Há exatamente cinco anos, depois de dois dias de intensa mobilização de milhares de pessoas junto à sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, o – então – ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva se entregava à Polícia Federal, para ser conduzido às masmorras de Curitiba, por ordem do juiz facista Sérgio Moro que, depois, como prêmio pela condução dos processos criminosos da lava jato viria a ser nomeado ministro da Justiça do presidente do qual foi o maior eleitor, Jair Bolsonaro.
Nós do PCO, temos orgulho, de termos
estado entre os milhares de metalúrgicos, sem terras, professores, militantes de base do PT, da CUT, do MST etc., com nossas bandeiras vermelhas e centenas de cartazes que cercavam o Sindicato e toda a região, entre os que formavam o coro: “Não se entrega!” (o que muitos fizeram questão de esconder, até mesmo “biógrafos”
oficiais). Fomos também o único Partido que – cumprindo nosso dever revolucionário de se opor ao golpe da direita contra os trabalhadores – fez uma campanha prévia contra a prisão de Lula, quando muitos semeavam a ilusão de que isso seria impossível de acontecer. Meses antes do ocorrido, estivemos nas ruas colando cartazes, distribuindo panfletos e adesivos, procurando destacar que só a mobilização dos trabalhadores e das suas organizações poderia impedir esse brutal ataque.
Para se entregar, Lula e os defensores desta política tiveram que contrariar e, literalmente, passar por cima da vontade milhares de militantes combativos que, junto conosco do PCO, se opunha à sua entrega e aos falsos prognósticos de setores da esquerda e da sua defesa de que se entregar seria o caminho mais breve para reconquistar sua liberdade. O próprio Lula em várias conversas e discursos reconheceu, posteriormente, o quanto essa politica estava dominada pela ilusão de que se podia obter do judiciário um devido procedimento legal que garantisse sua liberdade e o seu direito líquido e certo, do ponto de vista constitucional, de disputar as eleições de 2018. Prognósticos foram feitos pelos setores que defendiam
essa política de que Lula não chegaria a ficar presos por mais de 10 dias, depois 30 e, assim sucessivamente; expressando uma vã ilusão de que impedir uma vitória fundamental como essa para a direita pudesse ser conquistada por uma combativa política de mobilização das massas trabalhadoras, que seriam justamente, junto com Lula, as maiores vítimas dessa segunda etapa do golpe de Estado que, em 2016, havia derrubado a presidenta Dilma Rousseff.
Os lances que se seguiram, quando toda a direita, do PSDB aos comandos militares, passando pelo judiciário, comemorou a posição de Lula e se articulou para impedir sua candidatura e, dessa forma, fraudar a vontade popular que apontava que Lula candidato seria eleito presidente, reafirmaram a covardia politica da maioria da esquerda e sua política ilusória de derrotar a direita nos tribunais e em eleições viciadas sem a presença do seu candidato.
Junto com os setores mais combativos do PT e do movimento operário, impulsionamos a campanha por “É Lula ou Nada!”, para assegurar a inscrição da candidatura presidencial do ex-presidente no TSE, se opondo aos “arregados” que defendiam “virar a página do golpe”, o “plano B” e outras “táticas” que significavam se curvar diante da vontade da direita de que o movimento de luta dos trabalhadores abandonasse Lula, ou como diria Marcelo Freixo (então no PSOL) tempos depois, que a luta pela sua liberdade não unificava a esquerda, não era uma prioridade.
A derrota que significou a prisão de Lula e a cassação de sua candidatura, sempre acompanhada de uma campanha de setores da esquerda de que poderíamos sair vitoriosos se limitássemos a luta apenas ao terreno eleitoral e sem conquistar a sua liberdade, tiveram desastrosas e amargas consequências para a vida de milhões brasileiros duramente atingidas pelos anos de governo Bolsonaro e pelos ataque que ele e toda a direita desferiram contra o povo trabalhador e a economia nacional.
Dentre as muitas lições fundamentais, que precisam continuar sendo aprendidas neste momento:
- o fracasso da política de crença na burguesia golpista que antes, durante e depois de 2018, continua agindo em defesa exclusivamente de seu próprios interesses;
- a dura realidade de que a direita só pode ser derrotada (como se viu na luta pela liberdade de Lula e na campanha por sua vitória nas eleições) por meio de uma intensa mobilização dos trabalhadores e de suas organizações;
- a necessidade de enfrentar e derrotar a direita, no terreno da luta dos trabalhadores, para fazer valer as necessidades reais e efetivas do povo trabalhador – que não podem ser conquistadas por meias-medidas -, que nunca vieram e não virão (ainda mais diante do agravamento da crise) de num acordo com a direita golpista, mas com a sua derrota nas ruas;
- a necessidade de fortalecer a organização própria dos explorados (Comitês de Luta, sindicatos etc.), principalmente por meio de um Partido próprio, operário e revolucionário, que baseie sua ação, sua luta política, na análise marxista e concreta da realidade (e não nas ilusões e vontades dos indivíduos ou grupos).
- a necessidade da esquerda, das organizações do povo explorado de terem uma política própria diante da crise, para não ficar a reboque das “saídas” dos diferentes setores da burguesia que disputam, e por hora abocanham, gordas fatias do poder politico, até mesmo nos governos da esquerda.
Que essas e muitas outras lições sirvam para nortear a luta da esquerda no próximo período, no momento em que temos pela frente a tarefa de buscar uma vez mais a unidade da esquerda, dos setores classistas contra os ataques da direita e na defesa das reivindicações populares, como propõe o Manifesto da Conferência Nacional dos Comitês de Luta, a ser realizado de 9 a 11 de junho e que, agora, já conta com cerca de 1.000 adesões de dirigentes da esquerda e do movimento operário de todo o País.