Um relatório de 1967, escrito pelo procurador Jader de Figueiredo, foi encontrado depois de ficar mais de 40 anos desaparecido. O relatório descreve a situação dos índios ianomâmis, que, de acordo com ele, estavam em uma situação de miséria, subnutrição, peste, parasitose e até de extermínio por conta do abandono por parte do Estado.
Ainda no relatório, a situação dos indígenas é descrita como intolerável desde, no mínimo, a década de 1940. Ou seja, a miséria material a qual os ianomâmis estão submetidos é resultado de uma política permanente da burguesia para exterminar os índios, tirando as suas formas de sustento, impedindo que eles explorem a natureza e os obrigando a viver na mais absoluta miséria.
Ou seja, o governo brasileiro sempre soube da situação dos ianomâmis, mas nunca fez nada para resolvê-la. Ao contrário, o relatório, por exemplo, cita que “a falta de assistência, porém, é a mais eficiente maneira de praticar o assassinato”; isto é, os agentes públicos tinham plena consciência do desastre o humano que estavam promovendo.
Enquanto isso, a esquerda promove uma campanha identitária e pequeno-burguesa, incapaz de resolver o problema do índio. Boa parte desta campanha é pura perfumaria, voltada a atacar o Brasil para servir aos interesses imperialistas: um exemplo disso é a campanha contra os bandeirantes, que seriam assassinos de índios, ou a campanha contra as Grandes Navegações. Dentro dessa campanha, que é totalmente deslocada da luta real do índio, entra também a questão do ataque ao termo “índio”, que deveria ser substituído por “indígena”.
No entanto, a esquerda não se limita a essas perfumarias. Também, em época de Carnaval, fazem demagogia com a questão das fantasias: para eles, não seria correto utilizar fantasias de indígenas, pois “povos não são fantasias” – o que é uma completa bobagem.
Enquanto essas discussões ocupam a ordem do dia nos DCEs, os índios (ou indígenas, se preferirem) são massacrados pelos madeireiros, pelos pistoleiros e pelos latifundiários. Enquanto isso, o Estado presta apoio aos inimigos dos índios, através da polícia e de seus órgãos repressivos.
Os índios ianomâmis vivem no mais absoluto abandono – não só eles, mas todos os indígenas. É preciso libertá-los dessa situação cruel; no entanto, enquanto eles não tiverem meios de subsistir e de trabalhar, isso não será possível. É preciso que eles tenham o direito de explorar as próprias terras, em proveito próprio e em proveito do país – não em favor de países estrangeiros, nem com os lucros indo para os madeireiros e latifundiários como é hoje. Só assim é possível libertar, ainda que parcialmente, o índio do completo abandono.