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Político direitista!

Quem é o presidente que canalizou a revolta popular na Guatemala?

Política de frente ampla da esquerda guatemalteca fracassa ao se aliar com Arévalo nas eleições presidenciais, que será o Boric da Guatemala, traindo a luta dos trabalhadores!

A vitória de Bernardo Arévalo no segundo turno das eleições presidenciais da Guatemala, com pouco mais de 59% dos votos, realizadas no domingo é celebrada pela imprensa burguesa imperialista como um giro político de 180º e um sopro de ar fresco para a “democracia latino americana”.

Primeiramente, a imprensa burguesa ressalta a sua biografia de “outsider” e “progressista”. Arévalo, tem 64 anos, é sociólogo e diplomata especialista em resolução de conflitos, não estava  nem sequer no radar dos possíveis ganhadores das eleições há dois meses atrás. Porém, graças a um discurso de ruptura com a política tradicional, obteve um êxito eleitoral disputando o segundo turno com a ex-primeira dama Sandra Torres, representante do “establishment”.

Filho do ex-presidente da Guatemala, Juan José Arévalo, que em 1945 instituiu a democracia representativa no país pondo um fim a um ciclo de ditaduras militares financiadas pelos EUA, Bernardo há 10 anos atrás impulsionou um movimento chamado Semente, que é um movimento burguês composto por um grupo de professores universitários acadêmicos, intelectuais e profissionais liberais jovens,  que se transformou em um partido político graças ao movimento da “primavera democrática de 2015”.

É importante descrever um panorama do que aconteceu na história política da Guatemala para entendermos o que levou a ascensão de Bernardo a presidência da República e o porquê do imperialismo norte americano e a OTAN celebrarem a sua vitória.

HISTÓRIA POLÍTICA DA GUATEMALA

A Guatemala é o berço da civilização Maia e foi colonizada pelo imperialismo espanhol, sendo dominada por este por mais de três séculos (1518-1821), após a política externa dos EUA, do Big Stick, este expulsou os colonizadores espanhóis e assumiram o controle da economia da Guatemala em parceria com as oligarquias locais. Estas em conjunto com os EUA transformaram o país em uma região que priorizava a sua produção econômica para a exportação para Europa em detrimento do mercado interno e da autossuficiência econômica dos trabalhadores rurais e urbanos guatemaltecos.

A grande mudança na Guatemala se deu em 1944, quando os cadetes nacionalistas da academia militar, classe média urbana, trabalhadores, professores e estudantes se levantaram e fizeram a famosa revolução de outubro e então se instaurou na Guatemala a democracia representativa, em 1945. O povo da Guatemala elegeu o Juan José Arévalo, que era um professor de filosofia que defendeu a democracia representativa que mexeu nos interesses das oligarquias e que de 1945 a 1951, ele sofreu 28 tentativas de golpe de estado. Ele teve a iniciativa de instituir o salário mínimo no país.

Apesar disso, Arévalo conseguiu eleger o seu sucessor a presidência da república Jacobo Árbenz Guzmán que era um coronel do exército nacionalista  com ligações com a União Soviética, muito mais radical que seu antecessor, que lutou para garantir os direitos trabalhistas da classe operária guatemalteca, construiu portos e tentou industrializar o país, desenvolvendo a burguesia nacional para que esta tenha condições de competir com o empresariado norte americano.

Quando Jacobo tomou posse na presidência, ele viu que na Guatemala existia um Estado dentro de outro, que era a empresa norte americana United Fruit Company que comandava completamente a política e a economia do país.

A United Fruit Company (UFC) é uma empresa norte americana que foi a maior exportadora de bananas do mundo na primeira metade do século XX, é proprietária de grandes latifúndios de ferrovias e portos tanto na Guatemala como na América Central.

A UFC, nos anos de 1940 era dona de mais 50% de todas as terras cultiváveis, o Estado da Guatemala concedeu boa parte de suas terras para eles, ¾ da população detinham menos de 10% da terra, enquanto que 2,2% da população tinham mais de 70 %.

Jacobo resolve fazer a reforma agrária em 1951, para acabar com o monopólio econômico que a United Fruit Company e as oligarquias locais exerciam sobre a terra, acabando com o roubo que estes operavam contra os trabalhadores rurais e urbanos guatemaltecos que eram escravizados pelas suas fábricas e latifúndio agrário.

