A juíza Ana Beatriz Mendes Estrella, da Justiça do Rio de Janeiro, decretou a prisão temporária, por 30 dias, de quatro líderes de torcidas organizadas, após pedido da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). São eles Anderson Azevedo Dias, Fabiano de Sousa Marques, Bruno da Silva Paulino e Anderson Clemente da Silva, presidentes das torcidas Young Flu, Força Jovem Vasco, Torcida Jovem do Flamengo e Raça Rubro-Negra, respectivamente.
Eles foram detidos devido aos recentes episódios de violência antes de clássicos, como o Flamengo x Vasco do dia 5 de março. Eles são acusados — mas ainda não foram condenados — de organização criminosa, lesão corporal grave e tentativa de homicídio. Uma briga entre torcidas antes do Clássico das Multidões, no dia 5, deixou sete feridos na região do Maracanã.
Segundo a juíza, as prisões são “necessárias” para as investigações criminais e para a garantia da ordem pública, já que os acusados ocupam posições de comando dentro de suas torcidas, sendo responsáveis pelas ações dos seus subordinados.
No entanto, a decisão não passa de uma medida arbitrária. Primeiro, os dirigentes das torcidas não foram condenados, mas já estão presos. À medida que aumenta a ditadura do Judiciário, mais o recurso das prisões preventivas está sendo usado. Assim, prende-se antes mesmo do veredito do julgamento. Segundo, a medida é um ataque ao conjunto das torcidas organizadas e não a um determinado indivíduo que teria cometido um crime.
No dia 10 de março, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, baniu novamente as torcidas organizadas dos quatro grandes clubes do estado: Raça Rubro-Negra e Jovem Fla (ambas do Flamengo), Força Jovem do Vasco, Young Flu e Fúria do Botafogo.
Estas torcidas haviam sido recentemente liberadas após uma anistia aprovada pela Assembleia Legislativa do Rio. Suas punições foram suspensas enquanto negociavam um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público e a Justiça. Enquanto isso, os líderes das torcidas organizadas estavam apoiando um acordo para que, em caso da ocorrência de crimes, fossem punidos os indivíduos e não o conjunto da torcida.
O banimento realizado por Cláudio Castro é mais um abuso contra o direito de organização e expressão. Aliás, isto ocorreu sem haver um aviso às torcidas. A Fúria Jovem do Botafogo, por exemplo, denunciou que foi pega de surpresa ao ser impedida de carregar seus materiais para o jogo entre o Alvinegro e a Portuguesa-RJ, em Volta Redonda, no dia 8.
Entre as medidas que Castro retomou está a exigência de que torcedores envolvidos em confusões nos estádios fiquem retidos em delegacias durante o horário das partidas de seus times.
As torcidas organizadas são o coração dos clubes nacionais. São elas que sustentam seus times, cotizam caravanas para viajar aos estados e apoiar os clubes, fazem barulho nas arquibancadas para apoiar o time, e protestam contra os desmandos dos cartolas. A perseguição às torcidas organizadas — utilizando-se do pretexto de crimes cometidos por indivíduos (CPF, não CNPJ) — é mais uma forma de controle do futebol pelos especuladores capitalistas para tirar do povo brasileiro o seu patrimônio: o futebol e os clubes.