Neste domingo (14), milhões de pessoas deverão comparecer às urnas na Turquia para decidir o próximo presidente do país. As eleições acontecem em meio a uma grande tensão, uma vez que o atual presidente, Recep Erdogan, filiado ao Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) e se que tornou um desafeto para os norte-americanos, é candidato à reeleição e enfrenta um candidato que está recebendo apoio explícito da Casa Branca, Kemal Kilicdaroglu, do Partido Republicano do Povo (CHP).
Apesar de ser o atual presidente do país e ser acusado por seus adversários de governar “com mão de ferro”, Erdogan, ao que tudo indica, não terá um caminho fácil até a reeleição. Institutos de pesquisa mostraram, recentemente, que seu principal concorrente estaria na frente. A pesquisa Konda deu o índice de apoio a Erdogan em 43,7%, e a Kilicdaroglu, em 49,3%. Seja como for, dificilmente o pleito será decidido em turno único.
A situação se tornou especialmente favorável para Kemal Kilicdaroglu quando outro candidato, Muharrem Ince, abriu mão da disputa. Após a desistência de Muharrem Ince, o adversário de Erdogan teria crescido 5%. Aliados de Erdogan acusam os Estados Unidos de terem sido o principal fator por trás da desistência, tendo pressionado o candidato por meio de escândalos e denúncias, incluindo o vazamento de uma suposta “sex tape”.
A interferência dos Estados Unidos, ao que parece, é muito mais profunda. É possível ver com clareza a tentativa de criar uma indisposição com o presidente turco no tratamento da imprensa imperialista a Erdogan, que o chama de “ditador” e frequentemente o compara ao presidente russo, Vladimir Putin.
A crise expressa nas eleições é o resultado direto dos acontecimentos de 2016, quando um golpe militar visivelmente orquestrado pelos Estados Unidos contra Erdogan fracassou porque houve uma enorme mobilização popular capitaneada pelos seus partidários. A mobilização foi tamanha que os militares que saíram às ruas acabaram sendo detidos pela própria população. A partir daí, as relações entre a Turquia e a União Europeia, os Estados Unidos e o imperialismo em geral começaram a se deteriorar rapidamente, levando a uma grande aproximação de Erdogan dos russos.
Algo que merece destaque é o fato de que, embora a Turquia seja membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Erdogan se recusou a enviar armas para a Ucrânia. Recentemente, em um ato que foi recebido com bastante estardalhaço pela imprensa imperialista, o presidente russo Vladimir Putin ajudou Erdogan a fundar a primeira usina nuclear turca. Esses fatos mostram que está se formando um bloco cada vez mais compacto na região que engloba o Oriente Médio, o Leste europeu e parte do continente asiático contra o imperialismo. A Turquia, além de ter uma posição geográfica muito importante, estando situada mais ou menos no meio dessa região, é também bastante armada militarmente.
A evolução do governo turco rumo aos russos se dá, também, no mesmo momento em que a Arábia Saudita, um pilar de sustentação da política do imperialismo no Oriente Médio, vem também se deslocando rumo aos russos e chineses. Em um gesto surpreendente, Arábia Saudita reintegrou a Síria à Liga Árabe e sinalizou seu interesse em colocar fim na Guerra do Iêmen. Essa é a pior situação em que o imperialismo se encontra desde a Segunda Guerra Mundial.