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Mais repressão

“Sem anistia dos colonizadores”, a nova loucura identitária

Articulista da Folha de S.Paulo consegue criar a tese absurda de que a calamidade dos ianomâmi serve de justificativa para mais repressão

O identitarismo, ideologia criada pelo imperialismo para sustentar as “democracias capitalistas”, tem como uma de suas características mais reacionárias a sanha repressiva. Não importa qual a situação, o aumento da repressão sempre é indicado como solução, é o caso de um artigo publicado na Folha de S.Paulo intitulado “Extermínio yanomami é resultado de séculos de impunidade” escrito pelo autor identitário Itamar Vieira Júnior. Ele faz uma ligação bizarra entre a calamidade dos ianomâmi e a política do “sem anistia” contra os bolsonaristas do 08/01, tentando criar mais um anteparo ideológico para o aumento da repressão, como se isso pudesse resolver a questão do índio no Brasil.

O texto começa com uma homenagem direitista ao Poder judiciário: “Uma sociedade sem os pressupostos da justiça está predestinada ao colapso, à completa anarquia, onde os interesses individuais se sobrepõem aos coletivos.” Mas é curioso, porque naturalmente o autor é adepto do regime capitalista, da democracia burguesa, cujo sistema político se resume à imposição dos interesses individuais aos coletivos.

Ele então segue: “A bestialidade que tomou conta de Brasília no primeiro domingo pós-posse do presidente e de governadores é a mesma que devasta o território yanomami e os de outras sociedades indígenas. A tragédia que os assola é brutal e violenta. É um crime contra a humanidade. É um genocídio”. Aqui, apesar de a política dos governos da direita em relação aos ianomâmi poder ser considerada um genocídio, o ataque maior se dá não contra essa direita poderosíssima, mas sim contra manifestantes pé-rapados. Não é possível comparar uma manifestação que invade prédios públicos, algo comum em todo o mundo, com uma situação de fome e calamidade. A comparação nem faz sentido, se usa a palavra bestialidade e apenas isso, nenhum argumento que relacione os protestos com a crise em Roraima.

Depois desse primeiro argumento absurdo surgem os seguintes: “Colonizadores foram anistiados. Escravocratas também. Igualmente os militares pelos crimes do passado e do presente.” O conceito de anistia ao colonizador beira o surrealismo. O conceito abstrato significa perdão, contudo, em geral, a anistia é usada para perdoar aqueles que foram punidos por crimes ou até mesmo punidos sem condenação legal. Não é o caso dos colonizadores, e nem dos escravocratas. Os militares, por sua vez nem foram condenados, muitos dos criminosos da ditadura militar brasileira que ainda estão vivos poderia ser julgados.

Trata-se de uma clara manobra para igualar os colonizadores portugueses e os bandeirantes aos piores assassinos que pisaram neste país, os militares do século XX e seus herdeiros. Mais ainda: se os ianomâmi estão vivendo um inferno, a culpa é tanto dos sucessivos governos brasileiros quanto dos portugueses que primeiro os conheceram. Como diz o título de seu artigo, são “séculos de impunidade” que levaram ao “extermínio yanomami”. No final das contas, o leitor ingênuo e desavisado poderia até mesmo acreditar que o grande pecado, o original, foi o descobrimento do Brasil pelos portugueses, que iniciou a chaga dos índios e a história de impunidade no nosso País.

Esse uso abstrato da palavra anistia é, na verdade, um mecanismo da burguesia para remover o direito democrático de defesa de todos os cidadãos. Da forma como é usado, os condenados nem mesmo foram julgados e se pede o “sem anistia”, é uma defesa da arbitrariedade do Estado, do absolutismo, um retorno à idade média. Itamar Vieira resume: “A anistia nos trouxe até aqui” e também: “A falta de justiça nos trouxe até aqui.” Quando a realidade é o extremo oposto, a repressão, que no Brasil é gigantesca, é o que sustenta a opressão dos brasileiros. Foi por meio da prisão de Lula que Bolsonaro se elegeu, os trabalhadores lutaram por 580 em defesa da sua anistia, contra a arbitrariedade da “justiça”, o judiciário para ser mais preciso.

