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Antônio Vicente Pietroforte

Professor Titular da USP (Universidade de São Paulo). Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (1997) e doutorado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2001).

Língua Portuguesa

Substantivos concretos e abstratos

Os graus de concretude ou abstração dependem do discurso

Nas gramáticas, encontra-se a classificação dos substantivos em concretos e abstratos. De acordo com as definições encontradas na “Nova Gramática da Língua Portuguesa”, de Celso Cunha e Lindley Cintra, as definições são estas: (1) os substantivos concretos designam os “seres propriamente ditos, isto é, os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um gênero, de uma espécie ou de um de seus representantes”; (2) os substantivos abstratos designam “noções, ações, estados e qualidades, considerados como seres”. Dessa maneira, “Carlos”, “Campinas”, “PCO” e “professor” são substantivos concretos e “liberdade”, “viagem”, “calma” e “beleza” são substantivos abstratos.

Embora aceitas tranquilamente, tais definições apresentam algumas questões. As primeiras delas dizem respeito ao entendimento dos conceitos de “seres propriamente ditos” e das coisas consideradas “como seres”, simplesmente porque nos faltam definições precisas de “ser”. Outra questão está em se considerar a língua, segundo aquelas definições, enquanto simples nomenclaturas. Para compreender melhor esses questionamentos, devemos nos conscientizar de que as palavras nunca aparecem fora de determinado discurso. 

A palavra “caos”, por exemplo, seria classificada enquanto substantivo abstrato, pois ela designa uma noção. Entretanto, vale a pena ler este trecho da “Teogonia”, de Hesíodo, traduzido por Jaa Torrano: (…) / Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também / Terra de amplo seio, de todo sede irresvalável sempre, / dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado, / (…). Na “Teogonia”, narram-se os nascimentos dos deuses gregos; nela, o “Caos” não pode ser lido enquanto simples noção, porque, na cultura grega, o “Caos” é entidade divina.

O mesmo acontece com o substantivo “Deus” ao designar o Deus único da tradição judaico-cristã. A palavra “Deus”, isoladamente, não é substantivo concreto nem substantivo abstrato; todavia, quando aparece na Bíblia, ela ganha os sentidos próprios dessa tradição religiosa. No seguinte trecho do “Gênese”, “No princípio Deus criou o céu e a terra”, o substantivo “Deus” é substantivo concreto, pois, nesse discurso, Deus assume existência concreta; diferentemente, segundo o materialismo histórico, “Deus” pode ser considerado noção abstrata e expressão das ideologias das classes dominantes, sendo, portanto, substantivo abstrato.

Os graus de concretude ou abstração de determinada noção dependem das definições discursivas; se para o filósofo a palavra “vida” traduz noções abstratas, para os biólogos, a “vida” é conceito bastante concreto.

Na próxima coluna de língua portuguesa, estudaremos os substantivos coletivos.

(as ilustrações desta coluna são poemas visuais de Fernando Aguiar)

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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