordo para vota uma vez mais proposta de antecipação das eleições deste ano, em meio a uma gigantesca crise. Governo e Congresso, de maioria golpista, já haviam chegado a um acordo sobre a necessidade de adiantar as eleições, previstas para 2026.
A antecipação busca diminuir a enorme crise que o país vive, onde há quase dois meses ondas de fortes manifestações exigem a derrubada do governo golpista e a volta de Pedro Castillo, preso no dia 7 de dezembro após tentar dissolver o Parlamento e governar por decreto quando notou que seria derrubado.
Com o apoio das Forças Armadas, da OEA e, é claro, do governo dos Estados Unidos, que esteve à frente de 100% dos golpes de Estado em nosso continente, a “Michel Temer” do Peru, a ex-vice-presidente Dina Boluarte, tomou posse após prender o presidente Pedro Castillo, e comandou uma violenta repressão contra as manifestações populares que se levantaram em todo o país, exigindo, além da volta do presidente, a destituição do Congresso Nacional e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Mais de 70 pessoas foram assassinadas pelas forças de repressão, mas os protestos não pararam de crescer no interior do País e, no mês de janeiro, ganharam força com marchas em direção à Capital, Lima, que reuniram dezenas de milhares de pessoas de todas as regiões.
Além dos mortos, há centenas de feridos, inclusive muitos destes em situação grave. O governo impôs estado de emergência em quase um terço do país, incluindo a capital Lima e áreas do norte ao sul do território.
É justamente nas províncias mais pobres e nas áreas operárias onde o apoio ao presidente deposto Castillo é maior e onde se dá grande parte da resistência ao golpe de Estado, com verdadeiras mobilizações populares que se espelham pelo centro do país.
Os povos Quechua e Aymara, indígenas peruanos, por exemplo, se concentraram na praça das armas de Juliaca, no Estado de Puno, desde o dia 26 de janeiro, em greve por tempo indeterminado. Todos os dias há combativos protestos no local.
No começo da noite de ontem, não havia um consenso sobre a data para a realização do novo pleito, se no final deste ano ou no começo de 2024. De qualquer forma, o Congresso golpista e o governo foram forçados a recuar por conta da força e da combatividade das manifestações que sacudiram o país.
Os protestos do Peru estão mostrando o caminho para derrotar os golpes de Estado: a mobilização popular, nas ruas, com as armas dos trabalhadores, com as greves e as ocupações.
Em toda a América Latina, os processos golpistas só foram detidos (como na Venezuela) ou derrotados (como na Bolívia) por meio de uma intensa mobilização da classe trabalhadora. Eles não podem ser parados com discursos e ações no judiciário (do lado do golpe em 100% dos casos). É a força da mobilização da classe operária e de demais setores oprimidos que pode fazer recuar a burguesia golpista.