Após derrota de 2 a 0 para o América-MG, nas semifinais do Campeonato Mineiro, a torcida do Cruzeiro vaiou e xingou sem parar Ronaldo. Os torcedores deixaram bem claro toda a sua revolta com os rumos que o time está tomando. A torcida não se conteve e gritou sem parar para o atual “dono” do clube: “Ei, Ronaldo, vai tomar no c…”.
Chegamos à época do capitalismo em que um time de futebol pode ser comprado e virar uma empresa. Ou seja, nem mais o futebol pertence à população. Desde o mês de agosto de 2021, os times de futebol, que são associações civis sem fins lucrativos, passaram a poder ser transformados em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Com a criação da lei 14.193/2021, os times podem ser comprados, passando a virar uma empresa privada, que visa obter lucros.
Apenas quatro meses após a aprovação da lei, Ronaldo Fenômeno investiu cerca de 400 milhões de reais na compra do Cruzeiro, passando a possuir 90% das ações do time, que então virou empresa e passou a ter o ex-jogador como gestor. Ronaldo prometia tirar o time da “UTI”. Na época, o time estava na segunda divisão e vinha sofrendo claro sucateamento para forçar sua privatização. Após a mudança para SAF, o time foi campeão da segunda divisão e em 2022 seguiu para a série A.
Entretanto, pouquíssimo tempo após chegar à série A, o time voltou a ter um desempenho ruim, acumulando derrotas e deixando claro que a privatização não é a solução para os clubes. Podemos concluir que o investimento de milhões de reais no clube-empresa não foi revertido de fato como investimento no time em si. Toda a transação dos SAFs se revelam como negociatas, que servem simplesmente para deixar os investidores mais ricos. O próprio Ronaldo já declarou que pretende comprar outros times e ampliar seus investimentos.
Infelizmente, vemos os tradicionais times de futebol, uma das maiores paixões nacionais, serem usurpados de suas torcidas, que são aqueles que deveriam estar no controle dos clubes. Os times são de suas torcidas, pertencem ao povo, não podem ser transformados em meras mercadorias para serem vendidas e compradas ao bel-prazer de capitalistas abutres.
Vemos nas vaias e xingamentos a Ronaldo a clara revolta e insatisfação da torcida e a grande impopularidade da privatização dos clubes e do autoritarismo de suas direções, que só pretendem lucrar com o futebol. Desde a aprovação da lei da SAF, vemos uma série de times sendo comprados e privatizados, muitas vezes por empresas estrangeiras, deixando em último lugar qualquer possibilidade de participação das torcidas dos clubes. O futebol brasileiro é do seu povo e precisa ser devolvido a ele, os times pertencem às suas torcidas, não são meras mercadorias a serem faturadas.