É importante lembrar que a United Fruit Company tinha como principais proprietários o Richard Nixon, vice-presidente dos EUA na época, Alan W. Dulles, diretor da CIA, e um rico empresário de Chicago.

A Guatemala foi invadida  por guerrilhas financiadas pela CIA, a United Fruit Company e o Departamento de Estado norte americano desde Honduras. Che Guevara tentou organizar uma guerrilha popular guatemalteca e chamou Jacobo para reagir ao golpe imperialista, porém, este como um político nacionalista burguês não reagiu, sofrendo um golpe de Estado.

Che Guevara pediu asilo na embaixada no México e ao conhecer Fidel Castro no México, se inspiraram no fracasso da experiência guatemalteca, para fazerem o contrário, a luta revolucionária comandada pela classe operária que acabou por resultar na Revolução Cubana.

Após o golpe de Estado dos EUA, em 1954 instaura-se na Guatemala o Estado de Segurança Nacional e isso vai de 1954 a 1996. Isso significa que o Departamento de Estado de Washington vai apoiar e treinar o exército guatemalteco e este vai ter um corpo dentro dele de elite que são os Kaibiles, estes vão realizar um grande massacre na Guatemala até 1996.

De 1954 até 1996, foram assassinados pelo exército da Guatemala com apoio dos EUA cerca de 220 mil guatemaltecos. Na sua grande maioria indígenas maias.

As oligarquias locais guatemaltecas que apoiaram o golpe em parceria com os EUA, lucraram horrores com as multinacionais norte-americanas ao explorarem a classe operária guatemalteca.

Neste período ocorreram genocídios provocados pelos ditadores militares pró-EUA contra as guerrilhas populares guatemaltecas compostas por camponeses e operários que lutavam contra este Estado de Segurança Nacional.

A política guatemalteca foi vítima de uma guerra civil, incentivada pelos EUA, que se encerrou somente em 1996, porém, o Estado caiu nas mãos do que os guatemaltecos chamam de “o pacto dos corruptos”, que é uma aliança entre políticos tradicionais, elites econômicas agrárias e militares que se perpetuam no poder por meio da corrupção e regimes autocráticos pró-EUA.

Porém, as elites políticas locais começaram a sofrer um golpe há 15 anos atrás, quando o imperialismo norte americano e europeu começara a intervir na política guatemalteca aos moldes da lava jato, por meio de um órgão da ONU chamado de Comissão contra a Impunidade na Guatemala. Este órgão composto por juízes e fiscais eleitorais desmantelaram mais de 70 estruturas de corrupção e crime, levando aos tribunais mais de mil funcionários públicos de alto escalão, incluindo seis ex-presidentes, chefes do parlamento e magistrados das cortes, além de uma centena de empresários poderosos.

Em 2015, durante quatro meses consecutivos, a população se voltou massivamente as ruas para referendar seu “apoio” a esta luta anticorrupção sem precedentes.

As oligarquias guatemaltecas retaliaram esta perseguição judicial movida pelo imperialismo norte americano e europeu. Aquelas realizaram uma aliança informal de políticos, elites burocráticas e empresariais conhecida como “Pacto dos corruptos”, que convenceu o então presidente dos EUA, Donald Trump, através do senador Marco Rubio para acabar com o comitê da ONU. Em troca a Guatemala receberia os imigrantes expulsos do país por Donald Trump, se transformando em um verdadeiro “depósito de imigrantes”, sendo uma política desumana e fascista.

Em seguida, ao tomarem o poder judiciário para si, as elites guatemaltecas realizaram um expurgo dos juízes e fiscais eleitorais ligados a ONU, seis fiscais foram presos e 39 estão em exílio, junto a dezenas de jornalistas e ativistas civis.

A mesa foi servida para a festa do Pacto dos Corruptos, cujas lideranças deste grupo são o atual presidente Alejandro Giammattei e o vice-presidente Miguel  Martínez. A outra participante desta oligarquia é a segunda colocada na eleição presidencial de 2023, Sandra Torres.

