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Afonso Teixeira

Tradutor, formado em Letras pela USP e doutorado em Linguística com tese em tradução. Tem formação como músico, biólogo e cientista político.

Quase uma fantasia

Sanções contra a Rússia

Fechando o mercado russo aos produtos ocidentais, o mercado se abre para os produtos orientais

As sanções aplicadas à Rússia pelos países imperialistas e suas colônias podem parecer uma tragédia para os russos, mas têm-se demonstrado ser uma farsa.

A imprensa capitalista procura mostrar que mais de 600 marcas internacionais deixaram a Rússia como forma de retaliação pela operação russa na Ucrânia. Ao fazer esse tipo de anúncio, fica claro que a imprensa trata de divulgar apenas uma parte dos fatos, ocultando aquilo que pretende para fabricar uma fantasia.

É preciso entender que, se essas marcas estavam na Rússia é porque ali havia consumidores. E, para atrair esses consumidores, as empresas, donas dessas marcas, tiveram de fazer um certo investimento para se estabelecerem no país. Nesse sentido, valeria a pena abandonar todo o investimento, terem seus capitais apropriados por investidores locais e abrirem seus nichos a novos concorrentes? E tudo isso por causa de uma imposição cuja legalidade seria, no mínimo, questionável?

A atitude tomada por essas empresas deveu-se ao medo de terem suas marcas associadas a um Estado belicoso, ao pretenso “massacre” do povo ucraniano. Anunciaram que deixariam a Rússia. Mas deixaram?

Uma das maiores empresas do mundo, a Coca-Cola, retirou sua marca da Rússia. É verdade. Mas não é TODA a verdade. O produto mudou de nome, mas a fórmula continua a ser a mesma. Além disso, outras marcas menores da mesma companhia continuam por lá, como a Fanta, por exemplo. Ou seja, a Coca-Cola continua fornecendo seus produtos sem fornecer a sua marca. Eis a verdade por completo.

E quanto ao McDonald’s? A mesma coisa. Retirou a marca. As lojas foram dadas a investidores russos que renomearam os produtos, mas mantiveram o cardápio. Alguns produtos continuam a ser os mesmos, com os mesmos fornecedores. Contudo, devemos entender que a McDonald’s só é dona de dez por cento de seus restaurantes; o restante é franqueado. A franquia é um empreendimento em que a dona da marca ganha dinheiro sem correr riscos. Ganha dinheiro pelo aluguel da marca e pelo fornecimento de produtos. A pergunta é: de quem os novos restaurantes estão comprando seus produtos? Outra pergunta: como a rede concordaria em fechar 800 restaurantes apenas para não ter seu nome associado a um país? É claro que teve de dar um jeitinho. Ademais, seu principal concorrente, a Burger King, continua atuando na Rússia.

A famosa marca francesa de produtos L’Occitane passou a grafar seu nome em caracteres cirílicos (escrita russa). Os produtos continuam a vir da França como vinha antes. Continua a atuar da Rússia, sob disfarce, apesar de anunciar “posicionar-se firmemente contra a injusta invasão da Ucrânia” e que “o Grupo não mais forneceria produtos para nenhum revendedor local”. Adidas continua lá, mas suas lojas estão fechadas temporariamente. Starbuck’s agora é Stars Coffee – o logo é semelhante, mas a propriedade é de investidores locais e o produto, o café, também vem de produtores (ou comerciantes) locais. 

A marca polonesa REVERVED passou a atuar com o nome de RE, ainda que a Polônia seja o porta-voz mais eloquente da OTAN.

Pode parecer que as lojas apenas continuaram a vender os estoques remanescentes, mas não foi o que aconteceu. As lojas continuam a serem abastecidas com novas coleções. É evidente que continuam comprando diretamente de seus fornecedores habituais. É bem verdade que alguns itens de algumas marcas apareçam no mercado russo por triangulação, que é quando um intermediário aparece como fornecedor. Não sabemos se a maioria do abastecimento se dá dessa forma, mas não é, aparentemente o que acontece, pois isso implicaria uma diminuição significativa nos estoques e um aumento exagerado de preços. Quando alguém vai a um centro comercial russo percebe que os preços praticados ali são equivalentes aos preços internacionais. Contudo, percebe-se uma elevação de preço de alguns produtos, mas isso pode ocorrer devido ao aumento do preço do transporte, visto que muitos produtos têm de ser transportados por intermédio de mercados vizinhos.

A famosa marca norte-americana de jeans, Levi’s agora é JNS. Dono diferente, mesmo fabricante.

Por outro lado, muitas marcas ocidentais fecharam suas lojas, como é o caso da Zara, que pertence ao maior grupo mundial de lojas de roupa. Contudo, a marca anunciou que a medida é provisória. As lojas continuam lá; os estoques permanecem nas vitrines. E, é claro, o aluguel do espaço continua a ser pago. Quanto aos funcionários, não sei dizer.

As lojas da Beneton, da New Yorker (que não atua no Brasil, mas está em toda parte do mundo), da Colin’s (Australia). 

Produtos da Apple, com iPhones podem ser comprados no mercado russo com um ano de garantia de fábrica, apesar de a marca anunciar que deixou a Rússia. É difícil imaginar que a marca mais valiosa do mundo se desse o luxo de deixar um mercado vago para suas concorrentes chinesas, como a Huawey e a Xiaomi. Fato curioso é que, num primeiro momento, os preços dos produtos da Apple subiram. Mas, como as leis do mercado não são as mesmas da política, os preços voltaram aos patamares anteriores às sanções.

O mais curioso é que a loja digital da Apple na Rússia anunciam de quais “parceiros” os consumidores podem adquirir seus produtos.

A verdade concreta é que sanções atingem, sempre, os dois lados: os que sancionam e os que são sancionados. Se a Rússia perde produtos devidos às sanções, os produtores perdem dinheiro e grossas fatias de mercado. A Rússia tem 160 milhões de consumidores. Ninguém é louco de abandonar um mercado como esse.

O que ocorre é simplesmente isto: uma falta temporária de produtos e um aumento temporário de preços. Se o McDonald’s sai, o Burger King entra – ou uma rede local. Se um fabricante sai, entra outro no lugar. Nesse caso, o maior prejudicado é a política de sanções, pois o país passa a fabricar o produto e nunca dependerá mais de importação.

Por outro lado, sanções e bloqueios econômicos nunca funcionaram. Cuba resiste há mais de sessenta anos de sanções e de bloqueio. A Venezuela continua de pé. O Irã, também. Além do mais, o que o imperialismo ganha com essas sanções contra a Rússia? Fechando o mercado russo aos produtos ocidentais, o mercado se abre para os produtos orientais. E é preciso lembrar que a agressão imperialista à Rússia é apenas o primeiro passo para a destruição da economia chinesa.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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