O futebol brasileiro, mesmo ainda na metade do Brasileirão, conheceu no fim de agosto seu novo campeão brasileiro: o Clube Atlético Mineiro, já bicampeão em 1971 e 2021, foi reconhecido tricampeão brasileiro graças a um torneio vencido em 1937. Aquele que passaria a ser o primeiro campeonato brasileiro na história, retornando a primazia sobre o primeiro título ao Atlético, foi realizado entre seis clubes, com todos os jogos no Rio de Janeiro, entre janeiro e fevereiro daquele ano. Participaram o próprio Atlético, Fluminense, Rio Branco/ES, Paulistano, Liga da Marinha/RJ, e Alianza/RJ.
Em sua maior parte, a torcida atleticana celebrou o triunfo, embora comedidamente, claro, visto que não há mais testemunhas vivas desde título, menos ainda ex-jogadores para contar a história. Por seu lado, sentiam ser esta a oportunidade para dar reconhecimento nacional a um time histórico do Galo, de Kafunga, Zezé Procópio, Guará, cujas duas conquistas (Campeão do Gelo e Campeão dos Campeões – este, agora, Campeão Brasileiro) integram o seu hino. Viram, também, a correção histórica de um erro, já que a consolidação dos títulos de Taça Brasil e Taça Roberto Gomes Pedroza com o Campeonato Brasileiro iniciado em 1971 mudara a disposição dos campões, tirando do Atlético a primazia de “primeiro campeão brasileiro”. Agora, ela retorna ao time de minas, visto que todos os campeonatos brasileiros anteriores a 1937, e todos até 1959, foram feitos por seleções estaduais, nalguns dos quais Pelé jogou pela Seleção Paulista.
Torcedores e pessoas ligadas a outros clubes reagiram negativamente, assim como a grande imprensa. Uma discussão excessivamente regada a hipocrisia, visto que todos reivindicariam um título se assim o pudessem. Os flamenguistas, até a presente data, insistem em afirmar que o torneio dos ricos que ganhou nome de Copa União em 1987, e que excluiu clubes do interior e das regiões mais pobres do país (rebaixando o vice-campeão do ano anterior, o Guarani/SP, o quarto do ano anterior, o América/RJ, e o campeão 1985, o Coritiba), é o campeão brasileiro daquele ano. O Sport Club Recife, que venceu disputa por pênaltis com o Guarani e aceitou testar seu título com o Flamengo, campeão da Copa União, não pôde fazer o jogo final e foi declarado campeão por W.O. A confusão foi parar no STF, onde o Sport foi declarado campeão.
Com decisões como a consolidação dos torneios pré-Brasileirão como Campeonato Brasileiro, e como a confusa história do campeão de 1987, qualquer clube que tenha alguma conquista de âmbito nacional e queira equivalê-la a título brasileiro terá alguma ressonância. Se terá êxito ou não, é outra história, mas esse precedente aberto pela CBF desde 87, quando da Copa União, e 2010, quando da consolidação facilita o caminho para qualquer reivindicação.
Em que pese o dado folclórico, de um país onde o futebol procura campeões quase que por arqueologia, o problema desse tipo de procedimento pode ocorrer se, de alguma maneira, isso começar a interessar aos europeus. E se os europeus, depois de tomar de assalto o futebol de clubes com o poder econômico, e desequilibrar a situação das seleções com a nacionalização de africanos (vide a nova vedete, Lamine Yamal, espanhol nascido de marroquino e equato-guineense), resolverem equivaler às conquistas internacionais de seleções do século XIX para trás a Copa do Mundo? Somando um ou outro torneio de três ou quatro equipes, aqui e ali, a Escócia e a Inglaterra ultrapassariam o Brasil em títulos, restando conquistas até para as Índias Orientais (hoje, Indonésia).
Melhor que isso fique sendo apenas uma jabuticaba brasileira. Sendo assim, viva o Clube Atlético Mineiro, Tricampeão Brasileiro – 1937, 1971, 2021.