Matéria “A atualidade da luta contra a extrema-direita no Brasil e no Mundo”, publicada no sítida Esquerda Online, busca fazer desse fenômeno social, mas não coloca a questão nos termos corretos, pois a extrema-direita necessita de dois fatores para florescer: o apoio da burguesia e o recuo da esquerda.
A matéria fala da importância da vitória de Lula, mas que os fascistas logo se mostraram vivos no 8 de janeiro. No entanto, é um erro de avaliação dizer que “até hoje, segue como uma força política expressiva no país, com a preservação de sua máquina de fake news”. Não que a extrema-direita não minta, mas isso não é uma exclusividade. A maior fábrica de notícias falsas é exatamente a grande imprensa, os meios de comunicação tradicionais da burguesia, que permanecem intactos.
O erro de se ressaltar a questão das notícias falsas (fake news), é que a própria direita está usando isso como um bicho-papão para amedrontar a esquerda pequeno-burguesa e com seu auxílio tenta aprovar leis draconianas.
Para os pequeno-burgueses, que caíram no conto de que foram disparos em massa que elegeram Bolsonaro, se tornou fundamental impedir a disseminação de notícias falsas e a única maneira, em tese, de se conseguir esse objetivo seria impedindo que tais notícias circulem. Isso é censura, ainda que receba o nome pomposo de ‘regulamentação’. Para a esquerda revolucionária, a única maneira de combater a mentira e trazendo a verdade, mas isso só pode ser conseguido com a liberdade de expressão, pois a censura nas redes visa, justamente, calar a esquerda.
Extrema-direita no Chile
Vejamos o seguinte parágrafo da matéria:
“A recente eleição de um Conselho Constitucional no Chile nos mostrou um resultado terrível para os que lutam por uma América Latina livre, democrática e soberana. O Partido Republicano, principal organização de extrema-direita chilena na atualidade, dirigido por José Kast – candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais (com cerca de 45% dos votos) e que já foi conhecido com o “Bolsonaro do Chile”, conseguiu uma expressiva vitória eleitoral, e “dará as cartas” na elaboração da nova Constituição no Chile, conseguindo inclusive uma maioria qualificada, a partir de uma aliança evidente que fará com representantes de outros partidos da chamada direita tradicional”.
Se houve, como diz a matéria, “um duro golpe no atual governo do presidente Gabriel Boric”, só podemos dizer que isso não passa da crônica de uma morte anunciada, pois esse governo nunca foi realmente de esquerda. Boric foi colocado no poder a partir de uma manobra. Sempre esteve alinhando com o imperialismo, pois critica a Venezuela, a Nicarágua e Cuba.
Boric, apesar de sua demagogia identitária, está reprimindo os Mapuche. Se nega a libertar os presos políticos, aqueles que lutaram nas ruas contra a extrema-direita. Agora, que a situação política está mais estabilizada no Chile, a burguesia vê que não precisa mais de sua marionete e coloca a extrema-direita novamente no jogo.
América Latina e mundo
A extrema-direita cresce na Argentina, e no Paraguai. Nos Estados Unidos também não é diferente, o trumpismo ganha força, principalmente após a campanha de perseguição que Donald Trump vem sofrendo.
Na Espanha o PP deve se unir ao Vox nas próximas eleições legislativas. Na França, Alemanha e Itália a extrema-direita também se levanta.
O aumento da extrema-direita é uma reação à deterioração da economia promovida pelo neoliberalismo, que a esquerda deveria combater. No entanto, a esquerda está até o pescoço com questões secundárias, como o identitarismo, que divide e enfraquece o movimento na totalidade; quando não abraça procedimentos da direita, como o uso do judiciário e da cadeia para resolver questões políticas; e até a defesa extremamente reacionária da censura.
Confusão
Com o avanço da crise e a esquerda se confundindo cada vez mais com a direita, muitos setores médios da sociedade e da classe trabalhadora são atraídos pelo discurso demagógico e antissistema de extrema-direita.
A forma correta de se lutar contra a extrema-direita é a esquerda retomar suas lutas históricas e a defesa dos interesses da classe trabalhadora.
Enquanto isso não acontecer, enquanto a esquerda ficar pedindo prisão para opositores, ou o cerceamento liberdade de expressão, a única coisa que se conseguirá é criar um ambiente político cada vez mais repressivo, ideal para o crescimento da extrema-direita.
