O site de jornalismo investigativo publicou uma grave denúncia sobre o lobby anti Síria nos Estados Unidos e seu impacto negativo sobre as condições de vida da população síria. O jornalista Hekmat Aboukhater se registrou sob pseudônimo e participou de uma reunião organizada pelo Conselho Sírio Americano (SAC em inglês) onde teve acesso à estratégia de propaganda difundida por esses grupos pró-imperialistas. Um dos principais focos do encontro foi a orientação para que os membros do SAC atuem em defesa da lei HR 3202 que proíbe qualquer ação oficial no sentido de “reconhecer ou normalizar” as relações dos Estados Unidos com a Síria enquanto o país for governado por Bashar al-Assad.
No encontro intitulado “Mobilizando para HR 3202: Engajamento no Distrito”, o jornalista teve contato com o esforço realizado pelo lobby em defesa do fim da Licença Geral 23, que permitia o envio de ajuda humanitária para a Síria. A licença foi emitida em fevereiro deste após um grande terremoto ocorrido na Turquia e na Síria, que vitimou cerca de 25 mil pessoas e afetou milhões. Isso num país já assolado por mais de uma década de guerra civil impulsionada pelo imperialismo, especialmente o norte-americano. A decisão de suspender a licença após os seis meses iniciais de duração foi condenada pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia:
“Os Estados Unidos novamente enfatizaram sua indiferença em relação pelas necessidades de milhões de sírios e seu desrespeito pelas tarefas essenciais na restauração de infraestruturas civis críticas.”
Segundo os organizadores do encontro “as sansões afetam apenas o governo sírio e não a sua população”. Uma afirmação completamente deslocada da realidade, como o próprio jornalista destaca ao lembrar de entrevista realizada pelo Greyzone com Alena Douhan, Relatora Especial da ONU sobre o impacto negativo das medidas coercitivas unilaterais no gozo dos direitos humanos. Segundo ela, o impacto das sansões unilaterais na população síria podem ser equipadas com os impactos do conflito armado no país. Ou seja, é uma espécie de guerra dentro da guerra, que flagela a população de conjunto. Douhan também publicou trabalhos destacando o impacto devastador das sansões econômicas na Venezuela.
Segundo Aboukhater, o encontro poderia ser mais honestamente chamado de “workshop sobre como matar civis de fome”. Liderando a atividade estava Wa-el Alzayat, veterano do Departamento de Estado que se orgulha de ter servido com a atual diretoria do USAid, Samantha Power, e o ex-embaixador dos Estados Unidos na Síria, Robert Ford. Logo após o terremoto devastador, ele publicou um artigo no Washington Post intitulado “Não suspensa as sanções à Síria para ajudar as vítimas do terremoto”.
Wa-el Alzayat é CEO da Emgage, descrita como uma “família de organizações” e que é pesadamente financiada pela Open Society com o objetivo oficial de “aumentar o engajamento cívico muçulmano americano”. Contraditoriamente, a matéria do Greyzone expõe que investigação realizada pela Eletronic Intifada mostrou que ela mantém vínculos com organizações pró-Israel e ignora a causa palestina. Na capa do site desta terça-feira, o site da Emgage trazia em destaque uma publicação com o título “Empoderando muçulmanos americanos engajados”, o linguajar típico da política identitária promovida pelos Estados Unidos, além de oferecer programas de “treinamento de líderes”, algo que encontramos em quase todas as grandes ONGs imperialistas, inclusive aqui no Brasil.
A matéria do Greyzone cita também o trabalho da Coalização Sírio Americana (ACS em inglês), que homenageia os defensores da guerra na Síria e busca silenciar aqueles que defendem o fim da guerra. Recentemente, lamentaram a morte do falcão John McCain, que seria para eles “um verdadeiro patriota americano e um herói para a Síria”. Um dos alvos da ACS é justamente o portal Greyzone, por conta de suas matérias investigativas que expõem as ligações desses grupos com o aparelho de Estado norte-americano. Por conta disso, esse lobby anti Síria atua para minar as possibilidades diplomáticas.
Confira a matéria na íntegra:
