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Rui Costa Pimenta

“Se a burguesia tiver a oportunidade, vai se livrar do governo”

Presidente do Partido da Causa Operária (PCO) apresentou um informe político, destacando principalmente a a conjuntura internacional, durante reunião do Comitê Central

O Comitê Central Nacional do Partido da Causa Operária (PCO) se reuniu, com seus membros titulares e suplentes, bem como convidados, no último domingo (21) em São Paulo. Como parte fundamental das discussões, o presidente da organização, Rui Costa Pimenta, apresentou um informe político no qual explicou a situação nacional mas enfatizou a crise na política internacional do imperialismo.

Abaixo, leia um resumo do informe:

De um ponto de vista mais geral, temos um governo que se apresenta como um governo extremamente contraditório. Produto tanto da situação política, como do próprio regime político, como do próprio PT. Temos, por um lado um governo que se propôs a fazer uma série de reformas importantes, mas se vê travado por sua fraqueza institucional, praticamente não tem nada no parlamento, como ele se vê também entravado por questões institucionais como no caso da Eletrobrás e na Petrobras, onde uma série de normas que foram aprovadas anteriormente ficam engessando o governo para agir no sentido das reformas que se propôs a fazer. 

Esse engessamento não é casual, ele foi previsto. A burguesia fez um balanço dos governos do PT e procurou restringir os poderes do Executivo, de forma que o presidente da República não pudesse ter uma margem de manobra muito grande diante da política neoliberal. A política neoliberal foi transformada em grande medida numa instituição de Estado. Você não pode gastar, não pode mexer nas estatais, não pode voltar atrás em nada. É uma transformação daquilo que é uma orientação política numa questão institucional. 

O governo vive esse impasse. De um ponto de vista geral, colocando em perspectiva, mais cedo ou mais tarde o governo vai se colocar diante da seguinte questão: ou o governo rompe com esse regime de força ou será derrubado. O governo Lula não é um governo que a burguesia tem disposição de tolerar. Ele é um governo que a burguesia está tolerando por questões muito especiais. Se a burguesia tiver a oportunidade, ela vai se livrar do governo. Tem muita gente acreditando que a burguesia vai respeitar as regras do jogo. É tudo bobagem. Lógico que a burguesia vê isso como uma atitude drástica, mas não como uma impossibilidade. Se o governo continuar nessa situação de estrangulamento, ele vai perder o apoio popular. E se perder o apoio, vai sofrer um ataque muito duro da burguesia. 

Quer dizer, o que segura o governo é que a burguesia tem medo das massas, embora as massas estejam em uma situação de relativa paralisia. Existe o risco de acontecer no Brasil o que aconteceu na Venezuela ou na Bolívia. Na Venezuela, foi fulminante. A população saiu às ruas numa mobilização revolucionária, reestruturou o regime político e deu ao chavismo uma longa vida política. Logicamente que o imperialismo e o grande capital tiraram as conclusões dessa situação, eles estão procurando evitar o desenvolvimento neste sentido. No Brasil, se isso acontecesse, seria um desastre incalculável. A Venezuela é um país pequeno, aqui não. Aqui, embora seja mais difícil uma mobilização desse tamanho, o risco é muito grande. Quer dizer, se acontecer, o desastre será muito grande. Ou seja, ou Lula é neutralizado pelas forças políticas, ou ele parte para uma política de confronto.

Ele vai ser forçado a desafiar, não é que dependa exclusivamente dele. À medida em que a situação for evoluindo, ele vai se ver confrontado. Lógico que a tendência é não enveredar por uma política de confronto. Mas não podemos excluir essa possibilidade. 

Aqui eu quero introduzir um aspecto fundamental na situação política, que é a situação internacional. Ela está se deteriorando num ritmo muito rápido no mundo inteiro. Acho que no século XX nunca vimos uma situação como essa, nem mesmo na Segunda Guerra Mundial. A situação é muito dramática. Vamos enumerar os acontecimentos que mostram isso.

Se a gente fosse traçar uma espécie de cronograma, a gente poderia pegar como acontecimento político o colapso da dominação política sobre o Afeganistão. Depois da crise econômica e social, uma série de coisas aconteceram, entre mobilizações revolucionárias das massas e golpes de Estado promovidos pelo imperialismo, até que a coisa desaguou para uma derrota extremamente humilhante no Afeganistão. Do nada, um grupo de guerrilheiros famélicos, com armas limitadas, derrota as forças armadas do imperialismo, que havia gasto uma enorme quantidade de dinheiro. Foi um desmoronamento, os EUA não tiveram controle nenhum sobre o que aconteceu. Foi uma espécie de retirada do Vietnã, piorada. O Governo Biden, que foi uma vitória do aparato central sobre Trump, sofreu um grande baque. O governo quase afundou. 

Como consequência direta, temos a questão da Ucrânia. Da questão da Ucrânia, passamos para Taiwan, com a China levantando a voz em relação a Taiwan. E o imperialismo provocando a China, com medo de uma reação em cadeia. Então, nós tivemos a aproximação de vários países do bloco Rússia-China. O mais importante deles até o momento é a Arábia Saudita. A mudança da política externa da Arábia Saudita causou uma situação de crise total. No Oriente Médio, temos três países fundamentais: Irã, Arábia Saudita e Egito. O Egito e a Arábia Saudita tinham se mantido fiéis ao imperialismo. A mudança da Arábia Saudita marca uma mudança de rumo. Podemos ver os efeitos dessa mudança de rumo: a Síria foi readmitida na Liga Árabe, o Irã e Arábia Saudita reataram relações, o Egito está se aproximando dos russos… Temos que considerar também que o mundo inteiro está assistindo a isso, à decomposição das relações de dominação do imperialismo. Um problema que não estamos abordando devidamente na nossa imprensa é o caso da África. Temos o Mali e agora o Sudão, onde os militares deram um golpe de Estado no intuito de estabilizar a situação, só que esses militares apoiados pelo imperialismo estavam apoiados em uma onda de crise, que só tende a se aprofundar porque o imperialismo roubou um pedaço do Sudão e criou outro país. Quando eles incorporaram as milícias às Forças Armadas, elas se negaram. O motivo era óbvio: mais cedo ou mais tarde, seriam aniquilados pelo governo. A reação diplomática foi muito interessante: a Arábia Saudita tomou uma posição de neutralidade. Os russos aparentemente apoiam as milícias. O Sudão é um país bastante grande, bastante importante. Tem reserva de dinheiro, tinha reserva de petróleo. Por esse caso dá para ver que a situação na África se deteriora muito rapidamente. 

Em seguida, temos o caso da Turquia, onde o imperialismo se jogou de cabeça para derrotar Erdogan e não conseguiu. Isso significa que Erdogan, sendo reeleito, vai tomar uma posição ainda mais independente. A Turquia é um país muito importante. É o país com mais efetivos militares da OTAN, sem falar que está em um ponto estratégico. A Turquia tem o controle do Mar Negro. Você só entra ali se tiver autorização da Turquia. Por exemplo, durante a Guerra da Turquia, que está sendo travada nas proximidades, os turcos proibiram a entrada de navios de guerra na região, o que foi uma manobra pró-Rússia, impedindo que o imperialismo mandasse navios de guerra pelo Mar Negro. Toda a saída marítima está controlada pela Rússia. Então, vemos a importância da Turquia e a decisão do presidente turco de apoiar os russos. Outro dado da eleição da Turquia é que o principal eleitoral do opositor de Erdogan está nas regiões onde a população é curda e, portanto, está sob influência do imperialismo. Eu acho que inclusive mais cedo ou mais tarde vai ter uma atividade bastante repressiva sobre os curdos para afastar a influência do imperialismo. Os curdos estão entre a Síria, a Turquia e o Iraque. E o imperialismo aparentemente conseguiu cooptar as direções de todos os grupos curdos. A esquerda pró-imperialista brasileira tem toda uma posição a favor dos curdos, fala do exército de mulheres deles etc. Não tem nada disso, é uma operação do imperialismo. Isso está levando a um conflito dos curdos com esses países, pois eles estão vendo que mais cedo ou mais tarde vão querer formar um país curdo que seria uma base do imperialismo entre os três países. Nesse momento, o melhor apoio do imperialismo na região são os curdos. Com os curdos, poderá acontecer a mesma coisa que aconteceu com a Ucrânia. O imperialismo vai jogar os curdos contra eles, e a repressão vai ser muito dura. 

Ainda sobre o Oriente Médio, gostaria de citar a crise no Estado de Israel. A crise é total. Deu para perceber nesse período aqui que a campanha a favor dos palestinos cresceu exponencialmente. Esse ano ocorre o 75º aniversário do que os palestinos chamam de Nakba, que foi a expulsão dos palestinos de suas terras. Mais de um milhão foram expulsos pelo terrorismo israelense. A tal ponto que muitos historiadores chamam de limpeza étnica. E realmente foi uma limpeza técnica. A comemoração dos 75 anos foi muito forte. Há uma campanha fortíssima. Eu, por exemplo, acompanho vários sites israelenses, eles estão muito ativos, o que dá a entender que eles estão recebendo dinheiro de algum lugar. A gente vê que um dos grandes apoiadores dos palestinos é o Irã. A crise de Israel é muito forte. Tão forte que a direita israelense, Benjamin Netanyahu, apesar de ser o maior inimigo dos palestinos, fez um movimento em direção a Putin. Significa o seguinte: Netanyahu tem uma relação muito forte com as forças armadas e, logicamente, vendo os problemas de segurança, eles chegaram à conclusão que da maneira que a situação está evoluindo, Israel vai ficar à mercê dos russos, curdos, Arábia Saudita, Iraque etc. E dessa vez não vai ter vitória de Israel se houver guerra. Os árabes na década de 1950 eram povos muito pouco desenvolvidos. Muitos conseguiram a independência só depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia, com a ajuda da Rússia, do Irã etc., a situação já se inverteu completamente. Alguém comentou: os russos mostraram na Ucrânia a superioridade tecnológica do sistema de mísseis norte-americanos. Alguém comentou o seguinte: imagine esse sistema contra o sistema de defesa israelense. Está totalmente desprotegido, eu acredito que eles já sabiam disso. A aproximação de Israel com os russos, extremamente contraditória e talvez inviável, levou o imperialismo a organizar uma revolução colorida em Israel. Os próprios israelenses denunciaram que foi organizado pelo Mossad e pela CIA. Temos que diferenciar o Mossad do Exército. Em todo o mundo, os sistemas de inteligência já estão sob controle da CIA. O Mossad não tem nada de independente.

