Na última segunda-feira, o aparato repressivo do governo golpista de Dina Boluarte reprimiu duramente os manifestantes que ocupavam pacificamente o aeroporto de Juliaca, na região de Puno, ao sul do Peru. A ação policial deixou 17 manifestantes mortos – que se somam aos 29 contabilizados até então – e mais de 68 feridos, segundo reporta o portal de esquerda People’s Dispatch.
Em reportagem do The New York Times, a secretária executiva do Conselho Nacional de Direitos Humanos do Peru, Jennie Dador descreveu a ação da polícia e do exército como um verdadeiro “massacre”. “Foram assassinatos extrajudiciais”, declarou.
Os manifestantes ocupavam o aeroporto de Juliaca como parte de protestos que ocorrem em escala nacional exigindo a soltura do ex-presidente Pedro Castillo, preso após sua tentativa fracassada de fechar o congresso controlado pela extrema-direita peruana. Os manifestantes também demandam que a vice de Castillo, Dina Boluarte, que agora chefia o executivo, seja afastada do cargo e que novas eleições gerais sejam convocadas com vistas de se convocar uma Assembleia Constituinte.
O massacre não é o primeiro da breve administração de Boluarte que já tem sob seu comando a morte de 10 manifestantes em Ayacucho – incluindo um menor de idade -, onde mais de 52 ficaram feridos após a ação. “Eles os abateram como animais”, declarou uma ativista da região à reportagem do People’s Dispatch. Na cidade de Ayacucho, capital de região homônima, está estabelecida uma vigília em memória das vítimas da repressão que serve como ponto de concentração da população local indignada com o golpe de Estado em curso no Peru. A violência do regime, que remonta aos tempos da ditadura fujimorista em sua truculência, rendeu um apelido à atual presidenta de “Dina Asesina”, em português, “Dina Assassina”.
A mobilização tardia, reativa, e o caráter burocrático do governo de Castillo contribuem para o atual quadro repressivo e são uma lição importante para o governo de Lula no Brasil, que já começa sob pressão dos bolsonaristas, com a conivência e o comando das Forças Armadas. Castillo preferiu recorrer ao Congresso direitista e às sabidamente golpistas Forças Armadas peruanas a recorrer ao povo que o elegeu, um erro político grave que, até o momento, custou-lhe apenas uma detenção, mas que já ceifou a vida de quase meia centena de seus apoiadores.