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Imperialismo do gás e petróleo

UP se junta aos capachos do imperialismo na questão da África

O problema dessa posição não é simplesmente a falta de embasamento teórico, mas a conclusão a que ela aponta: de que não devemos apoiar a luta contra a ditadura global

Em uma tentativa de analisar os mais recentes eventos do continente africano, o jornal A Verdade, órgão do partido Unidade Popular (UP), repete a posição de praticamente todos os esquerdistas pequeno-burgueses, em especial os setores mais próximos do imperialismo, que apontam a existência de um imperialismo norte-americano, europeu e também russo. Na interpretação da UP, “apesar dos governos militares que assumiram o poder em Níger, Mali e Burkina Faso, assumirem um discurso ‘anti-imperialista’ e contrário à dominação francesa, ao mesmo tempo, se alinham com o imperialismo russo e trabalham para garantir seus interesses na região” (“Disputa interimperialista está por trás dos golpes militares na África Ocidental”, Felipe Annunziata, 14/8/2023). Ora, naturalmente os russos têm interesses no que acontece na região, como todos os países oprimidos deveriam. O que o artigo entrega ao campo da suposição é quais são esses interesses?

Sendo sufocada pelo avanço da Otan desde a implosão da União Soviética, a Rússia se viu em uma situação limite diante da ofensiva do imperialismo real. Ou reagia às provocações em suas fronteiras, ou acabaria repetindo um grave erro de cálculo cometido pelo stalinismo, que acovardou-se diante do nazismo e terminou enfrentando a mais sanguinária e destrutiva guerra já vista pela humanidade. Com muita dor e sofrimento, os russos descobriram que ter nazistas às portas do país é uma ameaça demasiadamente grande para ser ignorada.

Dado o sucesso da campanha de desnazificação da Ucrânia, os russos sentiram o terreno favorável para lutar contra seus opressores justamente na África, onde a barbárie da ditadura global atingiu sua máxima truculência e por isso mesmo, onde a reação é a mais intensa atualmente. O artigo de A Verdade leva a crer que os russos estão disputando o controle da África, mas ignora (ou esconde) a realidade de que as forças russas são muito menos numerosas. Vejamos o que diz o próprio imperialismo:

“Segundo documentos obtidos pelo site The Intercept, em 2019 os Estados Unidos possuíam 29 bases localizadas em 15 países ou territórios do continente africano.

Outra força com grande presença é a França. O país europeu, que no passado colonizou territórios onde hoje ficam Argélia, Senegal, Chade, Mali, Benin, Sudão, Gabão, Tunísia, Níger, Congo, Camarões e Costa do Marfim, mantém bases no Djibouti, Gabão, Senegal e Costa do Marfim.

Tropas do Reino Unido também estão presentes em países como Djibouti, Malawi, Nigéria, Serra Leoa, Somália e Quênia. Neste último, o governo britânico mantém um centro de treinamento permanente, onde são realizados exercícios militares anualmente.” (“Rússia: por que a África está se tornando campo de batalha entre Putin e Ocidente”, Julia Braun, BBC, 16/8/2023).

Enquanto isso, do lado russo: “Acredita-se que o grupo russo [Grupo Wagner] tenha agora mil soldados no país, embora os militares neguem sua presença.” (Idem). Um dos mais importantes órgãos de propaganda do imperialismo, a rede britânica BBC reconhece que se há uma ofensiva do “imperialismo russo” contra as posições do imperialismo verdadeiro, ela se dá em condições militares muito mais desfavoráveis aos russos. Duas hipóteses restam disso: ou os militares russos são muito mais habilidosos do que os das três principais potências imperialistas do mundo, que contam com recursos bélicos, financeiros e humanos imensuravelmente superiores, ou os russos estão simplesmente apoiando um movimento de massas nos países do Sahel, contra o qual EUA, Reino Unido e França nada conseguem fazer.

Essa hipótese, no entanto, é ignorada pelos esquerdistas da UP, que ao fazê-lo, evidenciam um desconhecimento absurdo do que seria o imperialismo. Grosso modo, o conceito refere-se ao conjunto de nações cujo desenvolvimento capitalista atingiu sua plenitude até a década de 1870 e que depois viram a evolução do capitalismo levá-lo a um novo patamar, onde monopólios dominam a economia e a política desses países, e por extensão, do resto do mundo, onde os países de desenvolvimento capitalista atrasado são a quase totalidade.

O próprio texto reconhece que o “imperialismo russo” seria o mais curioso fenômeno do gênero no mundo: o do país capitalista atrasado, que não desenvolveu o capitalismo plenamente, a ponto de sua inserção no mercado mundial dar-se não por meio de sua indústria, mas da extração de suas matérias-primas para o consumo dos países desenvolvidos. “Não é à toa que o imperialismo russo tem atuado na região. A dominação destes territórios pelos russos significa uma dependência ainda maior da Europa em relação ao gás e petróleo da Rússia”, escreveu A Verdade.

Eis o “imperialismo russo”, um imperialismo de tipo boliviano, dependente da venda de gás aos vizinhos mais ricos. Em um certo aspecto, não muito diferente das nações africanas, que tal qual a Rússia, tem na exportação de seus recursos naturais a grande fonte de riqueza nacional, dado a inexistência de uma indústria de transformação capaz de reter os recursos para proveito próprio. Eis também a fonte de recursos capazes de impor derrotas militares e políticas acachapantes aos três países mais poderosos do mundo: gás e petróleo brutos.

O problema dessa posição não é apenas a falta de embasamento teórico, mas a conclusão a que ela aponta. Sendo uma guerra “interimperialista”, como escreve A Verdade, o levante dos povos africanos do Sahel apoiadas pelos russos não deve ter simpatia dos trabalhadores, por ser uma mera substituição dos opressores (na interpretação dos esquerdistas, claro). O problema dessa posição não é simplesmente a falta de embasamento teórico, mas a conclusão a que ela aponta: de que não devemos apoiar a luta contra a ditadura global

Como não há uma terceira força em ação na África, o artigo revela-se uma defesa velada do imperialismo real (EUA, RU e França) no continente. O levante deve sim ser apoiado pelos trabalhadores, assim como o apoio russo, uma vez que se trata uma ação combinada contra um inimigo comum: o verdadeiro imperialismo, que se conseguir manter suas posições na África, ficará mais forte para atacar a Rússia em suas bases no Leste Europeu, a China e também o Brasil, que já tem uma mira sobre a Amazônia. Contra esse inimigo, os povos oprimidos podem sim ajudar-se a combater seus opressores.

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