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Capitulação

Por que o 8 de janeiro não foi o Euromaidan

A farsa de apontar tentativa de golpe serve para justificar o imobilismo da esquerda, que apela para a repressão contra seus inimigos.

Após o dia 8 de janeiro deste ano, com exatos oito dias do governo Lula, uma crise se abriu. Uma manifestação bolsonarista invadiu os três principais prédios governamentais de Brasília: Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal, numa demonstração de fraqueza total do governo eleito. Desde então, muito se falou sobre o ocorrido ter se tratado de uma tentativa de golpe, que foi derrotada posteriormente pela repressão a alguns cidadãos que participaram do ocorrido. Somando-se a isso, parte da esquerda caracterizou o evento como uma repetição do Euromaidan.

O Euromaidan foi uma série de protestos ocorridos em torno da praça Maidan, na capital da Ucrânia, Kiev, em 2014. Os protestos contaram com influência direta da União Europeia e dos EUA, e sua pauta se dirigia contra uma aproximação do governo daquele país com a Rússia, além de acusações de corrupção contra o então presidente. Os protestos rapidamente adotaram um caráter de oposição ao governo, o que eventualmente levou à queda do presidente e a tomada do poder por fantoches da OTAN, num regime que ficou apoiado em milícias armadas nazistas, inicialmente infiltradas nos protestos da praça Maidan para radicalizar o processo. Os protestos eventualmente se tornaram confrontos armados contra a polícia. Atiradores de elite foram utilizados para assassinar manifestantes, catalisando a revolta, tais atiradores se tratavam de agentes provocadores a serviço do imperialismo, o que escalou a situação para o conflito armado. Daquele golpe de Estado resulta a guerra hoje entre a Rússia e a OTAN, que ocorre na Ucrânia.

Comparativamente a isso, o 8 de janeiro em Brasília não possui semelhança alguma. Em Brasília, os manifestantes não contavam com sequer uma arma. Apesar de tomarem as sedes dos três poderes, não houve mais nada, eles apenas se retiraram após vandalizarem obras de arte, gabinetes, etc. Tanto é que a esquerda, repetindo a ladainha da imprensa burguesa, aponta que um golpe foi evitado após o feito, algo sem o menor sentido. Como se poderia evitar uma tentativa de golpe após ela se concretizar? Teria que haver uma luta contra o golpe e a derrubada do regime golpista instituído o que, de fato, não tem sequer um mínimo de semelhança com a realidade.

A caracterização correta do acontecimento é de que se tratou de uma tentativa de desestabilizar o governo, o que ocorreu. O presidente Lula agora atravessa uma crise iniciada com o protesto. Ainda, outro acontecimento foi a tentativa de bloqueio das refinarias de combustível pelo Brasil, um ato de sabotagem. Esses bloqueios não teriam sentido ao lado de uma ofensiva direta contra as sedes do governo, mas fazem todo o sentido caso se tratasse de uma ofensiva não para derrubar imediatamente o novo presidente, mas para enfraquecer o governo e sabotá-lo. Fica evidente a descrição acertada da situação.

A suposta tentativa de golpe também não apresentou uma liderança, uma figura central, e o ex-presidente Jair Bolsonaro se encontra fora do país.

A chamada tentativa de golpe se assemelha muito mais a outro processo político, que ocorre também em outro país mas, no caso, na Venezuela. Lá, ataques a refinarias e torres de transmissão, atos de sabotagem diversos são utilizados numa tentativa de desestabilizar o governo popular de Nicolás Maduro. O cenário se assemelha e tende a se repetir no Brasil. O governo se apoia nas instituições ao invés de nos trabalhadores. Instituições golpistas para barrar o falso golpe. Caso a situação se mantenha, a tendência é de desmoralização progressiva do governo eleito pelos trabalhadores, e até de queda do governo, mas não agora.

O 8 de janeiro pode ter tido participação do imperialismo, da CIA, tal qual o Euromaidan, mas não tal qual o Euromaidan. Aqui se reflete uma insatisfação com todo o regime político, não apenas com a presidência, e a coisa fica demonstrada pela invasão do Congresso Nacional e do STF. Ainda assim, não ocorreu por tentativa de alguém tomar o poder. Outro fato se soma a isso.

A invasão dos prédios na Praça dos Três Poderes ocorreu não pela força da manifestação, que contou com cerca de 4 mil pessoas. Ela ocorreu pela inação das forças de repressão em todos os níveis. As polícias militar e federal, e até as forças armadas, não barraram e sequer tentaram barrar os protestos de adentrar nos prédios, o que caracteriza uma organização das cúpulas de tais forças com os protestos na tentativa de desestabilizar o governo. O que apresenta um cenário sombrio, a cúpula das forças armadas se coloca frontalmente contra o governo.

A tese do golpe ignora o Ministério da Justiça, que não organizou a defesa contra a manifestação, convocada prévia e amplamente, de maneira pública, e ignora o mais importante: os generais.

A esquerda precisa encarar a realidade. É preciso organizar e mobilizar os trabalhadores para dar o enfrentamento às forças mais reacionárias do regime. Caso contrário, teremos um novo golpe em nossas mãos, e não será tão simples de resolver a situação sob a força unificada de toda a repressão.

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