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Partido Obrero

Partido Obrero, na crise da Ucrânia, se revela pró-OTAN

Em vídeo, Partido Obrero faz uma análise de um ano do conflito na Ucrânia. Sua tática é 'atacar todos os lados', como fez o PSTU em 2016 para apoiar a direita golpista

PO um ano de Guerra na Ucrânia

Vídeo do Partido Obrero intitulado “Un año de la guerra em Ucrania” mostra que o partido também adere à OTAN. Para esconder tal fato, utiliza a mesma tática de parte da esquerda que ataca simultaneamente a OTAN e a Rússia, dizendo que o país está agindo em favor de suas oligarquias, ou que se trata de reviver uma era de ouro soviética. O vídeo é um debate entre Pablo Heller (PO – Argentina) e V. U. Arslan (SEP – Turquia).

A versão da Rússia imperialista tem sido recorrente. Essa esquerda, que se diz revolucionária, tenta fazer um paralelo histórico do conflito Rússia-Ucrânia com a I Guerra Mundial, quando os bolcheviques atacavam o governo russo, dado que se tratava de uma guerra de cunho imperialista. Não porque a Rússia fosse propriamente imperialista, mas servia aos interesses dos imperialismos inglês e francês, portanto interessava sua derrota.

A situação de hoje não é a mesma do início do século passado, exceto pelo fato de a Ucrânia estar a serviço do imperialismo americano. A Rússia é um país atrasado, mas com gigantescos recursos energéticos e minerais, além de um vasto território. O que obriga o imperialismo a tentar dominá-la.

O balanço que faz Pablo Heller deste primeiro ano é que não se vê um final para conflito, e, sim, seu agravamento. Disse haver cem mil baixas no exército russo e o mesmo número para os ucranianos, fazendo uma ressalva/crítica de que do lado ucraniano não seriam apenas de soldados vitimados, mas também civis. Só não sabemos se está contabilizando a região do Donbass, oito anos sob ataque dos nazistas.

Heller reforça sua comparação com a I Guerra Mundial por conta de esta ser também uma guerra de trincheiras, da qual temos de esperar um aumento em brutalidade. E que ambos os lados têm perdido algo em torno de mil soldados diariamente.

Esses números apresentados por Heller nos chama a atenção, pois não fazem sentido. Como a Rússia pode estar perdendo o mesmo número de soldados que a Ucrânia? Se isso fosse verdade, Zelensky não teria que ficar passando o chapéu pedindo ajuda internacional. Os russos aniquilaram a marinha, a aviação e a infantaria blindada ucranianas em menos de uma semana e ainda assim estão fazendo uma guerra cabeça a cabeça?

Para Heller, o envio de tanques Leopard e Abrams, de fabricação alemã e americana, representam um giro dentro da guerra. No entanto, isso é falso. Em 2016, os tanques Leopard foram utilizados no norte da Síria pelos turcos e logo foram aposentados, pois foram simplesmente dizimados pelos RPGs de fabricação russa.

Leopard sendo atingido por um RPG
Leopard
Tanque Leopard atingido na Síria
O que restou de um Leopard após ser atingido por um RPG

Disse ainda que Estados Unidos e Europa estão se preparando para entregar aviões de combate. Temos de esperar para ver, pois os sistemas antiaéreos ucranianos praticamente inexistem. E a Ucrânia não parece ter pessoal treinado para operar os eventuais caças.

Heller também sustenta que a duração da guerra está causando uma erosão em ambos os regimes, no que diz respeito à insatisfação popular. Se o conflito estivesse ocorrendo em solo russo, talvez pudéssemos concordar com essa suposição, mas não é o caso. Além disso, os repórteres que enviamos para a cobrir o conflito na Ucrânia, estiveram na Rússia e mostraram que a popularidade de Putin aumentou, pois os russos entendem que o conflito é uma defesa contra as agressões de outros países.

Seguindo no vídeo, Heller faz uma menção do número de greves e manifestações pela Europa e diz que os governos estão tentando encobrir que a guerra é uma tentativa de sanar as contradições do capital por meio da colonização total do terreno soviético e chinês. Para ele, a guerra não busca uma libertação nacional; se trata de conter a Rússia e, por elevação, a China. De onde conclui que se trata de uma guerra imperialista.

De acordo com Heller, a maioria da esquerda no mundo, especialmente na Europa, está apoiando a OTAN. E disse ainda que o governo russo não tem conseguido, devido a um desgaste, conversar com a esquerda; e que o capital político que vem perdendo está sendo capitalizado pela extrema-direita nacionalista.

Heller afirma que nesta guerra não existe nenhum interesse popular em jogo, nem mesmo na Ucrânia. E que a Rússia não é um baluarte de resistência contra o imperialismo. Que Putin está tratando de rememorar um nacionalismo de tempos épicos e que a luta contra o nazismo é uma mentira. E também que a Rússia é uma potência de segunda ordem tratando de defender os privilégios de uma casta.

Chegamos, pois, à defesa da OTAN. Dizer que a Rússia é um país imperialista, apesar de secundário, coloca os termos em pé de igualdade. Exime a OTAN de sua ofensiva que veio em um crescendo desde o fim do Pacto de Varsóvia.