A situação da Ucrânia, por sua vez, está por um fio. Ontem, o comandante do Grupo Wagner declarou que a cidade de Bakhmut está completamente tomada. A cidade ficou reduzida a nada. Ele declarou o seguinte: nós tomamos até o último prédio do último quarteirão para ninguém dizer que a cidade está em disputa. O governo ucraniano falou que não era verdade, mas agora já está claro que é verdade. Por que isso é importante? Primeiro, que é um ponto estratégico, por isso teve uma luta tão intensa. Segundo, porque os ucranianos tinham anunciado uma ofensiva de primavera contra os russos. Já estava claro que essa ofensiva não ia para lugar nenhum. Mas agora fica claro que não só não existe essa ofensiva, como é provável que tenha uma ofensiva dos russos. Zelensky está pedindo asilo para outros países, que já está numa situação terminal. É um jornalista renomado, Seymour Hersh, que revelou. Ao que tudo indica, estamos próximos do fim do regime de Zelensky, o que é uma notícia arrasadora para o imperialismo. Vimos que o imperialismo liberou os seus aliados para vender equipamentos militares de patente norte-americana para a Ucrânia. Eu acredito que isso é uma farsa, que os americanos treinaram alguns ucranianos, mas treinar um piloto à toque de caixa é uma política inviável. Os pilotos russos são muito mais eficazes. O que estamos vendo é que Biden disse: “bom, então vamos parecer que estamos fazendo alguma coisa”. Zelensky esteve viajando atrás do pessoal. Ele foi no G7 atrás de Lula, que não se reuniu com ele. 

Estamos vendo aqui uma situação em que estamos assim na véspera de uma reviravolta muito grande na política nacional. Todas as peças estão se colocando no lugar. Eu acho que ainda este ano vamos ter uma crise internacional de proporções inéditas. Possivelmente uma crise financeira muito grande. Os Estados Unidos estão sofrendo uma pressão interna, está um impasse total entre a direita republicana e os democratas. Falou-se que na eleição Donald Trump havia sido totalmente derrotado, mas depois da eleição Biden não consegue nem aprovar uma ampliação do teto de gastos. 

Na última semana, os russos lançaram o míssil Kinzhal. Os ucranianos receberam o míssil mais sofisticado dos EUA. O míssil Kinzhal passou por todo o sistema de defesa, passou pelos 12 mísseis que os ucranianos enviaram e destruiu o comando de defesa. Esse nível de tecnologia desequilibra totalmente um conflito. Vamos supor que os russos mandassem esses mísseis para a China. O que Taiwan iria fazer? Nada. A superioridade tecnológica da Rússia nesse aspecto e a incapacidade do imperialismo estão evidentes. Eles não estão contendo a situação. O Grupo Wagner, contratado pelo Putin, esse pessoal, o que eles fizeram… eles tomaram a linha de frente. Os norte-americanos não têm um grupo como esse. Eles não têm uma tropa dessa qualidade.

Na medida em que o imperialismo se enfraqueça, todo o conjunto da esquerda nacionalista e dos trabalhadores latino-americanos vai agir mais. Sem falar que há crise no Peru, crise no Equador (governos neoliberais). Na Venezuela, o governo com apoio popular está mais tranquilo que antes. O governo Boric está se desmantelando no Chile. Também é uma crise do imperialismo, a gente viu que eles estavam tentando formar um fórum pró-imperialista, fracassou totalmente. Isso também é um sinal de debilidade do imperialismo. 

Para concluir, um detalhe importante no qual temos que prestar atenção: há toda uma mobilização do imperialismo rumo ao Brasil. Está vindo um enviado de George Soros que já prometeu distribuir bilhões de dólares para as ONGs. Já se reuniu com a Coalizão Negra por Direitos, Instituto Marielle Franco etc. Eles adotaram essa política em relação ao petróleo e está gerando uma crise. Eu acho inclusive que isso pode gerar a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. Eles estão preparando uma esquerda tipo Boric e ao mesmo tempo as Forças Armadas. Embora uma ameaça, indica um esgotamento da esquerda tipo Boulos no Brasil. Isso porque na medida em que eles começam a colocar a cabeça de fora, outros setores começam a atacá-los também. Sem falar que há uma mobilização muito intensa de dentro do PT contra a candidatura de Boulos na prefeitura de São Paulo.

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