Mais uma vez um setor da esquerda se coloca a serviço do que há de mais reacionário no país, a boa e velha direita “tradicional”. Desta vez, é o PCdoB e o projeto de lei 2037/2020, que trataria de direitos autorais nas plataformas digitais. Colocado dessa maneira, não parece algo com o qual se preocuparia um “comunista”, mas tão pouco parece algo muito danoso. Não é o caso. O PL da Globo, caso aprovada, favorecerá ainda mais os grupos de comunicação monopolistas, que há essa altura todo esquerdista, com mais do que dois neurônios, já deveria saber identificar como um dos maiores propagadores da política do imperialismo no País.
“Se aprovada, a legislação favorecerá os grupos de comunicação monopolistas, forçando as empresas de tecnologia a remunerar o chamado ‘jornalismo profissional’, enquanto o isenta de pagar direitos autorais a artistas. O texto assinala que as empresas jornalísticas serão ‘livres’ para negociar com as plataformas digitais, prevendo ainda ‘negociação coletiva’. Também ‘assegura’ a ‘equidade’ na resolução de conflitos entre as big techs e as empresas jornalísticas, apontando o Judiciário como foro final. Com isso, empresas menores, como as que produzem o jornalismo independente e não dispõem de capacidade de investimento comparável à Rede Globo, por exemplo, estarão prejudicadas. Na prática, o projeto irá transferir recursos da publicidade digital, que remuneram milhares de criadores de conteúdo em plataformas como o YouTube, para os monopólios de comunicação, como a Globo, que têm maior poder de barganha.”
De maneira um tanto concisa e clara, foi assim que colocou a questão o portal Brasil 247 em reportagem publicada hoje (20) intitulada “Globo ataca Lula e PT com fake news, enquanto pressiona pela aprovação do PL da Globo”.
Se num momento a ideologia da “luta contra as fake news” dominou uma parte significativa dos veículos de imprensa de esquerda, aos poucos vai tomando contornos o que essa cruzada épica contra as mentiras seria de fato: o esmagamento dos veículos independentes de imprensa independentes em prol do restrito número de famílias que domina a comunicação nacional. E foi justamente este o aspecto que sobrou no PL 2037/2020.
Se lutar contra a mentira, ainda que um tanto infantil, pareça algo correto e bom, quando o véu cai e aparecem os monstros da Rede Globo, fica evidente a manobra. Vale lembrar que isso aparece num contexto em que os veículos de imprensa de esquerda no YouTube já foram profundamente prejudicados no “combate contra a extrema-direita”, tal qual tratado pelos companheiros Rui Costa Pimenta e João Pimenta no livro “A Era da Censura das Massas”.
De maneira um tanto concreta, existe uma luta pelo controle da difusão de informação, profundamente democratizado com a Internet. E mais uma vez, como fora na “luta contra a corrupção”, sob um pretexto, a esquerda serve como ponta de lança para a aprovar uma lei danosa numa espécie de política suicida. Se algum aloprado acreditava mesmo que a Rede Globo estava pacificada e que o governo Lula teria numa das maiores inimigas do povo brasileiro um aliado, é melhor abrir os olhos.
Se prejudicado o financiamento, e, portanto, dificultada a própria existência, de um amplo setor de veículos de imprensa da esquerda, será infinitamente mais fácil realizar a avassaladora campanha contra aquilo que o governo Lula tentar realizar de progressista.
A direita está fazendo o possível para trabalhar em prol do fechamento do regime político, e os esquerdistas pequeno-burguesa estão servindo de face pública dessa empreitada. É vergonhoso que uma deputada da esquerda, no caso Jandira Feghali, líder do PCdoB na Câmara e autora do PL, se coloque como testa-de-ferro da Rede Globo. Ela disse ao jornal o Vermelho:
“A lei do direito autoral de remuneração no ambiente digital é uma necessidade. É um reconhecimento, uma reparação dos absurdos que vêm acontecendo até aqui, dos autores serem mal remunerados e os direitos conexos não serem pagos. Então nós temos feito um imenso esforço para chegar a um termo que dê para a gente aprovar no plenário da Câmara.”
Enquanto o Brasil enfrenta um cenário de retrocesso econômico, e dezenas de milhões de pessoas dependem da caridade estatal para não morrer de fome, a líder do PCdoB na Câmara tem “feito imenso esforço para chegar a um termo que dê para a gente aprovar no plenário da Câmara.” É profundamente desmoralizante, para dizer o mínimo.