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Um regime de tipo colonial

Que riquezas a França rouba do Gabão?

Após ter esgotado as reservas de urânio do pais, os monopólios franceses seguem saqueando os recursos energéticos (petróleo) e minerais (manganês) do povo do Gabão

Por Pedro Lourenço

O Gabão, país que sofreu um golpe militar de características nacionalistas no dia 30 de agosto, apesar de ser territorialmente pequeno e ter uma população menor do que a de algumas cidades brasileiras, desempenha um importante papel econômico para a França.

Iniciemos a exposição informado a população oficial do país: 2.388.992. A ela, corresponde um PIB de US$21.07 bilhões. O produto interno bruto per capta, por sua vez, é estimado em US$8.820,30.

Alto para um país africano? Sim. Contudo, não podemos deixar nos enganar por esse dado em abstrato. Ele decorre, majoritariamente, das receitas advindas da exportação de petróleo, as quais são repartidas com enorme desigualdade. Os 20% mais ricos da população ganham mais de 90% dessas receitas, enquanto que cerca de um terço da população vive na pobreza, com menos de US$5,50 por dia.

Assim, apesar desse alto PIB per capta, a maior parte da população gabonesa come o pão que o diabo amassou. Nesse sentido, as estimativas mais recentes apontam que cerca de 21,5% da população está desempregada, com o país possuindo uma inflação de 4,2%.

Da mesma forma que ocorre em geral com os países oprimidos pelo imperialismo, o Gabão tem uma economia sustentada majoritariamente pela exportação de matéria-prima. Por muitos anos, o país fora conhecido pela sigla PUM, as iniciais de suas principais commodities destinadas à exportação: petróleo, urânio, manganês. Tais riquezas já eram saqueadas enquanto o Gabão era juridicamente uma colônia francesa, roubo este que continuou mesmo após a sua independência formal. No que diz respeito ao imperialismo, a França sempre foi a principal responsável por essa rapina.

O saque do urânio foi realizado por quase quatro décadas, de 1960 a 1999. As primeiras minas foram descobertas antes mesmo da independência, em 1958. Localizavam-se na cidade de Mounana, tendo sido encontradas por geologias da Comissão de Energia Atômica Francesa (CEA). Para que essa descoberta fosse explorada, os franceses criaram, no mesmo ano, a Companhia das Minas de Urânio de Franceville (COMUF).

A título de curiosidade, Franceville foi fundada em 1880, pelo explorador francês-italiano Pierre Savorgnan de Brazza, que eventualmente se tornou governador colonial. Foi ali o início da colonização francesa. Atualmente, a cidade é a terceira maior do Gabão.

Em 1968, novos depósitos de urânio foram descobertos, desta vez na região de Oklo. Acabaram por ser a maior fonte do minério. No auge do saque realizado pela França, cerca de 28 mil toneladas de urânio eram mineradas no Gabão, sendo que metade desse total advinha só das minas de Oklo.

No que diz respeito ao capital imperialista, a exploração e mineração desse metal precioso foi realizada, principalmente, através da COMUF. Esta era uma subsidiária do capital imperialista, tanto público quanto privado. O Estado francês era detentor de 25,8% da companhia, enquanto que o restante pertencia à francesa Cogema (Companhia Geral de Materiais Nucleares). Esta, por sua vez, eventualmente tornou-se a Areva NC e, então, a Orano Cycle, todas empresas controladas pelo capital imperialista francês, seja privado ou estatal.

Para aqueles que acompanharam as matérias publicadas neste Diário sobre o golpe no Níger, a Orano também é a principal saqueadora do urânio desse país.

Eventualmente, o saque desenfreado de urânio realizado pelo França resultou no esgotamento das reservas naturais do Gabão, já no ano de 1999. Deve-se frisar, no entanto, que a principal fonte de matéria prima do Gabão foi e continua sendo o petróleo.

Do total das exportações do país, cerca de 80% correspondem ao petróleo e derivados. Isto corresponde, aproximadamente, 22% do PIB nacional. O país é o quarto maio produtor na África Subsaariana, sendo membro da OPEP. Por muitos anos, a principal responsável pela exploração e extração dessa riqueza energética fora a francesa TotalEnergies (outrora Elf Aquitaine).

Estabelecida no Gabão há mais de 90, desde 1928, a empresa conta com 350 funcionários locais, produzindo entre 15.000 e 20.000 barris de petróleo por dia, de um total de 200.000.

Mas a TotalEnergies não é apenas responsável pela produção de petróleo. É também a principal revendedora de combustíveis no país, possuindo 45 postos. O volume de negócios de sua subsidiária, a TotalEnergies EP Gabon, foi de US$521 milhões em 2022.

Embora ela tenha sido, durante décadas, a principal empresa a explorar esse recurso energético, hoje o principal monopólio francês atuando no país é a Perenco, responsável pela produção de cerca de 100.000 barris por dia, aproximadamente 40% da produção nacional.

Dando amostras de que o imperialismo mantém o controle de toda a cadeia produtiva, a Perenco também controla o terminal petrolífero do Gabão, perto de Port-Gentil, o centro econômico do país.

Outra petrolífera francesa atuando lá é Maurel e Prom, sendo responsável pela exploração de jazidas menos rentáveis que aquelas exploradas pela Total e pela Perenco, demonstrando que o imperialismo, em especial o francês, busca sugar todo o petróleo do Gabão, até a última gota. Quer esgotar as reservas assim como fez em relação ao Urânio.

Por óbvio, esse roubo descarado só pode ocorrer com a conivência e corrupção de políticos locais. Nesse sentido, Ali Bongo, o presidente deposto, costumava embolsar cerca de 18% das receitas advindas do petróleo. Os franceses, por sua vez, ficavam com 57%. E o restante do país? Com apenas 25%. Um clássico caso de corrupção seguido de espoliação por parte do imperialismo.

Em seguida ao petróleo, o manganês é a segunda commodity no que diz respeito às exportações do Gabão, correspondendo a cerca de 11% do total. Novamente a maior parte da extração e da cadeia produtiva é controlada pelo imperialismo francês, sendo a Eramet o principal monopólio em atuação no país. Demonstrando a importância econômica do Gabão para a França, estima-se que cerca de 50% das importações francesas de manganês advém do país africano.

Sendo também um país de extensas florestas, outra de suas principais matérias primas exportadas é madeira, constituindo aproximadamente 9% das exportações.

Vê-se, então, que o Gabão é um país que possui muitos recursos naturais, o suficiente para que o país fosse mais desenvolvido, de forma que não tivesse 1/3 de sua população vivendo com menos de US$5,50 por dia. Contudo, como ocorre com todos os países oprimidos, os recursos naturais são roubados sistematicamente pelo imperialismo, enquanto que o povo serve de mão de obra barata para atividade dos monopólios imperialistas e para o enriquecimento pessoal de políticos locais serviçais da “metrópole”.

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