Previous slide
Next slide

Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Atual

Qual é o ponto de vista?

Assistir ao filme no é perceber questões políticas complexas. Buñuel mostra que Mathieu, como o escravocrata Bento Santiago, é um homem horrível, mas, não é fácil perceber isso

Recentemente assisti a um filme do Luis Buñuel chamado Esse Obscuro Objeto de Desejo (Cet obscur objet du désir, 1977). Esse filme foi o último da carreira desse brilhante cineasta espanhol. O tema que escolheu foi recorrente em sua obra e trata-se da representação crítica à classe dominante.

O filme é um exercício sobre a forma cinematográfica, em especial o uso de técnicas para representar ponto de vista. Aqui, Buñuel usa o flashback, que na literatura seria o equivalente à narrativa em primeira pessoa, para marcar o ponto de vista do personagem principal, um homem rico de meia idade.

Em meio às turbulências políticas do final da ditadura franquista, o personagem conta, para estranhos em uma viagem de trem da Catalunha a Paris, a história de sua paixão pela jovem Conchita, uma empregada doméstica.

Nós brasileiros temos muita sorte de ter, entre os gênios da literatura, Machado de Assis, que exercitou o ponto de vista como um mestre e nos deixou lições incomparáveis. O leitor de D. Casmurro enxerga no protagonista Mathieu Faber (Fernando Rey) um espécie de Bento Santiago moderno.

O objetivo do cineasta é questionar a adesão do público à história de Mathieu. Mais do que isso, se entende o ponto de vista do personagem como o ponto de vista do filme e, até mesmo, o ponto de vista do diretor. Sim, são coisas diferentes.

Ao longo do filme, Buñuel dá inúmeras pistas da falibilidade do narrador. Um dos principais artifícios é usar duas atrises para interpretar Conchita (Carole Bouquet e Ângela Molina), o que também lembra o surrealismo.

A presença das duas atrizes é um indicador de que o narrador não é confiável, visto que ele varia a descrição da amante, que ele classifica como uma infiel, prostituta, falsa e interesseira.

Assistir ao filme no atual momento histórico é perceber questões políticas complexas. Obviamente, Buñuel mostra que Mathieu, como o escravocrata Bento Santiago, é um homem horrível.

Mas, não é fácil perceber isso. Na maioria dos casos, as pessoas oscilam em aceitar que Conchita é uma mulher falsa (ponto de vista de direita) ou avaliam que o filme é machista ao representá-la como falsa (ponto de vista da esquerda identitária).

Nos dois casos, poupa-se a crítica à classe dominante, o verdadeiro foco do filme.

Nada mais atual.

*A opinião deste colunista não reflete, necessariamente, a opinião do Diário Causa Operária

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.