O sionismo reivindica direito ancestral à terra ocupada há quase dois milênios por árabes. O Estado de “Israel” é uma formação artificial, podemos ver isso materializado no idioma oficial no território: o hebraico, que era uma língua “morta” há séculos e recentemente revitalizada por um movimento de renascimento linguístico sionista. Além disto, outra língua utilizada é o inglês, a língua oficial de duas das mais importantes nações imperialistas: Reino Unido e EUA.
Dentre outras características observáveis, tem sido notória a diferença do fenótipo entre os palestinos e judeus. O grupo de rap palestino mais famoso, o DAM, em uma de suas músicas chamada de Mama, I fell in love with a jew ressalta esse elemento dizendo “a pele dela é branca, a minha é marrom”.
Os estudos genéticos e a historiografia orientam que a origem e ascendência da quase totalidade dos judeus, os asquenazes, é do sul da Europa, possivelmente do Cáucaso, mas com certeza não da Palestina (ELHAIK et al., 2013; DAS et al., 2016; XUE et al., 2017; DAS et al, 2017). Para iniciar esse processo de compreensão, esse texto fará um exame quantitativo da imigração de judeus.
Primeiro ponto de apoio: a emigração judaica
O povo judeu sofreu três grandes diásporas: a primeira inicia em 733 A.C. pelo reino Assírio, no qual foram deportados e seus territórios destruídos; a segunda data de 586 A.C. quando o imperador babilônico Nabucodonosor II deporta os judeus para o Reino Babilônico; a terceira durante o período de 70 D.C. a 135 D.C, com o Império Romano. Por estes acontecimentos, algumas ondas migratórias e demais perseguições antissemitas que foram ocorrendo durante a história, os judeus tiveram que se espalhar e estão presentes em vários locais ao redor do mundo.
Imigração para a Palestina (1800-1948)
A atual população do estado de “Israel”, segundo o Escritório Central de Estatísticas de “Israel”, era até o final de 2022 de 9.662 milhões de habitantes. Destes, 7.101,4 milhões são judeus, cerca de 73% da população, enquanto 21,1% são árabes, cerca de 2.038,6 milhões de árabes. Estes números excluem territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
De acordo com Pergola (2001), demógrafo judeu que usa como fonte o fundador do Escritório Central de Estatísticas de “Israel”, em 1800 havia somente 7 mil judeus no território da Palestina hoje ocupado por “Israel”. Estes judeus eram cerca de 2,5% da população.
Este número sofreu uma elevação de 5,14 vezes entre 1800-1890, alcançando 43 mil judeus na região, o que era 8% da população palestina. O crescimento pode ser explicado pelo crescimento considerável de hostilidade aos judeus no século XIX e a Primeira Aliá.
Tomando os dados da American-Israeli Cooperative Enterprise (AICE) e do Escritório Central de Estatísticas de Israel, entre 50 mil a 70 mil judeus imigraram entre 1882-1914 para a Palestina. Não há dados no período da 1ª Guerra Mundial. Cerca de 116 mil judeus imigraram entre 1919-1931 para as terras palestinas.
O marco de 1931 é muito importante por marcar o ano que antecedeu a chegada de Hitler ao poder. Segundo Pergola (2001), neste ano já havia cerca de 175 mil judeus na Palestina. Um aumento de 3,06 vezes em um período de 41 anos, isto é, inferior da metade do período supracitado de 90 anos.
Durante o período do nazismo a imigração para a Palestina se ampliou de forma extraordinária. Se entre 1882-1914 em média 60 mil judeus imigraram, somente no ano de 1935 foram 66.472. O consolidado do período de 1932-1945 mais de 279 mil judeus foram para a Palestina.
Já entre o período do pós-guerra e da catástrofe da fundação do estado de “Israel” em 1948 cerca de 56.467 judeus migraram para a terra palestina. Segundo o AICE havia em “Israel” em 1948 aproximadamente 600 mil judeus, já Pergola (2001) fala em 630 mil. Considerando uma média destas duas cifras, em 18 anos (1931-1948) houve um aumento na população de judeus de 2,51.
O consolidado total do período até então apontado 1882-1948 a imigração total de judeus foi de 552.857. O crescimento que isso representa, se tomado o período de 1890-1948 é de 13,3 vezes. Muito superior ao aumento de 5,14 entre 1800-1890 e ocorrido em um período menor, de 58 anos.
Chama a atenção que o número de judeus presentes na Palestina sempre esteve bastante próximo ao número de imigrantes. Reforço que este texto não considera a taxa de mortalidade e natalidade da população.
A Tabela abaixo apresenta os dados consolidados de imigração por continente de origem do imigrante.
