No artigo Conferência do clima é balcão de negócios de petroleiras e mineradoras, um cidadão que responde pelo nome de Jeferson Choma critica a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023, a COP28, por servir apenas como fachada para que governos pouco preocupados com o “meio ambiente” tratassem de negócios. Sua primeira acusação é dirigida contra o sultão Ahmed Al Jaber, presidente da Conferência e pessoa cuja foto ilustra o artigo Jeferson Choma, que foi publicado pelo jornal Opinião Socialista, do Partido dos Trabalhadores Unificado (PSTU):
“A COP-28 foi presidida por um dos principais homens do petróleo no mundo, o executivo Sultan al-Jaber, CEO da ADNOC, estatal petroleira dos Emirados. Antes da abertura da COP-28, a BBC e o Centre for Climate Reporting, do Reino Unido, apresentaram documentos mostrando que Al-Jaber se aproveitou das negociações climáticas para defender os interesses da petroleira ADNOC e celebrar possíveis acordos com outras empresas”.
Chamar Al Jaber de “homem do petróleo” é uma acusação moralista que servirá mais à frente para o PSTU atacar o presidente da COP28, como veremos em seguida. Por ora, destaquemos os tais “documentos” que teriam comprovado que Al Jaber, de uma maneira maléfica, teria se aproveitado do evento para “defender os interesses da petroleira ADNOC [Companhia de Petróleo de Abu Dábi]”. Conforme dá o PSTU dá a entender, Al Jaber teria cometido um crime, atuado de maneira ilegal – faltou pouco para que Opinião Socialista o chamasse de “corrupto”.
Acontece que o máximo que a reportagem da BBC, que vazou os tais documentos, mostra é que Al Jaber, como presidente da COP28, na medida em que teve de se reunir com autoridades de diversos países para planejar o evento, aproveitou as circunstâncias para discutir temas de interesse da petroleira que dirige. Algo que, no máximo, seria considerado antiético, mas cujo grande crime atribuído pelo PSTU e pela BBC seria o de estar sendo “hipócrita” porque, teoricamente, a exploração de petróleo estaria em total contradição com a preservação do meio ambiente.
Que essa é a grande preocupação do PSTU, ficaria ainda mais claro no trecho seguinte:
“Na COP do petróleo, Al-Jaber também se revelou um negacionista. Disse que ‘não há nenhuma ciência, nenhum cenário que diga que a eliminação progressiva dos fósseis é o que vai atingir 1,5º C’. Para o presidente da COP, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis levaria o mundo ‘de volta às cavernas'”.
O que o PSTU quer demonstrar, portanto, é que o presidente da COP28 seria um inimigo do “meio ambiente”, uma pessoa tão obcecada por seus negócios que estaria ignorando o que diz a ciência. No entanto, a acusação de “negacionista” do PSTU não passa da repetição do que diz a ONU e a imprensa capitalista. Al Jaber, como ele próprio fez questão de dizer em seguida, não “nega” a ciência. Ele próprio é engenheiro e diz “respeitar a ciência”. O que ele disse é algo que deveria ser considerado senso comum: não há, hoje, prova científica de que a queima de combustíveis fósseis provoquem, de maneira significativa, alterações climáticas no mundo.
O que faz Opinião Socialista ao acusar Al Jaber de “negacionismo” não é defender o “meio ambiente” – é, no final das contas, defender o programa econômico e militar do imperialismo para os próximos anos. Quem queria forçar a eliminação da produção dos combustíveis fósseis na COP28 eram os países ricos – o que, inclusive, foi denunciado pelo próprio Al Jaber em entrevista:
“O mundo vai continuar precisando de fontes de energia, e nós somos os únicos no mundo que têm descarbonizado seu próprio petróleo e seu próprio gás. (…) Eu não ouço vocês falarem com os noruegueses da mesma forma como falam conosco”.
Como disse Al Jaber, não há “ciência” – isto é, evidência científica – que permita um debate sério sobre os efeitos da ação humana sobre eventuais alterações climáticas no planeta. No entanto, o que há de muito concreto é o interesse dos países mais ricos em impedir que países como o Emirados Árabes Unidos – de onde é Al Jaber -, o Irã, a Venezuela e o Brasil explorem o seu petróleo. Hoje em dia, dos quinze maiores produtores de petróleo do mundo, apenas os Estados Unidos e a Noruega são países desenvolvidos. E entre os países dessa lista, vários têm uma posição francamente hostil aos Estados Unidos, como é o caso da Venezuela, da China, da Rússia e do Irã. O fato de que a produção de recursos naturais está cada dia mais passando para as mãos dos países atrasados fará com que, em um futuro próximo, a indústria dos países desenvolvidos seja refém dos países atrasados, o que levaria a economia dos primeiros a um colapso.
O PSTU, no final das contas, está apenas assinando embaixo da campanha histérica produzida pelo imperialismo para tentar sufocar a economia dos países atrasados. Está se colocando, portanto, como um papagaio dos países ricos em sua campanha para que os países oprimidos não se desenvolvam.