Lava Jato

Romance entre Dino e Moro vai muito além de uma foto

Abraçados após sabatina no Senado, ex-juízes são defensores de um Estado policial

Uma foto de duas pessoas pode revelar o tanto quanto a interpretação de quem vê queira. No entanto, o caso recente entre Flávio Dino e Sérgio Moro revela que a simpatia entre eles vai além de cordialidade ou diplomacia, e pode comprometer gravemente o governo federal.

Na sabatina do ministro indicado por Lula para o Supremo Tribunal Federal (STF), houve certo desconforto entre Dino e Moro, mas, pelo relatado pela imprensa de conjunto, logo os dois estavam entre abraços e risos. A dúvida que fica é se realmente eles representam uma política totalmente distinta uma da outra. Se são pólos opostos. Ou, preto no branco, um golpista e um golpeado. E isso está longe de ser assim. 

“O problema é a fronteira entre urbanidade e chamego. Não é de se esperar que líderes políticos troquem socos entre si. Mas um juiz ladrão, um corrupto potencialmente assassino, um entusiasta do AI-5 – não há uma repulsa moral instintiva, que bloquearia essas manifestações de afeto?”, diz Luis Felipe Miguel, em texto publicado no Brasil 247. E continua: “Sérgio Moro e Flávio Dino minimizaram a cena como mera civilidade. Sei não. Entre o futuro ministro do STF e o futuro ex-senador deveria haver um abismo de convicções políticas e princípios morais, que os colocaria em campos opostos e irreconciliáveis”.

O fato é que, realmente, alguém abraçar ou não outra pessoa é uma questão superficial, embora realmente seja muito estranha a proximidade diplomática e afetuosa entre Dino e Moro. O problema é que a relação entre eles não é superficial, é muito mais profunda, e mesmo ideológica.

O problema que está colocado é que isso só expressa uma relação que realmente é de cumplicidade, sendo o fato mais significativo que Flávio Dino propôs um pacote de repressão que prevê penas de até 40 anos de prisão para certos crimes, o que se baseia em um precedente aberto por Sérgio Moro.

Luis Felipe Miguel também cita outros casos em que supostos adversários teriam protagonizado cenas de “civilidade”. Os exemplos, contudo, só pioram a sua defesa de Flávio Dino.

Um dos casos se deu quando Chico Alencar (PSOL/RJ) beijou a mão do golpista Aécio Neves (PSDB), e, quando questionado sobre esse gesto, disse que “nesta confraternização, eu era um dos poucos deputados de oposição. Como é de costume meu, usei da brincadeira para descontrair clima às vezes desconfortável”. E tal “confraternização” se deu em março de 2017, um dos pontos altos do golpe de Estado. Obviamente que se trata de muito mais que uma brincadeira. 

Em outra oportunidade, José Genoíno, perseguido pela ditadura militar, trocou presentes com Jarbas Passarinho, uma das pessoas mais macabras do regime militar brasileiro. Em matéria de janeiro 1994, Genoíno explica que “ele [Jarbas Passarinho] é imparcial quando preside, eu disputava com Fiuza e ele soube conduzir muito bem”. O que explica esse escândalo é o fato de que o PT estava desesperado para ser aceito pelo regime. Trocar presentes com um homem que ajudou a instaurar o AI-5 no Brasil é algo que ninguém deve fazer.

Flávio Dino e sua simpatia por Sérgio Moro revela somente que a política lavajatista de outrora vai prevalecer nas ações de Dino, apresentado como “comunista” por alguns. É por isso que só se ouve falar em mais repressão vinda do agora ministro do STF. Nada mais natural, pois se trata de uma continuidade de toda a política anterior que derrubou o PT do governo federal e alçou Jair Bolsonaro. Por isso, os risos e abraços com Sérgio Moro, que depois de tudo que fez, de toda a ilegalidade cometida pelo golpe de Estado, está confortável com o regime atual e, em especial, com a composição da Suprema Corte do Brasil.

Qualquer pessoa sensata pensaria que Sérgio Moro e outros golpistas deveriam responder minimamente pelos crimes políticos cometidos contra o PT e seus dirigentes. Moro é um dos responsáveis pelos mais de 500 dias de prisão ilegal de Lula. Não deveria estar aos risos e abraços com um ministro indicado pelo próprio presidente Lula. É, de fato, escandaloso o que se passa em Brasília (DF), e tudo indica que Dino será uma das peças centrais para qualquer ataque futuro contra o PT. 

Determinou, Moro, em 05 de abril de 2018, o seguinte: “tendo em vista o julgamento [pelo STF], em 24 de janeiro de 2018, da Apelação Criminal n.º 5046512-94.2016.4.04.7000, bem como, em 26 de março de 2018, dos embargos declaratórios opostos contra o respectivo acórdão, sem a atribuição de qualquer efeito modificativo, restam condenados ao cumprimento de penas privativas de liberdade os réus José Adelmário Pinheiro Filho, Agenor Franklin Magalhães Medeiros e Luiz Inácio Lula da Silva”.

Em janeiro do ano passado, este mesmo cidadão que troca afagos com Flávio Dino, afirmou expressamente que “Lula deveria estar cumprindo pena até hoje”, e que foi um erro do Poder Judiciário libertar o atual presidente. E Flávio Dino não fica para trás: “eu não diria que a Lava Jato foi totalmente errada, acho até que a maioria das sentenças da Lava Jato eu assinaria”, afirmou o atual ministro do STF, em julho de 2019. Quando, na realidade, todos os envolvidos nessa operação deveriam responder pelo que fizeram.

É relativamente fácil de se observar que Dino foi indicado a contragosto do próprio Lula, que governa o país com a faca no pescoço. Aparentemente o jurista Jorge Messias seria o preferido por integrantes do PT e pelo próprio Lula para a vaga no Supremo Tribunal Federal, mas isso acabou mudando.

O fato é que, tal como se consolidam os nomes no governo federal, no legislativo e especialmente no Poder Judiciário, é possível que voltem a se repetir os acontecimentos de 2016, especialmente pela falta de mobilização popular em defesa das questões dos trabalhadores e do próprio governo. Se não os mesmos fatos, pelo menos os mesmos agentes ainda estão por aí, aos risos e abraços.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.