Em mensagem postada em seu perfil do X (antigo Twitter) nesse domingo (17), uma simples frase de Elon Musk contribui para fazer desabar o castelo de propaganda da imprensa imperialista e pró-imperialista, de que a Ucrania ainda teria chances de ganhar a guerra contra a Rússia.
“Tanta morte em troca de tão pouco” foi a postagem de Musk. Uma resposta à postagem do investidor David Sacks, que compartilhara um artigo de David Pyne dizendo que “Os ganhos territoriais ucranianos da sua tão alardeada contra-ofensiva são tão minúsculos que mal se consegue vê-los em um mapa”.
E estão certos. Apesar de toda a propaganda midiática que a imprensa imperialista e pró-imperialista fez da contra-ofensiva, o resultado deste foi apenas a morte de 71 mil ucranianos (número oficial, sendo provavelmente muito superior) desde o início da aventura militar, em junho de 2023. Nenhum ganho territorial significativo. Nenhuma mudança no equilíbrio de forças, de forma que Rússia ainda mantém um controle sobre a situação, sobressaindo-se militarmente tanto sobre os ucranianos, quanto sobre os soldados do imperialismo (mercenários ou não).
Desde o início, a guerra consistiu no povo ucraniano sendo utilizado como bucha de canhão contra a Rússia para atender aos objetivos políticos e econômicos do imperialismo (em especial o dos Estados Unidos) na região do leste europeu.
Mas se a contraofensiva se mostrou um fracasso desde o início, culminando na morte de dezenas de milhares de pessoas, em especial no moedor de carne de Artyomovsk (Bakhamut), gerando mais recrutamentos forçados e instabilidade política na Ucrânia, por que a imprensa continua a veicular notícias da guerra sob o ângulo de que a situação ainda pudesse ser revertida militarmente, resultando em uma derrota militar da Rússia?
Trata-se de uma manipulação da realidade a serviço dos interesses dos Estados Unidos. Uma clara propaganda de guerra, a fim de contribuir para a continuidade da mesma? E por que o imperialismo ainda deseja a continuidade da guerra? Por vários motivos.
Primeiramente, não parece ser possível que os territórios do leste da Ucrânia, liberado dos nazistas pelos russos, voltarão a ser territórios ucranianos. Já em 2014, logo após o golpe do Euromaidan, arquitetado e comandado pelos EUA, a população do Donbass realizou referendos populares em que a maioria esmagadora da população não reconhecera a autoridade do governo golpista de Kiev.
Assim, caso seja feito um cessar-fogo ou mesmo um acordo de paz, finalizando a guerra, o imperialismo sairia como perdedor. Se a derrota no Afeganistão em 2021 ocasionou um enorme enfraquecimento do imperialismo norte-americano, uma derrota definitiva na Ucrânia seria um golpe ainda mais forte.
Em segundo lugar, com a continuidade da guerra, os EUA pretendem que o governo Putin se desgaste com o povo Russo. Afinal, guerra não é algo quisto por ninguém (salvo os falcões imperialistas). O desgaste teria como finalidade gerar instabilidade política, de forma que o imperialismo possa intervir no gigante do leste europeu para derrubar o governo nacionalista de Putin, colocando um capacho do imperialismo no lugar. É sempre bom lembra também que, no meio desse processo, uma balcanização da Rússia não está descartada. Aliás, seria o ideal para os EUA, pois, fragmentada em inúmeros países pequenos, a região seria mais fácil de se controlar.
Por fim, o imperialismo norte-americano busca prolongar a guerra e a destruição da Ucrânia a fim de depois aparecer como o salvador do país, oferecendo bilhões de dólares para a reconstrução. Mas, em troca, forçar sobre os ucranianos absolutamente todas as “reformas” neoliberais que ainda não foram implementadas pelo governo golpista saído do Euromaidan. Em outras palavras, utilizam a guerra para eventualmente chantagearem o povo ucraniano a se tornar um escravo da política neoliberal. É a “doutrina do choque” sendo colocada em prática, doutrina esta que fora descrita pela jornalista Naomi Klein em seu livro de mesmo nome.
E isto que está por trás da propaganda imperialista de que a Ucrânia está conseguindo importantes resultados em sua contra-ofensiva, recuperando territórios outrora perdidos.
Nesse sentido, recente reportagem a imprensa brasileira pró-imperialista noticiou que o exército ucraniano teria recuperado um vilarejo perto de Bakhmut. Alardeiam isto como se fosse algo significativo, o prelúdio de uma reviravolta para cima dos Russos.
Mas é mera propaganda de guerra pelos motivos citados acima. Felizmente (para os povos oprimidos de todo o mundo), a Rússia continua mantendo o controle sobre a situação, desgastando o imperialismo a cada dia que passa. Infelizmente, a propaganda permite que o imperialismo continue a sacrificar ucranianos por nada, ao mesmo tempo em que mantém a demagogia de que os russos são maus e que o oeste age para proteger a Ucrânia, sem que isto gere uma profunda instabilidade política nos países imperialistas.