O ataque do Hamas contra os israelenses ocorrido neste último sábado (7) reacendeu em certos grupos a coragem de se opor ao imperialismo. Coragem esta que vinha faltando em eventos anteriores, como a vitória do Talibã no Afeganistão, a iminente derrota do imperialismo na Ucrânia e os golpes militares nacionalistas nos países africanos. É o caso de grupos como o PSTU, partido que enviou um comboio para apoiar a Ucrânia e que se posicionou contra o Talibã e os nacionalistas africanos que impuseram uma derrota ao imperialismo francês.
É claro que é um apoio acanhado. O agrupamento não tem coragem de apoiar incondicionalmente o Hamas, expressando apenas uma “solidariedade à Palestina”. Também não apresenta uma política para solucionar a situação da região. É aí que se vê o que causa a falta de costume de se opor ao imperialismo.
Os militantes do PSTU estiveram presentes na manifestação ocorrida em São Paulo na terça-feira (10), onde a própria Vera Lúcia – ex-candidata do PSTU à presidência da república –falou ao microfone. Como não poderia deixar de ser diferente, o PSTU – com todo seu espírito oportunista e golpista – se aproveitou da situação para desferir um ataque contra Lula e o PT. O ataque dizia respeito à fala publicada no Twitter do presidente Lula, que classificava a ação do Hamas como um “ataque terrorista”, numa tentativa de expressar a tradicional política pacifista do PT, mas que foi muito mal colocada. Pouco depois, o PT soltou uma nota oficial em que se posiciona de forma mais clara, criticando a violência praticada pelos dois lados. A posição continua sendo muito ruim e Lula deve ser criticado por isso, mas é preciso saber diferenciar a crítica do oportunismo golpista.
Durante sua fala, Vera Lúcia, afirmou que o governo Lula “apoiava o Estado de Israel”, o que é uma extrapolação absurda. E chegou a dizer que “era hora de se levantar contra o presidente Lula”, que seria “um governo da burguesia” e não mereceria nenhuma confiança dos trabalhadores. Embora o PSTU tenha se posicionado ao lado do imperialismo em diversas outras questões onde Lula se mostrou muito mais progressista, como na questão do governo cubano, venezuelano e da Nicarágua – todos classificados pelo PSTU como “ditaduras”, aos moldes do que manda a imprensa burguesa, eles se consideraram na posição de procurar ensinar ao PT e ao Lula qual a posição a ser adotada nessa questão específica.
Dizer que seria a hora de se levantar contra o governo Lula já demonstra qual a intenção de toda essa farsa. O PSTU se aproveita do erro de Lula para defender a posição preferida da burguesia e do imperialismo no Brasil. Defender a derrubada do governo Lula é defender o golpe de estado e a tomada do poder pela direita no Brasil. Não é nenhuma novidade, visto que em 2016, o PSTU também defendeu a mesma posição contra o governo Dilma.
O governo Lula, embora defenda posições erradas e absurdas, não pode ser classificado, como procura fazer o PSTU, como um governo na mesma linha de Bolsonaro e Michel Temer. Apesar de todos os problemas, Lula foi eleito com apoio de toda classe operária e em oposição aos interesses do imperialismo, da maior parte da burguesia nacional e dos militares golpistas no Brasil. Foi uma vitória, embora parcial, da luta da classe trabalhadora no Brasil e foi uma vitória da luta contra o golpe. Luta essa que o PSTU não compreende em nada, pois apoiou o golpe até o final e segue apoiando até hoje.
É evidente que o levante dos palestinos e a ação do Hamas devem ser defendidas de forma intransigente por toda a esquerda nacional e por todos no mundo que consideram importante a luta contra a opressão e o esmagamento da população. No entanto, é preciso lembrar que essa ação é uma consequência direta das derrotas sofridas pelo imperialismo em períodos anteriores, como a derrota sofrida no Afeganistão, na Rússia e nos países africanos. O enfraquecimento do imperialismo encoraja a população de todos os países a se levantarem e a lutarem contra seus algozes. O Hamas demonstrou que Israel não é invencível, mas isso foi após o Talibã demonstrar que os EUA não são invencíveis, depois que a Rússia demonstrou que a OTAN não é invencível e depois que Níger, Burquina Faso, Gabão e outros países africanos demonstraram que o imperialismo francês não é invencível.
A luta pela libertação da Palestina é uma luta anti-imperialista e deve ser encarada como tal. Ela tem uma relação direta com as outras lutas. O golpismo da esquerda pequeno-burguesa é contraditório com essa política. No que diz respeito ao Brasil, a luta é procurar impulsionar o governo Lula à esquerda, através da pressão e da mobilização da classe operária. Nesse sentido, é totalmente válido cobrar do governo um posicionamento pró-Palestina no que diz respeito ao conflito e à ação do Hamas. No entanto, é preciso levar em consideração que o imperialismo tem como plano para o Brasil a derrubada do governo Lula para colocar em seu lugar um governo pró-imperialista puro sangue. Também é parte da luta da esquerda se posicionar contra esse golpe que cada vez mais se coloca na ordem do dia no Brasil.