Sobre a questão dos interesses populares, podemos citar os casos do Iraque, do Afeganistão e até mesmo da Síria. O que aconteceu com a população desses países com a ofensiva imperialista? No Afeganistão, por exemplo, os índices de pobreza saltaram de 33% para quase 78% da população. Mais de 90% da população tem algum grau de inanição. Na Síria, o PIB caiu para 20% se comparado a antes de ser atacada.

A luta da burguesia imperialista contra a burguesia russa também é luta de classes. Não é preciso que haja de imediato um apelo ‘de interesses populares’ para que haja uma guerra. As burguesias de países atrasados também são oprimidas pelas grandes potências. É um erro tentar enxergar a luta de classes apenas na contradição que se estabelece entre a classe operária e a burguesia. Ademais, se o imperialismo controla burguesias nacionais, está explorando indiretamente a classe trabalhadora desses países.

Finalizando sua fala, Heller diz que dos acontecimentos temos que tirar a necessidade de um movimento internacional de trabalhadores que parta da premissa de que os inimigos das classes trabalhadoras estão em seus próprios países. Com isso, faz referência equivocada à situação da classe trabalhadora no período da I Guerra Mundial.

De forma não surpreendente, afirma que a solução seria a derrota da OTAN, o fim do governo Zelensky e do regime ‘restauracionista’ de Putin. Uma espécie de “Fora todos” que nos acostumamos a ver na boca do PSTU.

A fala de Arslan

Neste ponto do vídeo, com a intervenção de Arslan, há o reforço de que se trata de uma guerra imperialista e que estas forçam as contradições ao extremo. Que isso acaba movimentando a própria esquerda mundial, causando a separação de uns e união de outros setores.

Arslan aborda o que seriam os princípios da guerra na Ucrânia. Para ele, se vê que a Rússia mudou de planos durante o conflito. Teria desistido de ocupar Kiev, se concentra no Donbass e na Crimeia. O que caracterizaria um fiasco militar de Putin que teve de abandonar enormes áreas conquistadas. Efeito da incompetência do exército russo no campo de batalha.

Segundo Arslan, a Ucrânia vinha se preparando para a guerra, inclusive com o auxílio dos EUA e OTAN; estaria pronta. E que Putin, como todo ditador, reuniu em torno de si um bando de aduladores que só lhe diziam coisas que queria ouvir.

Afirmou também que, inclusive, a população do Leste da Ucrânia, partidária da Rússia, não apoiou inicialmente os movimentos de Putin. Uma curiosa afirmação, pois a população do Donbass estava cobrando apoio russo desde 2014.

Arslan disse ainda que a guerra revelou o quão apodrecida estava a estrutura da oligarquia ligada a Putin, o quão inadequado era seu exército e corrupto o seu regime. Aqui, temos de perguntar: um exército que, em poucos dias, destrói completamente o equipamento de um inimigo pode ser considerado ‘inadequado’?

Em seguida, ouvimos que a Rússia está tratando de reorganizar a guerra se utilizando do batalhão Wagner, mercenários e “assassinos convictos”. Disse ainda que Putin, diferentemente de Zelensky, não consegue despertar o nacionalismo na população, o que dá aos EUA grandes oportunidades e avanços armando a Ucrânia e exaltou a qualidade milimétrica do armamento americano. Incluindo as importantes vantagens proporcionadas pelos tanques Leopard (aqueles reduzidos a pó na Síria).

É claro que não se pode subestimar o poderio bélico da OTAN, porém, as pesadas baixas que o imperialismo vem sofrendo na Ucrânia, incluindo o possível colapso do exército ucraniano, tem feito o bloco imperialista considerar a ir para o tudo ou nada.

A fala antirrussa de Arslan é impressionante, fala que está havendo uma reviravolta política contra a Rússia e que Zelensky já cogita retomar a Crimeia. Bem como, por estar encurralado, Putin pode partir para soluções de ‘outra natureza’, ou seja: uma guerra nuclear.

Fora todos

A fala de Arslan, apesar de se concentrar em atacar a Rússia, diz que a esquerda não deve simplesmente torcer pela derrota dos russos, seria preciso derrotar as burguesias locais, que é preciso criar uma alternativa real para os trabalhadores etc.

Ao que tudo indica, o modo PSTU de fazer política está mais disseminado do que esperávamos.

Chamou a atenção que os palestrantes falaram do conflito na Ucrânia como uma forma que OTAN achou de destruir a Rússia (subimperialista e oligárquica) e acossar a China. Nenhum dos dois conseguiu ver a ação do imperialismo americano colocando Alemanha e Europa de joelhos. Sequer mencionaram o atentado ao Nord Stream ou as consequências da derrota da OTAN no Afeganistão.

O que temos assistido, desde o início da operação militar russa na Ucrânia, é um abalo em diversos setores da esquerda que, sendo hostis à Rússia, não podem se pronunciar abertamente a favor do imperialismo, por isso recorrem a todo tipo de retórica, como esse ‘fora todos’ que, como vimos em 2016 no golpe contra Dilma Rousseff, é um alinhamento à direita.

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