Tabela 1 – Total de Imigração por Continente e período (1924-1945)
Anos | S/ Origem | % | América e Oceania | % | Europa | % | África | % | Ásia | % | Total | Anos Totais | |
1919-1923 | 5.222 | 14,84% | 678 | 1,92% | 27.872 | 79,22% | 230 | 0,65% | 1.181 | 3,35% | 35.183 | 4 | |
1924-1931 | 2.652 | 3,25% | 2.241 | 2,7% | 66.917 | 81,99% | 621 | 0,76% | 9.182 | 11,25% | 81.613 | 9 | |
1932-1938 | 3.989 | 2,02% | 4.589 | 2,3% | 171.173 | 86,79% | 1.212 | 0,61% | 16.272 | 8,25% | 197.235 | 8 | |
1939-1945 | 4.544 | 5,55% | 108 | 0,1% | 62.968 | 76,97% | 1.072 | 1,31% | 13.116 | 16,03% | 81.808 | 7 | |
1946-1948 | 5.828 | 10,32% | 138 | 0,24% | 48.451 | 85,97% | 906 | 1,6% | 1.144 | 2% | 56,467 | 2 |
Fonte:- Adaptado de AICE
Um ponto de conclusão desta primeira parte é que “Israel” é uma grande colônia europeia. Pela análise dos dados da tabela – dos quais temos a origem dos imigrantes judeus para a palestina -, 83,4% dos imigrantes eram europeus. Com isto, depreende-se que pela análise numérica, os responsáveis pela invasão e apropriação do território palestino, expulsão de povos árabes de sua terra, eram europeus, mais uma vez realizando um processo de colonização. Para a surpresa de zero pessoas.
Imigração após a Catástrofe (1948-2022)
Após a criação artificial do Estado de “Israel”, de acordo com o AICE, cerca de 3,149 milhões de judeus foram para as terras que “Israel” ocuparam na Palestina durante o período de 1948-2014. O crescimento neste período foi de 4,96 vezes. A população total de judeus em “Israel” em 2014, segundo o Escritório Central de Estatísticas de Israel, era de 6,219 milhões de judeus, um aumento de 9,11 vezes em relação ao período imediatamente anterior a fundação de “Israel”.
Pelos dados da AICE, somente após 1919 temos a origem de migração para “Israel”, até então a população de Judeus era de 94 mil. Realizando um consolidado por continente, dos 3.854.039 judeus que imigraram para “Israel” entre 1919-2022. Na tabela abaixo é apresentado esse consolidado:
Anos | S/ Origem | % | América e Oceania | % | Europa | % | África | % | Ásia | % | Total | |
1919-2022 | 87.929 | 2,28% | 308.368 | 8,0% | 2.441.300 | 63,34% | 524.007 | 13,60% | 492.435 | 12,78% | 3.854.039 |
Se em um primeiro momento a migração de judeus de outros continentes era pouco significativa, após a formação do estado de “Israel” ela cresceu proporcionalmente mais do que a europeia. Podemos dizer que dos mais de 3,4 milhões de judeus que imigraram entre 1948-2022 para colonizar o antigo território palestino, mais de um 1,3 milhão de judeus são provenientes da Ásia, África, América e Oceania. Aqui há antigos territórios que eram da União Soviética contabilizados como asiáticos.
A depender do local, há uma história específica que conta a razão de judeus estarem naquele território e um razoável motivo de saída. Na tabela abaixo, também baseados em dados da AICE, é apresentado os principias países de origem de judeus e outros relevantes.
Origem | Total | Obs |
Rússia/Ucrânia | 1.389.425 | |
Marrocos, Argélia e Tunísia | 364.745 | * |
Romênia | 276.985 | * |
Polônia | 174.119 | * |
EUA/Canadá | 161.755 | |
Iraque | 131.065 | * |
França | 120.263 | |
Etiópia | 95.023 | |
Irã | 81.154 | * |
Argentina | 72.531 | |
Turquia | 64.299 | * |
Iêmen | 51.551 | * |
Bulgária | 44.513 | * |
Reino Unido | 42.639 | |
Egito e Sudão | 38.046 | * |
Líbia | 36.120 | * |
Hungria | 32.961 | * |
Índia | 29.524 | * |
Checoslováquia | 24728 | * |
África do Sul | 23.886 | |
Alemanha | 20.995 | * |
Brasil | 15.563 | * |
Georgia | 12.269 | * |
Iugoslávia | 10.923 | * |
Síria | 10.254 | * |
Entre os principais países de origem de imigrantes judeus para “Israel”, temos países do oeste e do leste europeu e de população europeia. Cabe fazer um destaque, muitos países norte africanos têm uma considerável comunidade judaica, o que fez muitos fugitivos do Holocausto irem para estes países e, consequentemente, distorcendo a contabilidade. Se considerarmos o quantitativo de judeus alemães é extremamente baixo, antes da ascensão de Hitler meio milhão de judeus viviam na Alemanha, com o nazismo, 240 mil conseguiram fugir.