O pacto dos corruptos é uma ditadura corporativa neoliberal que se autorregula com a sua própria sucessão tratando de manter as formas. Eles conseguem se perpetuar no poder mediante a eliminação de candidatos antissistema mais populares, excluíram das eleições de 2023, por exemplo, o MLP( Movimiento para la Liberación de los Pueblos), representante das comunidades indígenas y campesinas, único com propostas antineoliberais, alegando  o não cumprimento de formalidades legais (que foram cumpridas) pelo candidato a Vice-presidente Jordán Rodas, ex-Procurador dos Direitos Humanos. Outros candidatos excluídos foram Carlos Pineda , do partido Prosperidad Ciudadana, e Roberto Arzú , do partido Podemos, , ambos de oposição ao atual governo, o que produziu muitos protestos e prejudicaram a credibilidade e transparência do processo eleitoral.

Ocorre que em 2020, aconteceram protestos na Guatemala, que contavam com 7.000 manifestantes, liderados por estudantes universitários, que protestavam contra a aprovação de um projeto de lei feito pelo Congresso Nacional, no meio da pandemia do Covid-19, após os danos causados pelos furacões Eta e Lota na América Central, em que o orçamento público sofrera cortes severos nos gastos em saúde e educação, enquanto que ao mesmo tempo, aumentava os fundos destinados a pagar auxílios financeiros para parlamentares.

Durante os protestos, os manifestantes provocaram incêndios no Congresso Nacional e entraram em confronto com a polícia, quase provocando a renúncia do presidente Alejandro que respondeu com mais violência e prisões arbitrárias.

Esta movimentação de caráter popular enfraqueceu o governo a tal ponto que fez com que as oligarquias locais manipulassem mais do que nunca o processo eleitoral de 2023, antes da campanha eleitoral começar, por exemplo, os tribunais eleitorais baniram por razões pouco convincentes três candidatos presidenciais “anti-establishment” que eram muito populares. Aqueles cassaram até mesmo as candidaturas de esquerda antineoliberais como o MLP, por exemplo, promovendo os candidatos da aliança do “Pacto dos Corruptos” como a Sandra Torres, política tradicional do regime burguês.

Durante o segundo turno após o crescimento de Arévalo, o tribunal tentou suspender o partido Semente sob a alegação de que este teria forjado assinaturas, porém a decisão foi suspensa pela Corte constitucional.

Segundo, Marielos Chang, intelectual da Universidade do Valle da Guatemala, Arévalo só não foi banido do segundo turno por causa da reação da comunidade internacional e dos guatemaltecos. O secretário de estado dos EUA e Luis Almagro, líder da OEA, condenaram quaisquer tentativas das oligarquias guatemaltecas de interferir nos resultados das eleições.

Isso demonstra que o imperialismo norte americano tem um interesse na eleição de Arévalo, tendo em vista que este é um grande defensor das pautas do imperialismo norte americano frente aos interesses da burguesia interna guatemalteca.

A ideologia neoliberal de Arévalo é demonstrada pelas suas posições direitistas como condenar os regimes soberanos da Nicarágua e Venezuela, os descrevendo como “ditaduras”, propor quando era parlamentar ao presidente Alejandro, sanções econômicas contra a Rússia devido a operação militar defensiva contra a Ucrânia. Além de exigir o cancelamento do contrato com o governo russo para importar as vacinas da Sputnik V. Por último, destaca-se a sua aproximação com o Governo Boric na pauta do ecologismo verde e com o partido democrata e Joe Biden e no seu apoio ao governo de extrema direita de El Salvador, governado por Nayib Bukele.

Portanto, este governo do Arévalo será mais do mesmo, um governo neoliberal pró-EUA que vai atacar os direitos da população guatemalteca igual o Boric faz no Chile, tudo isto ocorreu devido a estratégia do imperialismo de segregar a esquerda das eleições e a capitulação desta em apoiar o Arévalo nas eleições, o que foi um golpe enorme no movimento dos trabalhadores guatemaltecos.

Não é porque o Arévalo tem um parentesco com um político nacionalista burguês que aquele terá a mesma postura, tudo indica que ele é um traidor da luta dos trabalhadores que vai querer destruí-la em prol da burguesia norte americana imperialista.

É necessário que o campesinato e os operários guatemaltecos se unam novamente e lutem contra esta ditadura imposta pelos EUA, que está no poder desde 1954, e lutem por um Estado operário como Che Guevara tentou fazer na Guatemala, mas não conseguiu devido a capitulação de Jacobo, mas conseguiu em Cuba, para que os trabalhadores consigam a soberania popular sobre a sua economia e seu território contra o monopólio exercido pelas multinacionais norte americanas.

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