Editorial do Zona do Agrião para o Jornal Partido
O Globo Esporte confirmou a saída do português Luis Castro do comando do Botafogo. Ele aceitou a proposta do clube saudita Al Nassr, de Cristiano Ronaldo. Castro abandona o Glorioso após deixá-lo, de forma surpreendente na liderança do Campeonato Brasileiro, com folga de sete pontos à frente do vice-colocado, o Grêmio.
A última partida do português foi contra o Magallanes na noite dessa quinta-feira (29), pela Copa Sul-Americana.
A saída de Luis Castro revela muito sobre o caráter dos treinadores portugueses no Brasil. A proposta do Al Nassr é de duas temporadas, com salário de 6 milhões de dólares (R$ 29 milhões) livres de impostos por ano, além de uma mansão avaliada em R$ 13 milhões se cumprir o contrato até o final.
Não adianta atacar, como a imprensa faz, os sauditas pelos valores exorbitantes. Quando são os europeus roubando nossos jogadores, ninguém fala em fair play financeiro. Agora que são os sauditas… o futebol tem que ser “justo”. Os sauditas estão investindo com seu fundo estatal para impulsionar o futebol do país, comprando jogadores renomados e treinadores. Querem, com isso, melhorar o nível do futebol nacional, em busca, no futuro, de sediar uma Copa do Mundo. É uma ação correta da parte deles.
O problema é a decisão de Luis Castro. Alguém dirá: “com uma proposta dessa, impossível não aceitar”. E, do ponto de vista financeiro, é bem verdade. Mas, como bom “mister” português, Castro chegou ao Botafogo cheio de lorotas.
A conversa mole incluía frases como “somos uma família Botafogo”, “só quem tem dinheiro tem direito a viver?”, etc. Essas frases ditas por um treinador como Vanderlei Luxemburgo repercutiriam de forma negativa na imprensa burguesa. Diriam que Luxemburgo é um treinador folclórico, até maluco. Como foram ditas por um “gringo”, Castro era elogiado, era um professor, um homem extremamente inteligente, enfim, um grande ser-humano.
Castro, no entanto, mostrou que não tem caráter. Abandonar um time que não ganha o Campeonato Brasileiro desde 1995 justamente quando o time lidera, de forma surpreendente, a competição, e é candidatíssimo ao título, é uma sacanagem. Mostra que todos os valores filosóficos defendidos pelo treinador não valem mais do que um tostão furado. No Botafogo, inclusive, Castro já ganhava valores exorbitantes para o padrão brasileiro.
É óbvio que sua saída, justamente quando o time se encaixou, vai prejudica o líder do Brasileirão. O problema não é que Luis Castro seria um bom técnico, pois não é. O problema é que o time ficará abalado: jogadores que querem ficar para serem campeões podem ser direcionados a aceitar melhores propostas de outros clubes, o time provavelmente vai demorar até se entrosar novamente, entre outras coisas.
Sem caráter, Castro continua a tendência dos treinadores portugueses, com exceção de Abel Ferreira, do Palmeiras. Jorge Jesus sacaneou o Flamengo, Vitor Pereiro sacaneou o Corinthians. Mas Castro foi pior: abandonou no meio do Campeonato Brasileiro… Eles não têm comprometimento com o futebol, querem apenas dinheiro, e se aproveitam do futebol nacional como vitrine.