Em matérias recentes da imprensa burguesa um assunto tem predominado: a possibilidade de reversão das reformas aplicadas nos últimos anos pelos governos neoliberais de temer e Bolsonaro.
Com uma possibilidade real de reversão, o principal assunto é a reforma da previdência. Isso porque o ministro da Previdência nomeado por Lula, Carlos Lupi (PDT), afirmou, ao tomar posse como ministro, que “É preciso discutir esse atraso, desrespeito, acinte à cidadania que foi feito com essa antirreforma da Previdência. É preciso ter coragem para discutir isso. É o trabalho da minha vida”.
De bate e pronto, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, ex-governador da Bahia, afirmou que, no momento, não está sendo considerada nenhuma revisão em nenhuma reforma, e que Lupi estaria exaltado pelo início do governo Lula.
A imprensa, logicamente, utilizou isso contra o governo, tanto para afirmar que as reformas não devem ser revertidas de jeito nenhum quanto para dizer que existe uma desorganização inerente no governo, com ministros se contradizendo e situações do tipo.
Dessa maneira, os grandes meios de comunicação, como Folha de SP, Uol, Estadão, Globo, etc., atacam furiosamente o ministro Carlos Lupi por sua declaração, não perdendo um segundo para dizer que suas falas são absurdas, frutos de um “delírio brizolista” e que o próprio ministro é um “devoto de seitas políticas retrógradas” que escolheu negar a realidade por afirmar que ia provar que a Previdência não é deficitária com dados.
“Faria bem o governo se canalizasse essas energias não para a reversão de reformas e políticas que fizeram e fazem muito bem ao País, como a da Previdência e a trabalhista, e sim para seu aprofundamento.”, afirma um editorial recente do Estadão (Delírios no primeiro escalão, 06/01/2023).
A defesa de medidas neoliberais é evidente e a imprensa não faz questão nenhuma de esconder isso. A mesma coisa relacionada às reformas também é refletida, por exemplo, na questão das privatizações: quando privada, a empresa foca única e puramente no lucro, enquanto quando é estatal, essa empresa foca em atender aos interesses da população, independentemente do lucro ou até mesmo do prejuízo.
As reformas, começando pela da previdência, seguem a mesma lógica. Antes dela, a previdência, por mais defeitos que pudesse ter, atendia minimamente o que a população precisava: se aposentar numa idade razoável com uma renda mais proporcional à realidade.
Em compensação, após as reformas as coisas ficam mais obscuras. O que importa agora não é atender à população, e sim fazer com que a Previdência gere lucros para o cofre do governo, dirigindo esse valor para o pagamento da dívida externa e dos juros dos bancos, ou seja, para a burguesia e para o imperialismo.
E é nisso que a imprensa se interessa. Ela defende os interesses dessa classe, sendo sua porta-voz, e, portanto, reage agressivamente a políticas as quais considera perigosa, como a reversão das reformas.
O fato é que as reformas trabalhista, da previdência, administrativa, do ensino e tantas outras não beneficiaram em nada a população, mas é evidente que isso não importa para a burguesia. Com a reforma da previdência, um dos principais impactos para a população foi o aumento da idade mínima para se aposentar, sendo esse de 62 para mulheres e 65 para homens — foram adicionados apenas dois anos a mais para mulheres, mas a principal mudança mesmo foi que, para se aposentar por idade, mulheres ter no mínimo 15 anos de contribuição com carteira assinada e homens precisam ter no mínimo 20 anos de contribuição.
Se fosse só isso, não teria nenhuma mudança muito significativa. O problema é a aposentadoria, no fim das contas, não vale a pena. O valor pago aos aposentados é cada vez proporcionalmente menor ao seu salário. Isso sem contar que o trabalho informal, ou seja, sem carteira assinada, tem aumentado muito, também possibilitando que as pessoas tenham uma dificuldade ainda mais de apresentar os 15 anos de carteira assinada. Não é incomum encontrarmos pessoas que começaram a trabalhar mesmo quando criança para ajudar a família, mas nada disso conta para o Estado.
No fim das contas, do que adianta se aposentar se o dinheiro do benefício não é o suficiente nem para sobreviver? Não é incomum encontrarmos idosos trabalhando por aí porque não conseguem se sustentar com a aposentadoria — e, nesse sentido, outra reforma como a trabalhista também entra na lista. Isso porque retirou diversos direitos do trabalhador, tornando ainda maior a taxa de empregos informais no Brasil e deixando a população à mercê de seus patrões.
De maneira muito resumida, é possível perceber como as reformas apenas pesam para o brasileiro. Não só isso, mas, economicamente, só servem para entregar riquezas aos banqueiros, à burguesia e ao imperialismo, não para arrecadar algo e realizar investimentos nas áreas mais carentes do governo, mas sim para alimentar a burguesia parasita no Estado.
Fica evidente que é desse lado que a imprensa está completamente do lado dos capitalistas. Sua defesa ferrenha da reforma da previdência é absurda e descarada, não deixando margem para qualquer interpretação posterior. As matérias cumprem um claro papel de desmoralizar o governo, como se Lula fosse uma besta que irá destruir o Brasil por lidar com as questões se baseando no povo, não na burguesia.
Pois é isso mesmo que Lula deve fazer: o povo precisa ser prioridade em seu governo, e esse fator implica na reversão de todas as reformas realizadas nos últimos anos, nos quais o governo esteve sob intervenção extrema dos neoliberais, da direita golpista e dos inimigos do povo.