O autor então compara uma situação na Alemanha com o caso do 8 de janeiro brasileiro: “Em dezembro, a polícia alemã desarticulou uma rede de extrema direita que pretendia um golpe para restituir a monarquia. Para os procuradores alemães, tratava-se de um grupo terrorista que visava atingir o regime democrático. Foram realizados indiciamentos, prisões, restando à sociedade a confiança na Justiça para julgar e punir. Por aqui, prisões também foram feitas, mas sem chegar aos mentores do ato golpista.” O caso alemão é de um grupo muito minoritário dentre a própria extrema-direita, que está atualmente organizada em grandes partidos novamente. Já os mentores do ato do 8 de janeiro são a alta cúpula das forças armadas, um grupo que justamente nunca foi tocado pela “justiça”.

Aqui Itamar Vieira repete o mesmo erro de um grande setor da esquerda. Se coloca contra os atos do dia 8 de janeiro, que não foram uma tentativa de golpe, mas sim uma desestabilização do governo, contudo ignora a realidade de que para os “mentores” serem combatidos é preciso um gigantesco combate contra os militares que constituem quase um 4º poder. O judiciário brasileiro nos últimos anos pegou peixes pequenos do bolsonarismo, nunca passou nem perto do ex-presidente e dos mais importantes membros do governo. Está muito claro para todos que o judiciário não irá passar perto de nenhum general. É por isso que os defensores do “sem anistia” sempre defendem a justiça vagamente, se colocam a política as claras se torna evidente a sua deficiência. Só a classe operária pode combater os militares e nesse combate o judiciário não assume o lado dos trabalhadores.

Pelo contrário, o judiciário, em um regime político de exploração de uma classe pela outra, será sempre um dos principais instrumentos dessa exploração. Vieira ignora completamente o caráter de classe da “justiça”, causa maior da impunidade histórica de todos os crimes contra o povo. E, nos últimos anos, particularmente, esse Poder do Estado burguês está totalmente controlado pelo imperialismo, em especial o norte-americano. É uma arma do imperialismo contra o povo. Se esboça uma suposta luta contra a impunidade, é para punir quem já morreu há séculos com objetivos políticos, como vemos atualmente na luta contra os moinhos de vento bandeirantes – isto é, ao mesmo tempo em que se ataca uma parte fundamental da construção do Brasil para enfraquecer o País diante do imperialismo, esse ataque serve para encobrir os verdadeiros e atuais criminosos, ou seja, o próprio imperialismo e seus agentes.

O texto continua usando a Alemanha de referência: “Nas ruas de inúmeras cidades da Europa, é possível encontrar as ‘stolpersteine’, que significa ‘pedras do tropeço’ em uma tradução livre. São pequenas chapas douradas fixadas nas calçadas em frente a casas de onde vítimas do Holocausto foram retiradas para a morte. Somente em Berlim, são quase 9.000 placas com nome, sobrenome, data de nascimento e de morte de pessoas que viveram naquele exato local.” O exemplo é interessante, pois demonstra a falha do argumento. Quem derrotou os nazistas foi o Exército Vermelha e as guerrilhas revolucionárias dos trabalhadores da Europa, não foi nenhum tribunal. O fascismo só pode ser derrotado pela mobilização dos trabalhadores.

E ainda mais interessante, quando acabou a guerra e a Alemanha foi derrotada, URSS, EUA e Inglaterra realizaram um acordo para reestabelecer a ordem na Europa e no mundo. Foi nesse momento que a “justiça” voltou a assumir a dianteira. Foi assim que um enorme número de nazistas foi parar nos EUA a serviço do exército norte-americano e da OTAN, e uma parcela menor foi trabalhar na União Soviética a serviço do stalinismo. É isso que acontece quando a “justiça” e a “democracia” assumem o comando, as dezenas de milhões de vítimas da guerra continuam mortas, “pedras de tropeço” são erguidas em sua lembrança. Já os criminosos são todos anistiados, pois são úteis aos interesses do imperialismo.

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